Recentemente, uma escola em Recife foi palco de uma situação alarmante: após uma aluna apresentar uma crise de ansiedade que se desenvolveu em um ataque de pânico, mais de 20 adolescentes apresentaram sintomas intensos de ansiedade e precisaram de atendimento médico urgente, com a necessidade de várias ambulâncias e profissionais. Esse evento levantou questões sobre a saúde mental de crianças e adolescentes no contexto pós-pandemia e trouxe à tona a preocupação de que problemas emocionais possam ser contagiosos, resultando em uma possível epidemia.
A influência dos amigos no desenvolvimento é especialmente acentuada na adolescência, quando os jovens são mais suscetíveis às influências de seus pares. Estudos mostram que um adolescente cujos amigos enfrentam problemas de comportamento tem maior probabilidade de desenvolver esses problemas ao longo do tempo. Isso pode contribuir para o desenvolvimento de agressividade, comportamento de desvio de regras, autolesão, problemas de imagem corporal e comportamento alimentar, bem como ansiedade e sintomas depressivos.
No caso de problemas emocionais, a discussão excessiva de problemas no contexto interpessoal, conhecida como co-ruminação, pode exacerbar emoções negativas. Embora a influência dos amigos seja significativa e consistente entre diferentes contextos e comportamentos, o efeito isolado é relativamente pequeno, o que significa que não é suficiente para causar problemas emocionais ou comportamentais em um adolescente. No entanto, quando somado a outros fatores, pode contribuir para situações preocupantes, como a crise de ansiedade coletiva ocorrida em Recife.
A saúde mental de crianças e adolescentes é um problema de saúde pública historicamente negligenciado no Brasil. A falta de conhecimento, estigma e políticas públicas inadequadas resultam em uma lacuna nos serviços e profissionais treinados para lidar com esses problemas. Durante a pandemia de Covid-19, um monitoramento mostrou que aproximadamente 1 em cada 3 crianças e adolescentes no país apresentavam problemas clínicos de ansiedade e depressão.
O retorno dos jovens às escolas após um longo período de isolamento pode agravar a situação, pois as instituições de ensino muitas vezes não estão preparadas para abordar adequadamente as questões de saúde mental. Isso, combinado com a pressão acadêmica e dinâmicas sociais marcadas por conflitos, agressividade e exclusão social, pode resultar em situações como a crise de ansiedade coletiva em Recife.
Há a possibilidade de que a situação piore se não houver ações imediatas e eficazes para abordar a saúde mental das crianças e adolescentes. As taxas de ocupação de serviços de saúde mental especializados já estão acima de 100% em alguns locais, o que pode dificultar o atendimento adequado. No entanto, os jovens também têm uma grande capacidade de adaptação e resiliência, e jovens saudáveis podem propagar saúde mental para seus amigos.
A prevenção e a identificação precoce de casos são fundamentais para enfrentar esse desafio. O estado, a sociedade e as famílias devem se mobilizar para cuidar urgentemente da saúde mental das crianças e adolescentes. Ignorar essa questão pode levar a consequências mais graves e a uma situação difícil de controlar no futuro.
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