O co-fundador da healthtech Alice, Matheus Monteiro abre a seguinte reflexão: “Tem muita gente fazendo gestão financeira. Mas quem tá te ajudando a fazer a gestão da coisa mais importante da sua vida: a sua saúde?”. O questionamento gira em torno não apenas sobre a deficiência do modelo tradicional das operadoras de saúde, mas também pela forma como a população está habituada a ser cuidada, que é tratando um problema quando ele aparece, ao invés de tratar os fatores que podem evitar o surgimento dele.
Perceber esse gap, ou seja, um problema que causa desequilíbrio na empresa, no mercado de saúde fez Matheus e André Florence (ex-99) e Guilherme Azevedo (ex-Dr. Consulta), fundarem a Alice em junho de 2020.
Como modelo de negócio, a Alice vende planos de saúde individuais, porém, o que ela oferece aos seus 7 mil membros é gestão de saúde por meio de tecnologia e uma equipe multidisciplinar que atua na construção de um plano de ação personalizado de acordo com o seu respectivo de cada paciente.
“A gente não nasceu com vontade de criar um plano de saúde. Mas, olhando para as nossas próprias necessidades, a gente queria ficar mais saudável (…) Ter o plano de saúde foi a forma que nós encontramos de poder ter acesso, ao hospital, aos laboratórios e aos profissionais de saúde”, afirma Matheus.
Tecnologia para integrar informações
Outro problema percebido percebido por Matheus e Guilherme foi a falta de centralização das informações de cada paciente pois, isso poderia acabar com a gestão de saúde dos seus clientes.
Com o auxílio da tecnologia, a empresa criou o que se pode chamar de prontuário eletrônico, disponível tanto para o usuário no aplicativo, quanto para cada profissional do time da Alice e também das unidades de saúde parceiras que fizerem o atendimento dele.
“Sempre que você precisar usar algum serviço de saúde, as pessoas que vão te ajudar a ficar mais saudáveis vão ter acesso aos dados que elas precisam (…) Tendo todas as suas informações em um só lugar e te tratando de forma individualizada, eu consigo coordenar melhor o seu cuidado”, explica Matheus.
Saúde baseada em resultados
A Alice pensa em trazer para o Brasil o modelo de saúde baseada em resultados, o VBHC (Value-Based Healthcare), que foca na qualidade de atendimento em oposição ao tradicional modelo fee-for-service (que paga uma taxa a cada serviço prestado). “Se você entrega mais saúde para as pessoas, você deveria ser melhor recompensado por isso”, afirma o co-fundador da Alice.
O VBHC incentiva que os profissionais de saúde trabalhem da maneira mais eficiente possível, impedindo que exames e procedimentos não precisem ser refeitos. Se uma cirurgia ortopédica, por exemplo, não resolver o problema e precisar ser feira novamente, o médico parceiro da Alice vai ser remunerado uma única vez, para realizar todo o processo.
Além da remuneração fixa, esse modelo prevê um valor variável, pago de acordo com indicadores relacionados ao desfecho clínico e experiência do consumidor, bem como ao alinhamento aos protocolos clínicos baseados em evidência.
Desafios de expansão e acessibilidade
O conceito de entregar saúde que a Alice construiu ao longo dos seus quase dois anos de vida ainda não é acessível a todos. Mesmo que tenha cobertura nacional para emergências e atendimento via aplicativo para qualquer parte do mundo, a Casa Alice (que reúne clínica e laboratório próprios) está em apenas em dois endereços de São Paulo, nos bairros nobres de Moema e Pinheiros.
A rede credenciada de laboratórios e hospitais para procedimentos eletivos é formada apenas por unidades de saúde de São Paulo. Nesse caso, o plano de saúde é recomendado apenas para quem mora no máximo na região metropolitana da capital paulista.
“Quando pensamos em expansão e também em estratégia de precificação, a gente pensa nesse modelo de entrega de saúde para as pessoas para outras estruturas de custo”, afirma Matheus. De acordo com o executivo, existe o desejo de expansão do negócio, mas não um projeto sólido para isso, porque o foco, neste momento, é atender com excelência a cidade de São Paulo.
Um desafio não apenas para a Alice, mas para as healthtechs, é ter um valor mais acessível para a população. O co-fundador da empresa pontua que o preço está diretamente ligado com o custo que é repassado para os parceiros.
Vale enfatizar que fazem parte da rede credenciada da operadora instituições como o laboratório Fleury e o hospital Albert Einsten. “Para a idade de 30 anos, por exemplo, nós tínhamos um produto de R$ 980. Hoje nós temos mais de 30 produtos que variam entre R$ 570 e R$ 1200”, afirma Matheus.
“Com o tempo, nós vamos conseguir ser mais eficientes usando tecnologia para reduzir o preço. Então nós vamos ter um modelo com mais parceiros preparados para entrega de saúde baseada em valor”, diz o executivo.
Matheus Moraes é co-fundador e diretor de operações da healthtech Alice, a primeira gestora de saúde do Brasil. Nascido em Ipatinga/MG, formado em direito na Universidade Federal de Minas Gerais.
Em sua trajetória, trabalhou no Moip Pagamentos e 99, quando assumiu a presidência em 2018. Em 2019, junto com André Florence (ex-99) e Guilherme Azevedo (ex-Dr. Consulta), fundou a Alice, que já recebeu 174,8 milhões de dólares de investimento desde que surgiu.
Fonte: Yahoo!Finanças
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