
Há cinco anos, o mundo parava diante de uma ameaça invisível: a COVID-19. Mas essa não foi a primeira vez que uma pandemia transformou vidas e expôs as fraquezas da sociedade.
No século XIX, a cólera assolou a Europa, e os relatos da época soam estranhamente familiares.
Abandono, desigualdade e falhas nas políticas públicas marcaram ambas as crises. Por que, depois de tanto tempo, continuamos repetindo os mesmos erros?
MADRI, 1885: O SURTO DE CÓLERA QUE EXPÔS A MISÉRIA
Em meados de 1885, o jornalista Julio Vargas escrevia para o jornal El Liberal sobre o surto de cólera que devastava Madri.
Suas crônicas revelavam uma cidade dividida: enquanto os bairros ricos conseguiam se proteger, lugares como Cambroneras e Las Injurias — favelas onde a miséria era a regra — foram os mais atingidos.
A cólera, causada pela bactéria Vibrio cholerae, se espalhava pela água contaminada.
Apesar de a ciência já conhecer sua origem (descoberta por Robert Koch em 1883), as autoridades pouco fizeram para levar saneamento básico às áreas pobres.
O resultado foi uma tragédia anunciada: famílias inteiras morriam em poucos dias, vítimas de desidratação causada pela diarria intensa.
Vargas descrevia cadáveres sendo recolhidos nas ruas e a sensação de abandono que pairava sobre os mais vulneráveis.
Suas palavras ecoam hoje: “Diante de desastres como esse, a irresponsabilidade nos permite olhar para o outro lado.”
COVID-19: A PANDEMIA QUE REVELOU NOSSAS FALHAS
Avancemos para 2020. A COVID-19 se espalhou pelo mundo em semanas, e os sistemas de saúde entraram em colapso. Assim como no século XIX, os mais pobres foram os mais atingidos:
- Favelas e periferias viraram focos de contágio por falta de acesso a água limpa e condições dignas de isolamento.
- Trabalhadores informais precisaram escolher entre se proteger ou passar fome.
- Informação desencontrada gerou desconfiança, com muitos rejeitando vacinas e medidas de prevenção.
Em quatro meses, mais de 500 mil pessoas morreram no mundo. E, assim como na cólera, a resposta dos governos foi lenta e desigual.
AS 5 LIÇÕES QUE AINDA IGNORAMOS
- PANDEMIAS NÃO ACABAM QUANDO A DOENÇA SOME: a cólera voltou em cinco ondas no século XIX. A COVID ainda circula. Preparar-se agora — e não durante a próxima crise — é essencial.
- DESIGUALDADE MATA MAIS QUE O VÍRUS: tanto em 1885 quanto em 2020, quem morreu mais foram os pobres. Sem políticas para reduzir desigualdades, pandemias sempre serão piores para quem já sofre.
- CIÊNCIA PRECISA SER OUVIDA (MAS TAMBÉM ENTENDIDA): na COVID, teorias da conspiração se espalharam porque a ciência não foi comunicada de forma clara. Envolver a população nas decisões é crucial.
- DADOS SÃO IMPORTANTES, MAS NÃO SÃO TUDO: durante a COVID, governos tomaram decisões com base em números, mas esqueceram do fator humano. Políticas precisam equilibrar dados e realidade social.
- SEM UNIÃO, NÃO HÁ SOLUÇÃO: enquanto países brigavam por vacinas e governos locais agiam sem coordenação, o vírus se espalhava. Pandemias exigem respostas globais.
O FUTURO: VAMOS REPETIR OS ERROS OU APRENDER?
A Organização Mundial da Saúde declarou o fim da emergência da COVID em 2023, mas apenas duas províncias no mundo (Alberta e Ontário, no Canadá) publicaram planos para futuras pandemias.
Enquanto isso, favelas continuam sem saneamento, sistemas de saúde seguem frágeis e a desigualdade só aumenta.
Fontes: El País e The Conversation
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