São Paulo confirma três mortes por febre maculosa; adolescente com suspeita da doença morre em Campinas - FRONT SAÚDE

São Paulo confirma três mortes por febre maculosa; adolescente com suspeita da doença morre em Campinas

Nesta semana, o estado de São Paulo confirmou três mortes de pessoas por febre maculosa. Mariana Giordano, dentista e biomédica, de 36 anos, o namorado dela, empresário e piloto de automobilismo. Douglas Costa, de 42 anos e Evelyn Santos, de 28 anos. Os três morreram no último dia 8. Uma adolescente de 16 anos também morreu na noite desta terça-feira (13) com suspeita de febre maculosa.

As quatro pessoas estiveram presentes em um evento na fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas, interior de São Paulo. O governo de São Paulo afirmou que a fazenda vive um surto da doença e que só poderão ser realizados novos eventos no local quando ela apresentar um plano de contingência ambiental e de comunicação.

Dados

Neste ano, o Brasil registrou 49 casos de febre maculosa, segundo atualização do Ministério da Saúde na última terça-feira (13). Desse total, seis pessoas morreram.
A região sudeste apresenta o maior número de casos, com 25. Destes, oito no Espírito Santo, sete em São Paulo, seis no Rio de Janeiro e quatro em Minas Gerais.
Em 2022, foram registrados 190 casos da doença no Brasil, com 70 mortes.

Doença endêmica

De acordo com nota da prefeitura de Campinas, o município é considerado uma área endêmica para febre maculosa, e que a Secretaria de Saúde está cumprindo o papel de alertar a população sobre riscos e prevenção da doença.

Estudos

Um estudo conduzido na USP (Universidade de São Paulo), e divulgado na revista Parasites & Vectors mostra um potencial alvo para que seja desenvolvida uma vacina contra a febre maculosa.

No Brasil, o que causa a doença é a bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida principalmente pelo carrapato-estrela, comum na região do Cerrado e em áreas degradadas da Mata Atlântica.

Anteriormente, estudos do mesmo grupo da USP, sediado no ICB (Instituto de Ciências Biomédicas), já teriam mostrado que, ao infectar o carrapato-estrela, a bactéria Rickettsia rickettsii é capaz de inibir no hospedeiro um processo chamado apoptose, que é a morte programada das células do aracnídeo, e favorece o seu crescimento. Essa “sobrevida” faz com que a bactéria aumente a sua proliferação e infecte novas células.

No estudo mais recente, apoiado pela Fapesp por meio de três projetos (13/26450-2, 20/16462-7 e 21/03649-4), a ideia foi silenciar a expressão gênica da principal proteína inibidora da apoptose, a IAP (do inglês, inhibitor of apoptosis protein), com a intenção de reduzir o crescimento da bactéria e tornar o carrapato-estrela mais resistente à infecção. Para isso, a alimentação dos aracnídeos foi reproduzida em laboratório, com sangue de coelhos infectados e não infectados por R. rickettsii.

“Observamos que, independentemente da infecção, os carrapatos morriam ao se alimentar, destacando a importância da IAP para sua sobrevivência”, explica Andréa Cristina Fogaça, professora do Departamento de Parasitologia do ICB-USP e coordenadora do estudo. “Essa informação sugere algo ainda mais interessante do que apenas bloquear a infecção: é possível conter e diminuir a densidade populacional do hospedeiro.”

As taxas de mortalidade dos carrapatos-estrela nesse experimento ficaram acima de 92%. Esses resultados indicam que a alimentação do carrapato, independentemente de estar infectado, gera radicais livres que ativam a apoptose. Com a IAP silenciada, os carrapatos não conseguem sobreviver.

A importância de centrar os esforços científicos no carrapato-estrela para a criação de uma vacina contra a febre maculosa é simples: “Além de transmissor, o carrapato funciona como um reservatório de Rickettsia rickettsii no ambiente”, explica Fogaça. “Uma vez infectada, a fêmea pode fazer a transmissão para a prole, mantendo a bactéria ativa por gerações consecutivas nas populações de carrapatos.”

Outros passos da pesquisa são confirmar que a alimentação sanguínea é o fator que promove a apoptose pela produção de espécies reativas de oxigênio e, possivelmente, expandir os experimentos para outras espécies de carrapato.

Além da importância médica, com a diminuição da transmissão da bactéria para seres humanos, a pesquisadora pontua o impacto econômico que uma vacina capaz de diminuir a densidade populacional do carrapato-estrela teria na pecuária. Por ser uma espécie sem preferência de alimentação determinada, o aracnídeo afeta também outros animais que estejam à disposição, como o gado, causando anemia e marcando seu couro. Apesar de ainda não ter estimativa de valores de prejuízos para a atividade, há relatos de aumento da infestação.

Sobre a febre maculosa

Segundo o Ministério da Saúde, a febre maculosa é uma doença infecciosa, febril aguda e de gravidade variável. A febre maculosa é causada por uma bactéria do gênero Rickettsia. A transmissão ocorre, principalmente, por meio da picada do carrapato-estrela, encontrado facilmente em animais que vivem área rural como cavalos e capivaras, no entanto, qualquer carrapato pode transmitir a febre maculosa, como esses que são encontrados em cachorros.

Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, os sintomas da febre maculosa podem ser:

Febre;

Dor de cabeça intensa;

Náuseas e vômitos;

Diarreia e dor abdominal;

Dor muscular constante;

Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;

Gangrena nos dedos e orelhas;

Paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando paragem respiratória;

Fontes: Agência Brasil, G1, Folha de São Paulo e CNN Brasil