Após adotar uma estratégia de vacinação acelerada e lockdown rigoroso, Israel não registrou novas mortes por Covid-19 num período de 24 horas pela primeira vez em 10 meses.
Ao longo da pandemia, 6.346 pessoas morreram no país, segundo dados do ministério da saúde israelense. A última vez que Israel relatou zero mortes por covid-19 foi no final de junho de 2020, depois que outro lockdown conteve o avanço da primeira onda de infecções.
A doença recuou depois de atingir seu pico em janeiro deste ano. O governo israelense começou a flexibilizar as restrições à circulação de pessoas do lockdown um mês depois, à medida que as vacinações contra a covid-19 seguiam de forma mais ampla.
Israel tem a maior taxa de vacinação do mundo. Na quinta-feira, o país atingiu a marca de 5 milhões de pessoas vacinadas com as duas doses, o correspondente a 52% dos 9 milhões de habitantes — o Brasil, por exemplo, vacinou completamente 5% de seus 212 milhões de habitantes.
“Esta é uma grande conquista para o sistema de saúde e os cidadãos israelenses. Juntos, estamos erradicando o coronavírus”, tuitou o ministro da Saúde, Yuli Edelstein, na sexta-feira (23/04).
Na semana passada, Eyal Leshem, diretor do maior hospital de Israel, o Sheba Medical Center, disse que o país pode estar perto de alcançar a “imunidade do rebanho” ou “imunidade coletiva”. A imunidade do rebanho ocorre quando um número suficiente de uma população tem proteção contra uma infecção impedindo que ela se espalhe com força.
Os especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que pelo menos 65%-70% da população precisa de cobertura de vacinação antes que a imunidade de rebanho seja alcançada. Mas ainda assim há dúvidas se esse patamar seria suficiente para conter a doença.
Leshem disse que a imunidade coletiva é a “única explicação” para a queda contínua de casos em Israel, à medida que restrições à circulação de pessoas são suspensas.
“Há uma queda contínua, apesar de voltar à normalidade”, disse ele. “Isso nos diz que mesmo se uma pessoa estiver infectada, a maioria das pessoas que encontra andando por aí não será infectada por ela.”
Israel começou sua campanha de vacinação em dezembro passado e, desde então, tem sido a nação líder mundial em número de doses aplicadas per capita.
O país até agora aplicou apenas a vacina desenvolvida pela dupla Pfizer e BioNTech. Em fevereiro, o ministério da Saúde de Israel disse que estudos revelaram que o risco de doenças causadas pelo vírus caiu 95,8% entre as pessoas que receberam as duas doses dessa vacina.
O país está se preparando para começar a vacinar crianças de 12 a 15 anos assim que órgãos reguladores aprovarem o uso da vacina para pessoas nessa faixa etária.
‘Apartheid de vacinas’
Mas enquanto o país avançou com seu programa de vacinação, os territórios palestinos (ocupados por Israel) ficaram para trás.
Em março, os palestinos receberam a primeira remessa de cerca de 60.000 doses de vacinas sob o esquema internacional de compartilhamento de vacinas da Covax, coordenado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
No início do ano, o ministro da Saúde israelense, Yuli Edelstein, disse à BBC que, em relação ao programa de vacinação, sua primeira responsabilidade era para com os cidadãos de Israel.
Embora reconheça que o país tem “interesse” em vacinar os palestinos nos territórios ocupados por Israel, ele diz não ter uma “obrigação legal” de fazê-lo porque os Acordos de Oslo (princípios de paz assinados entre israelenses e palestinos em 1993 e que estão atualmente suspensos) “dizem claramente que os palestinos devem cuidar de sua própria saúde”.
Israel incluiu em seu programa de vacinação seus cidadãos árabes e palestinos que vivem em Jerusalém Oriental, mas os outros quase 5 milhões de palestinos permanecerão desprotegidos e expostos ao coronavírus, enquanto os israelenses que vivem perto ou entre eles — incluindo colonos nos assentamentos — serão vacinados.
“Moral e legalmente, esse acesso diferenciado aos cuidados de saúde necessários em meio à pior crise global de saúde em um século é inaceitável”, afirmou o Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (Acnudh).
Até o momento, a Palestina vacinou 0,85% de sua população de quase 5 milhões de pessoas. Em média, morrem atualmente 25 pessoas por dia de covid na Palestina. São registrados cerca de 1.600 novos casos, quase dez vezes mais do que Israel.
Paraense relata a realidade – Para Daniella Azulay, 42, paraense e morando há 19 anos em Israel, o planejamento do governo foi fundamental para o avanço da imunização da população. “Estou vacinada com duas doses pela pfeizer”, revelou. Ela que tem um negócio próprio que oferece coaching, workshop, palestras e acompanhamento de mulheres em pequenos tours em Israel, mora com o filho adolescente e com o marido na cidade de Hadera, no noroeste de Israel, entre Tel Aviv e Haifa. “Morar ao lado de uma reserva ecológica, em frente à praia, ajudou muito nos tempos de pandemia”, destaca a paraense. Antes da pandemia, Daniella trabalhava com turismo na Elal, empresa de aérea israelense. “Fui guia de turismo e durante a pandemia me reinventei de várias formas, assim como muitos outros israelenses. Inclusive vendi feijoada e pão de queijo de casa e, devagar, fui montando meu negócio”
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