No início de julho, o governo talibã retomou o território no Afeganistão. Um dos primeiros episódios de retrocesso em relação a liberdade das mulheres aconteceu na cidade de Kandahar, no sul do país, quando combatentes do grupo exigiram que nove mulheres que trabalhavam em escritórios do banco Azizi, desocupassem os cargos imediatamente. O grupo talibã informou a elas que os seus cargos deveriam ser ocupados por parentes do sexo masculino e que elas não deveriam voltar ao trabalho. Elas foram escoltadas por homens armados até as suas casas.
Em depoimento à Reuters, Noor Khatera, uma mulher de 43 anos e funcionária que trabalhava no departamento de contas do banco explicou como estava se sentindo. “É realmente estranho não poder trabalhar, mas agora é assim. Aprendi inglês sozinha e até aprendi a operar um computador, mas agora terei que procurar um lugar onde possa trabalhar com mais mulheres por perto”, afirmou Noor.
Após 20 anos, desde que o movimento militante islâmico linha-dura foi derrubado, casos como esses, representam um dos primeiros sinais de que mulheres afegãs podem ter a sua liberdade conquistada ameaçada.
O Talibã voltou a governar o país desde que as forças dos EUA começaram a sair do território afegão, em maio. Nu último domingo (15), o grupo islâmico entrou na capital afegã.
Durante o último governo do grupo Talibã, direitos garantidos por leis em alguns países não podiam ser exercidos pelas meninas afegãs, como por exemplo, frequentar escolas, sair para trabalhar e ao sair de casa eram obrigadas a cobrir o rosto e estar acompanhada por parentes do sexo masculino, caso contrário, elas passavam por espancamento público, sofriam humilhações pela polícia religiosa do Afegão, que condiciona o direito das mulheres a uma lei islâmica, a sharia.
Os líderes do Talibã garantiram ao Ocidente que as mulheres teriam direitos iguais de acordo com o que prega o Islã, incluindo estudo e trabalho.
Após o episódio ocorrido no Banco Azizi, uma cena semelhante parecida ocorreu em uma agência de outro credor afegão, o Banco Milli, na cidade de Herat. Outros três combatentes do Talibã entraram armados no banco e pediram que as mulheres mostrassem os seus rostos. As mulheres tiveram que deixar seus postos na empresa e foram substituídas por parentes do sexo masculino.
Tanto o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, quanto os porta-vozes de ambos os bancos não responderam a um pedido de manifestação sobre os dois casos.
Mujahid, acrescentou que ainda não tomou uma decisão em relação as mulheres terem permissão para trabalhar nos bancos que estão em áreas controladas pelo grupo.
“Após o estabelecimento do sistema islâmico, será decidido de acordo com a lei e, se Deus quiser, não haverá problemas”, disse ele.
Os Estados Unidos e outras potências ocidentais temem que as mulheres do Afegão podem ter sua liberdade ameaçada.
As maiores conquistas dos direitos das mulheres do Afeganistão ocorreram no período em que os EUA se manteve no território do país, mesmo que essa conquista tenha acontecido principalmente em centros urbanos.
No ano passado, mulheres afegãs que trabalhavam em áreas como jornalismo, saúde e aplicação da lei foram mortas em uma onda de ataques desde que, apoiado pelos EUA, se iniciaram as negociações de paz entre o Talibã e o governo afegão.
O governo do Afegão atribuiu a maioria das mortes ao Talibã, que negou ter realizado os assassinatos.
“O Talibã vai regredir a liberdade em todos os níveis e é contra isso que estamos lutando”, disse um porta-voz do governo afegão, antes da tomada de Cabul, neste domingo.“Mulheres e crianças são as que mais sofrem e nossas forças estão tentando salvar a democracia. O mundo deve nos compreender e nos ajudar”.
Dezenas de mulheres afegãs que frequentaram escolas nas últimas duas décadas se manifestaram por meio de rede social pedindo ajuda.
“Com cada cidade que cai [sob controle do Talibã], corpos humanos colapsam, sonhos colapsam, história e futuro colapsam, arte e cultura colapsam, vida e beleza colapsam, nosso mundo colapsa”, escreveu Rada Akbar no Twitter. “Alguém, por favor, pare com isso.”
Fonte: CNN Brasil
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