A síndrome de burnout – um estado de exaustão emocional, mental e física causado pelo estresse excessivo e contínuo no trabalho, migrou para o ambiente familiar com a pandemia. Com o encerramento das escolas, pais e mães tiveram de acumular mais funções, ajudando nas tarefas escolares e estudos; realizando todas as tarefas domésticas, atividades físicas e os demais cuidados que os filhos demandam.
Pesquisadores da Universidade Católica de Louvain (Bélgica) analisaram 2 mil adultos e concluíram que 12% deles (tanto homens quanto mulheres) estavam sofrendo com um alto nível de burnout parental. Segundo os cientistas, essas pessoas se sentiam exaustas, incapazes e desinteressadas por suas tarefas mais do que uma vez por semana.
Médicos e especialistas em neurociências dizem que para as mães que estão em casa é pior, pois existem muitas mães solo, sem rede de apoio e a escola, assim como as atividades extra-curriculares ajudam a evitar sobrecarga de funções.
Qual a diferença entre o burnout e uma ansiedade ou depressão? “O burnout é o limite físico e emocional atingido no seu máximo grau: é o esgotamento do indivíduo”, explica o médico psiquiatra Guilherme Guesser.
Com experiência de 25 anos atendendo pais e filhos, a psicóloga Luciana Minelli concorda. “Isso é muito mais do que cansaço físico e estresse. Cansaço é aquela sensação de que ‘estou cansada, mas depois que chegar em casa, comer e tomar um banho, estarei inteira’; estresse já é mais complexo e tem um pouco mais a ver com insatisfação. E o burnout é a sensação de que você já extrapolou todos os seus limites, afetando até sua condição física, sua saúde”, explica.
A psicóloga Isabelle Roskam, da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, especialista no assunto, constatou que o esgotamento mental por conta da sobrecarga em casa com os filhos é maior que o relacionado à falta de recursos. Crianças sem escola, lazer e rede de apoio demandam muito mais do que o habitual. Ela afirma, portanto, que os pais e mães precisam reduzir exigências, diminuir padrões em relação à educação (inclusive sobre o limite de telas), especialmente entre mães solo, que vivem em condições precárias ou que têm muitos filhos.
As dicas para que Procurar manter uma rotina, mas sem muito rigor, abrindo exceções que normalmente não abriria. Dividir tarefas. Incluir os filhos nas tarefas domésticas, tentar descansar em momentos em que a criança dorme. Cobranças excessivas nesse período só trazem mais estresse tanto para os pais, quanto para os filhos.
Os sintomas de burnout parental
- Sensação de total esgotamento físico e mental
- Já acordar cansado (a)
- Dores de cabeça e musculares
- Insônia
- Palpitações
- Tonturas
- Irritabilidade extrema
- Crises de ansiedade e choro
Um estudo feito em 42 países e publicado em março na revista científica Affective Science, coordenaram cerca de 100 cientistas, com participação das pesquisadoras Elizabeth Barham (UFSCar), Luciana Carla dos Santos Elias (USP) e Vanessa Romera (UERJ).
Usando índices sobre valores culturais — por exemplo, se um país é mais ou menos machista, ou permissivo ao ócio e ao lazer —, as autoras concluíram que países com culturas individualistas são mais propensos a levarem ao burnout de mães e pais. O individualismo se mostrou mais prejudicial do que desigualdades entre países ou o número e a idade de crianças em uma família.
Por isso, segundo a pesquisa, países ocidentais apresentaram a maior prevalência deste burnout no mundo. No topo do ranking, apareceram Estados Unidos, Bélgica e Polônia (acima de 7%). O Brasil aparece com prevalência de 1,3% — mas Roskam reconhece que, internamente em um país, pode haver muitas particularidades e a variações por trás deste valor nacional.
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