Um clínico geral registra uma foto da lesão presente na pele de um paciente. A imagem vem acompanhada de um laudo clínico, que é enviada ao dermatologista por meio de um aplicativo oficial ou outro meio que também seja seguro. Após a análise do especialista, depois de alguns dias e constatado de uma paciente com psoríase grave (uma doença inflamatória imunomediada). O dermatologista solicita um exame de sangue e um encaminhamento médico. O paciente vai à consulta com o resultado e em seguida, o dermatologista prescreve um tratamento. Graças à essa tecnologia, o paciente pode passar a ser tratado desde a primeira visita ao especialista, sem a necessidade de se deslocar apenas para receber a prescrição dos exames solicitados.
A teledermatologia conecta pacientes, postos de saúde e dermatologistas e faz uma triagem que detecta quais os pacientes que precisam de atendimento urgente e quais necessariamente precisam ser encaminhados ao médico. Este modelo está sendo cada vez mais usado na saúde pública.
Rosa Taberner, dermatologista do Hospital Universitário Son Llàtzer, em Palma, na Espanha, acredita que esta forma será implementada para especializações, mas, ao mesmo tempo, garante:
— Não substituirá a consulta presencial. Serve para dar oportunidade ao paciente que precisa de uma visita urgente ao especialista.
Consultas otimizadas
A teledermatologia foi criada para tratar mais rapidamente melanomas potenciais. O médico de atenção primária detecta que uma mancha preta crescente pode ser um caso de câncer, logo ele envia uma foto para o especialista. Geralmente, a direção do posto de saúde poderia fazer o encaminhamento ao especialista, mas a teledermatologia agiliza esse processo. Taberner resume: “O sistema se torna mais justo e menos saturado.”
É intuitivo pensar que a tecnologia está a serviço dos casos mais graves e está, mas também ajuda um paciente com psoríase altamente controlada a reduzir suas quatro ou cinco consultas anuais ao dermatologista.
— É muito útil para o acompanhamento. Vejo os exames e renovo o tratamento — diz Taberner, que conclui: — É tão importante para os casos mais graves como para os mais brandos.
O sistema distribui o tempo de maneira mais produtiva. As consultas não são iguais: um paciente pode ser atendido por 30 minutos, já outro, por três. Nem todos são atendidos nos 10 ou 12 minutos estipulados.
Tecnologia, mas também treinamento contínuo
Pelo outro lado da linha invisível entre os profissionais de saúde está Juan Jurado, clínico geral de um centro de saúde em Valladolid, na Espanha. Jurado aponta a chave para que o encaminhamento ao especialista — e o uso da teledermatologia — seja o mais preciso possível: “Treinamento”.
À frente da Dermatologia na Sociedade Espanhola de Médicos Gerais e de Família, há anos ele faz orientação aos colegas para que possam investigar um possível caso de câncer e depois enviar uma foto ao dermatologista para que possam atuar no caso rapidamente, ou então fazer o diagnóstico de um tipo de psoríase muito rara. Nesse caso, trata-se de fazer uso certo da tecnologia, e não somente porque é mais rápido de se recorrer a essas consultas de maneira descontrolada.
Jurado está familiarizado com o uso do dermatoscópio (um dispositivo para estudar lesões de pele) e com a obtenção de imagens. Ele faz as fotos de todos os pacientes com o seu consentimento. As imagens são carregadas em um repositório de documentos clínicos e logo são removidas dos terminais. Seu posto médico aguarda para receber dois aparelhos celulares para tirar fotos com câmeras mais potentes.
Longo caminho pela frente
Essa forma de diagnóstico remoto ainda está em estágio inicial. Comunidades autônomas na Espanha desenvolveram aplicativos para enviar imagens, outras lançaram programas-piloto e algumas criaram um repositório seguro de imagens, parecido com uma nuvem, ao qual médicos de atenção primária e dermatologistas possuem acesso.
Os avanços tem ritmo descentralizados. Cada região e cada posto de saúde tem seus próprios ritmos. Em alguns casos, a pandemia acelerou, mas em outras situações, desacelerou. As mudanças são investimentos caros, não só financeiros, mas também com relação ao tempo e treinamento, além de coordenação entre os médicos.
David Trigos foi diagnosticado com psoríase em 1998, quando tinha 19 anos. É um paciente complexo devido às falhas que ocorrem em seu tratamento e comorbidades em forma de lesões articulares causadas pela doença inflamatória.
De acordo com a associação Acción Psoriasis, a psoríase atinge 2,3% da população espanhola. A expressão mais visível desta enfermidade são os flocos ou placas brancas ou vermelhas na pele, que também afeta a qualidade do sono, estado emocional além de aumentar as chances de sofrer de doenças cardiovasculares, diabetes ou excesso de peso.
Trigos já foi a consultas por teledermatologia.
— Em caso de surto, ajuda a receber o tratamento correto mais rapidamente — afirmou o paciente.
A psoríase é caprichosa e imprevisível, pode aparecer ou sumir motivada por alguns dias de estresse, por hábitos de vida menos saudáveis ou por causas desconhecidas pelo paciente. O espanhol de 43 anos, que defende uma combinação de teledermatologia e consulta presencial, acrescenta: “Ainda é possível implementar mais e melhor.”
Trigos é vice-presidente da Euro-Pso, federação europeia que reúne associações dos pacientes com psoríase. Assim como os médicos consultados, ele reconhece a importância da teleconsulta para pacientes graves ou em situações de urgência. E enfatiza outro aspecto que melhora a vida de qualquer paciente:
— Quando você está viajando, a teledermatologia deve ser utilizada para ter acesso ao seu médico de onde você estiver.
Como apontou o dermatologista Taberner no caso dos pacientes com a doença controlada, Trigos ressalta na mesma direção:
— As pessoas não querem ir ao hospital ou ir menos vezes possível. E, se for imprescindível, é preferível unificar as consultas para o mesmo dia.
A tecnologia ajuda. As unidades de psoríase que existem em alguns hospitais agrupam dermatologistas especializados, reumatologistas para casos de artrite psoriásica (entre 0,3% e 1% da população sofre desta enfermidade), psicólogos e enfermeiras. Por meio dessas formas, é possível facilitar a vida de quem que já passou por tantas dificuldades.
Fonte: O Globo
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