Pesquisa aponta oportunidade de crescimento para saúde digital na Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos - FRONT SAÚDE

Pesquisa aponta oportunidade de crescimento para saúde digital na Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos

No Oriente Médico, os consumidores estão aderindo aos serviços digitais. As taxas do uso de smartphones no Reino da Arábia Saudita (KSA) e nos Emirados Árabes Unidos (EAU) fazem parte das mais altas do mundo, chegando em torno de 93%, com os cidadãos utilizando os dispositivos para acessar serviços públicos disponíveis por plataformas digitais.

Nesse cenário, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos se mostram bem posicionados para receber os benefícios que as tecnologias digitais de saúde trazem. Em 2022, a McKinsey entrevistou 1.400 consumidores na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos com o intuito de entender as sensações e experiência que elas tinham com os serviços de saúde digital. O estudo apontou altos níveis de interesse e conscientização em tais tecnologias. Com base nesses achados, a Mckinsey acredita que a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos podem usar soluções de saúde digital para gerar benefícios aos pacientes, assim como melhorar os resultados em áreas como gerenciamento de doenças crônicas, diagnósticos e cuidados preventivos. Com o gerenciamento certo, o mercado combinado de saúde digital na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos pode chegar a US$ 4 bilhões até 2026.

Quatro temas principais da pesquisa

  1. A conscientização sobre as soluções de saúde digital estabelecidas, como farmácias eletrônicas e teleconsultas, é alta. Tanto na KSA quanto nos Emirados Árabes Unidos, as farmácias on-line são as soluções de saúde digital mais usadas, seguidas pelos aplicativos de fitness. Teleconsultas, aulas de ginástica on-line e aplicativos de gerenciamento de dieta têm taxas de adoção moderadamente altas, mas aplicativos de gerenciamento de condição e bem-estar mental são usados ​​com muito menos frequência. Em todas as categorias, entre um quarto e metade dos consumidores não têm conhecimento dos aplicativos de saúde digital, o que sugere que as campanhas de educação e marketing podem ser eficazes para promover uma maior adoção.
  2. A retenção de usuários é alta para soluções existentes. Entre os consumidores que usaram aplicativos de saúde digital, a grande maioria (entre 64% e 87%, dependendo do tipo de aplicativo) diz que continua usando os aplicativos pelo menos de vez em quando.
  3. Os consumidores valorizam principalmente a conveniência e a economia de tempo proporcionadas pelas soluções de saúde digital. Tanto na KSA quanto nos Emirados Árabes Unidos, quase metade dos entrevistados disse que os aplicativos de saúde digital economizam tempo e oferecem conveniência. Cerca de um terço dos entrevistados acharam as plataformas de saúde digital mais eficazes do que o atendimento presencial, enquanto aproximadamente um quarto dos consumidores disseram que foram motivados pelo valor e acessibilidade das opções de saúde digital.
  4. A maioria dos não usuários está interessada em experimentar aplicativos de bem-estar e farmácias on-line. A maioria dos não usuários da KSA e dos Emirados Árabes Unidos manifestou interesse em experimentar farmácias on-line, aulas de ginástica on-line e aplicativos para gerenciamento de bem-estar, condicionamento físico ou dieta (Quadro 5). Os não usuários mostraram um pouco menos de interesse em aplicativos para gerenciamento de condições e bem-estar mental, embora a pequena maioria dos entrevistados da KSA tenha dito que estava interessada em experimentar esses aplicativos.

Os resultados da pesquisa revelam oportunidades potenciais de crescimento no Oriente Médio para que as empresas possam fornecer serviços digitais em vários submercados, e assim, melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas. A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos podem acelerar o desenvolvimento de serviços de saúde digital pensando em propostas de produtos e valores, refinando abordagens de entrada no mercado, desenvolvendo novos modelos de negócios e investindo em tecnologias promissoras. O objetivo é melhorar os resultados dos pacientes, por meio de recursos de saúde digital que atendam às necessidades e preferências do consumidor.

O estudo mostra que muitos consumidores na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos ainda não conhecem a diversidade de tecnologias de saúde digital disponíveis. Segundo a Mckinsey, há altos custos associados à aquisição de clientes business-to-consumer (B2C) em saúde digital. O setor pode diminuir seus custos de aquisição de clientes criando parcerias business-to-business-to-consumer (B2B2C) entre desenvolvedores de soluções de saúde digital e profissionais de saúde, seguradoras ou empregadores. Os parceiros poderão entregar as soluções de saúde digital do desenvolvedor para seus pacientes, clientes ou funcionários.

Uma forma de entender, por exemplo, é que, um desenvolvedor de um aplicativo de monitoramento de hipertensão pode ter parceria com uma seguradora que possa inserir o aplicativo em suas ofertas complementares de saúde ou por meio de uma corporação que adicione o aplicativo ao seu pacote de benefícios para funcionários. Nos dois casos. o desenvolvedor tem acesso preferencial a um grupo de clientes que, assim, vão se beneficiar de uma maneira mais fácil para o controle de risco de hipertensão.

A Huma é uma start-up britânica de saúde digital dá assistência médica digital episódica e crônica. Após testar e aprovar a sua proposta de valor, recebeu recentemente US$ 200 milhões para expandir, e fará dessa forma com os seus parceiros, os governos do Reino Unido, Alemanha e Emirados Árabes Unidos e as principais empresas farmacêuticas.

Segundo a pesquisa, muitos consumidores experimentaram opções de saúde digital de acordo com recomendações de pessoas que conhecem e confiam. Os entrevistados disseram que se motivam a usar os serviços de saúde digital devido ao valor e acessibilidade.

O resultado desse estudo indica o potencial do surgimento de novos modelos de negócios que se baseiam em opções de preços inovadoras, o que inclui assinaturas em pacote e financiamento comportamental.

Seguindo um modelo de assinatura em pacote, os consumidores pagam mensalmente uma taxa única, ao invés de fazer uma compra única. Os modelos de assinatura se associam a uma alta retenção dos clientes. A empresa global de telemedicina e Inteligência Artificial de saúde com sede no Reino Unido Babylon Health, que usa um modelo de preços de assinatura, teve taxa de retenção de usuários de três meses de 95% em 2020. Com isso, a empresa alcançou um aumento de quatro vezes na receita anual a partir de 2020 para 2021.

O financiamento comportamental envolve a definição de taxas de acordo com o comportamento dos consumidores, conforme medido por smartwatches e outros dispositivos vestíveis. Nesse caso, um dispositivo vestível poderá ser oferecido por uma taxa inicial única, mas depois por uma assinatura mensal que pode ser reduzida ou dispensada com base em quantas milhas os usuários andam ou calorias que queimam. Incentivos assim podem ser oferecidos em parceria com academias, fornecedores de refeições saudáveis, varejistas de equipamentos de ginástica doméstica e outros negócios que tenham relação com a saúde.

A Vitality, companhia de seguros de saúde com sede na África do Sul, utiliza esta estratégia de financiamento comportamental. Os membros do Vitality pagam uma taxa inicial para receber um Apple Watch em um plano de financiamento que dura 24 meses. O consumidor poderá ou não pagar a mensalidade se acumular um determinado número de pontos de atividade por mês. Em um estudo, esse incentivo baseado em assinatura chegou em quase 34% mais atividades que foram monitoradas mensalmente.

Na pesquisa, os consumidores indicaram que querem ter soluções envolventes. Os desenvolvedores de saúde digital na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos podem deixar as ferramentas atraentes implantando técnicas de gamificação. A Sidekick Health, considerada líder em terapia digital com sede na Islândia, conseguiu ter sucesso ao colaborar com empresas de jogos para melhorar a retenção e o engajamento, além de fortalecer o impacto clínico de suas ferramentas digitais para os consumidores que têm doenças crônicas. Os usuários do Sidekick podem subir em vários níveis de conquista e ganhar pontos seguindo as tarefas de comportamento saudável, como tomar medicamentos, beber água suficiente, aumentar a atividade e fazer escolhas alimentares saudáveis. Um estudo randomizado mostrou que a taxa de retenção no Sidekick era de 80% após quatro meses e 75% após seis.

Além disso, os consumidores querem aplicativos de saúde digital que sejam convenientes, e uma forma de conveniência para os pacientes é garantir que os aplicativos sejam integrados a dispositivos ou outros aplicativos que o paciente já usa. O aplicativo Saúde da Apple, por exemplo, autoriza que os usuários nos Estados Unidos compartilhem seus dados de saúde seguros em métricas, o que inclui frequência cardíaca, exercício, tempo de sono e resultados de laboratório diretamente com seu médico ou com outro usuário, como cônjuge ou companheiro de exercícios.

O surgimento de novos negócios de saúde digital podem resultar em impactos positivos onde há uma alta demanda do consumidor, porém, uma oferta inadequada. A terapia digital, que usa intervenções baseadas em evidências para tratar ou gerenciar uma doença ou condição, acompanhando ou substituindo os protocolos de tratamento existentes, é uma dessas áreas. Doenças crônicas generalizadas, como, por exemplo, diabetes e hipertensão, causam muito sofrimento, impossibilita os pacientes de ter uma vida saudável e sobrecarregam os sistemas de saúde. Ao inserir soluções de terapia digital no atendimento ao paciente como para monitorar os níveis de açúcar no sangue e administrar insulina, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos podem gerar benefícios para os pacientes e aliviar um pouco da pressão sobre os profissionais de saúde.

O mercado de terapia digital na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos não está tão próximo de atingir o seu potencial máximo. Atualmente, os níveis de aplicativos são considerados baixos, e isso deve acontecer porque poucas soluções chegaram ao mercado, além de conhecimento limitado daqueles que têm e não está claro como os serviços terapêuticos digitais vão ser reembolsados. A pesquisa aponta que os aplicativos de terapia digital representam menos de 1% dos downloads de saúde digital na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos.

Vários aplicativos que atuam em outros países mostram as oportunidades potenciais para serviços de terapia digital na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos:

  • Manejo do diabetes. A BlueStar oferece treinamento digital móvel para gerenciar diabetes tipo 1 e tipo 2 que se integra a dispositivos de saúde, como medidores de glicose no sangue e canetas de insulina. Um estudo controlado randomizado mostrou que o aplicativo ajudou pacientes com diabetes tipo 2 a atingir uma redução de 1,2% na hemoglobina A1c, uma medida comum dos níveis de açúcar no sangue.
  • Gestão da pressão arterial. Uma revisão sistemática e meta-análise de intervenções de saúde digital mostraram que o aconselhamento digital juntamente com a terapia médica anti-hipertensiva reduziu a pressão arterial sistólica em 50% em relação aos controles (-7,3 mm Hg em comparação com -3,7 mm Hg).
  • Saúde mental. Um estudo controlado randomizado descobriu que os usuários de um aplicativo de smartphone de saúde mental tiveram menos sintomas depressivos (3,5%) durante um período de 12 meses do que o grupo controle (8%).

O que antes da pandemia de Covid-19 tinha pouco reconhecimento, agora está se tornando algo com mais relevância. As soluções de saúde digital estão em ascensão no Oriente Médio, especialmente em mercados com alta inserção digital entre a população, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Novos participantes são atraídos à medida que a conscientização do consumidor e a aceitação de soluções de saúde digital continuam a aumentar. Os participantes incluem investidores, startups de saúde digital, empresas de comércio eletrônico, conglomerados de varejo, empresas farmacêuticas, provedores de sistemas de saúde, pagadores e até empresas de telecomunicações. À medida que continuam avaliando como escalar e aprimorar a adoção para aumentar o valor da saúde digital e o impacto nas vidas, as startups e outros desenvolvedores de soluções vão poder abordar as quatro áreas destacadas para potencialmente crescer como unicórnios. 

Fonte: McKinsey & Company