Perdas, luto, distanciamento, solidão, readequação da rotina. O medo de se contaminar e a necessidade do isolamento somam-se aos demais fatores gerados pela pandemia do coronavírus. As experiências são diversas e o cenário impôs uma realidade que impacta na diretamente na saúde mental e emocional de milhares de pessoas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país que apresenta maior prevalência de depressão na América Latina. É também o país mais ansioso do mundo. E, para profissionais da psiquiatria, a solidão é reconhecida como um gatilho dos transtornos de humor. “Todas essas situações difíceis provocaram uma mudança extrema no meio ambiente das pessoas e causaram ou pioraram casos de sofrimento mental, como depressão, ansiedade ou outros transtornos como esquizofrenia e transtorno bipolar”, explica a psicóloga Josie Pereira da Mota.
A empresária Soraia Ponte, 42 anos, relata que durante a pandemia viveu vários momentos delicados e de grande sofrimento. O primeiro foi na sua atividade comercial, suspensa por conta das restrições para conter o avanço da doença. Com as contas acumulando e a preocupação excessiva, Soraia começou a apresentar sintomas de stress e ansiedade. O golpe maior foi quando a mãe adoeceu e morreu ainda na primeira onda da doença. “É uma situação que ainda procuro aceitar. Hoje já consegui me reestabelecer financeiramente, mas a dor da perda da minha mãe ainda é um vazio”, descreve.
A administradora Giovana Cavalcante estava com sete meses de gravidez quando a pandemia começou a se propagar no Brasil. Ela não vivenciou as etapas que comumente as mulheres compartilham na gestação por conta do isolamento social. “Não pude compartilhar esse momento especial. Foi somente eu e meu marido. Minha família e meus amigos não participaram em nada. Não fiz fotos, não tive chá de bebe. Parece mínimos, mas eu sofro por ter suprimido isso e ainda tenho medo quando vejo aglomerações.
Soraia faz acompanhamento psicológico para tentar superar essa experiência traumática. A busca por tratamento para os traumas pós covid envolve quadros depressivos e ansiosos em sua maioria. O sofrimento psíquico é multideterminado e além do Covid, a situação de desesperança e de perdas sociais influenciam muito negativamente no estado de adoecimento. “Situações de perdas costumam desencadear sofrimento psíquico como morte de entes queridos, perda de emprego e renda e queda do padrão social de vida”, diz a psicóloga.
Hoje, além dos atendimentos particulares, a população em geral pode procurar também apoio psicológico nos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), do Sistema Único de Saúde. A Universidade Federal do Pará também oferece atendimento gratuito na Clinica de Psicologia. Para ter acesso ao serviço, os interessados podem entrar no site da Clínica Psicológica Virtual, escolher um dos profissionais indicados na página e solicitar o atendimento via contato telefônico, nos dias e horários indicados para cada profissional.
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