Escolher o que é melhor para comer é importante para conservar a saúde de qualquer pessoa, ainda mais entre idosos. Pesquisas revelam que determinados nutrientes podem ajudar a evitar problemas comuns da terceira idade, como complicações intestinais e enfraquecimento ósseo. Segundo especialistas, os resultados desses estudos apontam a possibilidade do uso de dietas personalizadas para a promoção do envelhecimento saudável.
Entre os focos dos cientistas está o desgaste da parede intestinal que pode fazer com que bactérias e toxinas “vazem” do intestino. “Há o trânsito de substâncias potencialmente tóxicas para o sangue, e isso está relacionado ao desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes, enfermidades cardiovasculares e até Alzheimer”, explica, em comunicado, Cristina Andrés-Lacueva, professora da Faculdade de Farmácia e Ciências dos Alimentos da Universidade de Barcelona.
Com isso, os pesquisadores avaliaram se a alimentação evitaria o problema, e fizeram a seleção de 51 pessoas com mais de 60 anos que foram submetidas a uma dieta rica em polifenóis — compostos orgânicos encontrados em frutas e plantas — por dois meses. Constatou-se que a inclusão de até três porções diárias de alimentos como suco de maçã, cacau, chocolate amargo, chá-verde, laranja e romã fortaleceram a parede intestinal dos voluntários.
Tanto as amostras de sangue quanto fezes revelaram que os benefícios estavam relacionados a alterações na microbiota desencadeadas pela dieta. “Por exemplo, a teobromina e a metilxantina, derivadas do cacau e do chá-verde, se relacionam positivamente com bactérias produtoras de butirato (ácido graxo), que protege a parede do intestino, e se relacionam inversamente com a zonulina, o único regulador conhecido ligado à permeabilidade intestinal. Pesquisas já revelaram que, quando ativada, essa proteína aumenta o risco de síndrome da permeabilidade”, detalha Andrés-Lacueva.
De acordo com a pesquisadora, os dados podem ser usados como base para a construção de dietas personalizadas, além de serem direcionadas para cada fase da vida. “Uma maior ingestão de frutas, verduras e outros alimentos descritos nesse trabalho fornece fibras e polifenóis que ajudam a contrabalançar os danos à permeabilidade intestinal, que são decorrentes do envelhecimento”, enfatiza.
Leandro Rodrigues, nutricionista clínico do Hospital Santa Marta, em Brasília, afirma que os resultados mostram a importância da manutenção da microbiota por meio da alimentação adequada. “Vemos como é essencial que idosos façam o consumo regular de compostos bioativos, como os polifenóis, que contribuem para a proliferação das chamadas bactérias probióticas. O desequilíbrio entre a quantidade dessas bactérias benéficas e as patogênicas é conhecido como disbiose intestinal, que, por sua vez, leva à superprodução e à absorção de substâncias tóxicas.”
Segundo o médico, o intestino permeável é foco de estudos, em que se procura esclarecer como a microbiota tem influência na regulação de mecanismos que promovam a melhora na qualidade de vida assim como a prevenção de doenças. “Estudos também têm mostrado estratégias que ajudam nesse equilíbrio da microbiota. Podemos destacar mudanças no estilo de vida, como incentivar o idoso a ser mais física e mentalmente ativo, e sobretudo alterações no padrão alimentar”, ilustra.
Inflamações
Ligada à boas condições de vida na terceira idade, a saúde dos ossos pode melhorar com um regime estratégico, aponta um estudo americano. “Pesquisas anteriores ligaram nutrientes específicos à fragilidade ou à função óssea, mas não investigaram toda a dieta de um indivíduo e qual o impacto dela nesse sistema ao longo do tempo”, relata, em comunicado, Courtney L. Millar, pesquisadora do Departamento de Medicina da Universidade de Harvard e uma das autoras do estudo.
A pesquisa analisou dados relacionados à alimentação de 1.701 idosos saudáveis e que foram coletados por mais de 10 anos. Ficou constatado que a dieta pró-inflamatória, rica em carboidratos simples ou em gorduras saturadas, estava associada a uma maior vulnerabilidade óssea. Os participantes que seguiam esse regime tinham duas vezes mais o risco de desenvolver problemas ósseos dos que tinham dieta anti-inflamatória.
Segundo cientistas, a ingestão regular de alimentos que contêm fibras e antioxidantes podem impedir que os idosos tenham fragilidade óssea. “Embora sejam necessários mais estudos, diretrizes baseadas em uma dieta anti-inflamatória podem ajudar a reduzir a porcentagem de pessoas que podem desenvolver fragilidade óssea e ter as condições relacionadas, como quedas e fraturas, e isso ajuda a melhorar a qualidade de vida”, afirma Millar.
Para Agostinho Moreira, médico especialista em longevidade da clínica Viva Mais, em Brasília, esses dados trazem informações valiosas para o combate da osteoporose. “Hoje, sabemos que não é apenas a reposição de cálcio que previne um idoso de ter fraturas ósseas, mas, sim, aquilo que está relacionado ao seu estilo alimentar não inflamatório, que se dá pelo consumo de fibras, frutas, verduras, legumes integrais, como feijão-preto, lentilha e grão-de-bico, e de carnes magras com menos gordura saturada, como as de aves e peixes”, detalha.
No caso de alta ingestão de alimentos como carnes vermelhas, processados e carboidratos simples — açúcar, massas e pães, por exemplo — não favorece um estado metabólico saudável, afirma o especialista. “Eles geram inflamação crônica de baixo grau, o que favorece a osteoporose”, explica.
Estresse e excessos
Até o momento, ainda não há explicações científicas sobre o que leva a essa complicação, mas especialistas acreditam que ela possa estar relacionada com uma má alimentação, ao consumo exagerado de álcool e de açúcar e ao estresse. A síndrome pode ser detectada por alterações no sistema imunológico, fadiga e problemas digestivos. Não há tratamento exclusivo para ela. A indicação de uma melhora na alimentação é uma das abordagens que estão sendo mais prescritas.
Maior proteção cognitiva
A saúde cerebral também pode melhorar com a adoção de uma boa dieta. Cientistas da Universidade de Barcelona, na Espanha, constataram esse benefício com idosos que consumiam mais plantas e frutas. Na pesquisa, feita em parceria com cientistas franceses, os investigadores avaliaram, ao longo de 12 anos, um grupo de 842 pessoas com mais de 65 anos nas regiões de Bordeaux e Dijon, na França.
Após a análise da alimentação e à saúde dos voluntários, a equipe entendeu que idosos que consumiam com frequência alimentos como cacau, café e cogumelos apresentavam um comprometimento cognitivo menor. A resposta das amostram dos participantes também mostraram que alguns metabólitos presentes nesses alimentos, como a 2-furoilglicina e a 3-metilantina, comum no café e o cacau, podem estar relacionados a esse efeito de proteção.
“O que vimos é o papel modulador da dieta no risco de sofrer comprometimento cognitivo. Os resultados mostram uma associação significativa entre esses processos e certos metabólitos”, afirma Mireia Urpí-Sardà, pesquisadora do Departamento de Nutrição, Ciência dos Alimentos e Gastronomia da universidade espanhola e uma das autoras do estudo.
Adoçante
Chamou a atenção dos pesquisadores o fato de a sacarina, presente em adoçantes artificiais, estar associada a um efeito prejudicial na função cognitiva dos voluntários. Para os especialistas, os dados precisam ser aprofundados em pesquisas ainda maiores, na tentativa de que, em algum momento, as informações possam ser usadas como armas protetivas à saúde neural dos idosos.
“É essencial o estudo da relação entre o déficit cognitivo, o metabolismo da microbiota e o metabolismo alimentar. Só assim, poderemos desenvolver estratégias preventivas e terapêuticas que ajudem a cuidar da nossa saúde cognitiva”, enfatiza Urpí-Sardà.
Fonte: Correio Braziliense
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