Compartilhado por milhões de pacientes que passaram pela fase aguda da doença e que agora apresentam sequelas, a chamada Covid longa afeta até mesmo pessoas que tiveram sintomas leves. Diante das incertezas sobre os procedimentos específicos, a ciência busca novas possibilidades de tratamento para a Covid-19 e também variantes. Uma possibilidade para reverter esse quadro é a utilização da Cannabis medicinal.
O estudo clínico no Brasil com canabidiol para o tratamento de pacientes com Covid longa será coordenado pelo Instituto do Coração, em São Paulo. A pesquisa, com duração prevista de três meses, contará com a participação de 290 pacientes que apresentaram fadiga muscular, insônia, ansiedade, depressão e alterações cognitivas por pelo menos noventa dias após o diagnóstico.
“É fundamental afastar o efeito farmacológico do canabidiol do recreativo. Acreditamos que o efeito anti-inflamatório da substância ajude a controlar a tempestade de citocinas que pode ocorrer em pacientes com Covid e possivelmente atenuar os sintomas mais persistentes”, diz o cardiologista Edimar Bocchi, diretor do Núcleo de Insuficiência Cardíaca e Dispositivos Mecânicos para Insuficiência Cardíaca do Instituto do Coração, de São Paulo.
Com 198 milhões de consumidores no mundo, no Brasil representando 1,5 milhão, a maconha é a mais popular das drogas. Restrita ou ilícita na maioria dos países, ela é também a mais estudada para uso medicinal. A planta possui diversos fitocanabinoides, sendo os mais conhecidos o canabidiol (CBD) e o THC, que interagem com receptores presentes no organismo.
Há outro teste clínico semelhante em andamento nos Estados Unidos. Os ensaios são importantes porque buscam comprovar o que já foi observado na prática clínica e em laboratório.
O composto de maior interesse dos cientistas é o canabidiol, encontrado em pequeno volume no caule e na folha da erva Cannabis. Ele não é psicoativo em tóxico. Não causa dependência nem altera o raciocínio. Mas, em níveis controlados, até mesmo o THC, responsável pelo efeito psicoativo da planta, tem benefícios farmacológicos.
Um estudo publicado na revista Frontiers in Paharmacology mostrou que o composto atenuou a inflamação nos pulmões de cobaias , resultando em 100% de sobrevivência. Testes em laboratório mostram que os canabinoides reduzem a produção de citocinas inflamatórias associadas o agravamento da doença, Por isso, seu uso também está sendo avaliado para tratar casos leves, moderados e graves de Covid.
A expectativa é de que o resultado dos trabalhos seja publicado em breve. As descobertas não representam um passe livre para o uso recreativo da droga. Fumantes regulares de maconha correm mais risco de complicações da Covid-19 e o impacto terapêutico não está associado ao uso de produtos com canabidiol encontrados fora do Brasil.
Fonte: Veja
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