A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está prestes a concluir os ensaios clínicos da primeira vacina do mundo contra a esquistossomose, também conhecida como barriga d’água, e aguarda a pré-qualificação pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Essa vacina é a primeira desenvolvida globalmente contra um helminto, um grupo de vermes parasitas responsáveis por aproximadamente uma em cada seis doenças tropicais negligenciadas, de acordo com a OMS.
Se aprovada, a vacina, chamada Schistovac, receberá uma chancela para ser introduzida em países onde a doença é endêmica, representando assim uma ferramenta crucial para a saúde em áreas prioritárias, afirmou a pesquisadora responsável.
A esquistossomose é uma doença parasitária negligenciada que está associada a condições sanitárias precárias e falta de saneamento básico. Ela ocorre quando uma pessoa é infectada com o parasita esquistossomo através dos ovos presentes nos caramujos, que atuam como transmissores. Esses ovos contêm larvas, conhecidas como cercárias, que penetram na pele humana. Após entrar na corrente sanguínea, as larvas perdem suas caudas e se transformam em cistos, chamados esquistócitos, que se alojam principalmente no fígado e se desenvolvem. Os vermes adultos podem migrar para as veias do intestino, reto e bexiga, causando a característica “barriga d’água”. O ciclo se completa com a eliminação dos ovos nas fezes e urina.
Embora a esquistossomose tenha baixa taxa de mortalidade, é uma das doenças tropicais que mais afetam a qualidade de vida (morbidade). Segundo a OMS, estima-se que 200 milhões de pessoas sejam infectadas anualmente, mas outras 800 milhões vivem em áreas de alto risco, o que poderia resultar em até 1 bilhão de casos por ano.
As regiões endêmicas são principalmente países da África e das Américas. No caso das Américas, cerca de 95% dos casos de esquistossomose ocorrem no Brasil. O Ministério da Saúde relata que mais de 1,5 milhão de brasileiros estão atualmente em risco de contrair a doença.
Os estudos para o desenvolvimento da vacina contra a esquistossomose tiveram início na década de 1980, quando se buscava um antígeno capaz de proteger o gado e as ovelhas de infecções parasitárias. Observando o mecanismo de infecção e proteção do parasita Fasciola hepatica, os pesquisadores identificaram uma molécula semelhante no Schistosoma mansoni, a principal espécie causadora da esquistossomose na África e América Latina.
A vacina contém a proteína modificada Sm14, presente no Schistosoma. Essa proteína desempenha um papel importante no transporte de gorduras necessárias para as funções celulares do parasita.
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