Com a apenas dois anos de criação, a startup Theia, liderada por mulheres, conquistou investidores dos Estados Unidos e da América Latina. No mês de abril, a empresa anunciou a captação de um investimento de R$ 30 milhões.
A rodada semente foi liderada pela gestora americana 8VC, que possui em seu portfólio empresas como a americana The Boring Company, de Elon Musk, e o oscar da saúde Oscar Health. Além disso, também teve a participação da gestora americana especializado em saúde Canaan (que tem no portfólio outra clínica de saúde da mulher, a Tia) e a gestora latino-americana Kaszek Ventures (que já investiu em Gympass, Loggi e Quinto Andar). A Kaszek havia liderado a rodada pré-semente da Theia, de R$ 7 milhões, com participação da gestora brasileira Maya Capital.
Os investidores estão de olho para a mesma tendência: a saúde da mulher se tornará um negócio trilionário nos próximos anos. As startups focadas nesse segmento agora são chamadas de femtechs. Dessa vez, o dinheiro chegou em uma femtech brasileira.
As empreendedoras da Theia, Flavia e Paula se conheceram em um MBA na Universidade de Stanford. Ambas foram o mundo dos negócios de startup. Flavia trabalhou na Acesso, enquanto Paula foi para o Guiabolso. Flavia tinha dois filhos na época, enquanto Paula esperava seu primeiro. A ideia da Theia veio da experiência pessoal das empreendedoras com a gestação.
“Mesmo com uma rede de apoio, continuávamos nos sentindo sozinhas e sem ter com quem conversar sobre medo e solidão”, disse Flavia.
As empreendedoras legitimaram essa percepção quando entrevistaram mais de 500 mulheres. Na primeira gravidez, elas afirmaram não se sentirem confiantes em suas próprias informações. “As mulheres sentem que seu poder de decisão vai diminuindo até o parto, levando a cesáreas sem justificativa. ‘Frustração’ foi a palavra mais associada a esse momento”, completou Flavia. “A gente quer que as mulheres sejam vistas como um todo, e não como uma barriga que carrega um bebê.”
A Theia iniciou uma solução inteiramente digital em 2020, acompanhando a mulher nas fases: desejo de engravidar, pré-natal, parto, pós-parto e acompanhamento pediátrico do filho. Quando a paciente baixa o aplicativo da startup, ela pode conferir sua ficha de saúde e receber alertas semana a semana para agendar consultas digitais ou presenciais com doulas, enfermeiros, médicos, nutricionistas, psicólogos e terapeutas credenciados pela Theia.
São profissionais de 14 especialidades, com prontuário compartilhado e treinados pela startup para um padrão de atendimento. A paciente recebe ainda uma especialista pessoal, que acompanha sua jornada e coordena as orientações de todos os profissionais de saúde.
As empreendedoras integraram a solução online com uma offline. A Theia inaugurou o seu primeiro espaço feito de tijolos e cimento em janeiro de 2022. “Foi uma forma de ter maior controle sobre a nossa experiência de cuidado ponta a ponta da mulher grávida, especialmente em exames que precisam ser físicos. A clínica entrou como parte da nossa estratégia de escala”, disse Flavia.
O espaço conta com obstetras, ginecologistas, fisioterapeutas pélvicas e pediatras. A realização dos partos são feitos por médicas credenciadas e pela equipe da Theia em hospitais. No Brasil, as cesáreas responderam por 84% dos partos em 2019, segundo um estudo da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Já na startup theia, representam 35% dos partos. Os outros 65% dos partos são vaginais.
De acordo com as empreendedoras, a única clínica física atual tem suporte para atender a demanda das pacientes da Theia. O investimento de R$ 30 milhões se volta para outro passo importante na ampliação das clientes atendidas pela Theia: consolidar parcerias com planos de saúde.
As consultas pela startup, até o momento, são particulares e custam entre R$ 200 e R$ 400. “Um pequeno grupo consegue pagar no particular. As parcerias serão fundamentais para acelerar nosso crescimento, permitindo que as pacientes apenas apresentem suas carteirinhas do plano”, disse Flavia. A Theia está fazendo negociações com duas operadoras de planos de saúde.
Uma parte do dinheiro vai ser usada para fins tecnológicos e conta com dois objetivos: melhorar a experiência do aplicativo da Theia, e ampliar a quantidade de dados coletados e integrados no prontuário eletrônico desenvolvido pela startup. “Mais profissionais poderão usar o prontuário e os dados serão mais bem trabalhados. Assim, temos mais escala de atendimento e podemos fornecer indícios preditivos de alguma questão que pode surgir ao longo da gestação”, completou Paula.
A Theia aumentou em cinco vezes a sua receita na comparação entre os anos de 2020 e 2021, realizando mais de mil atendimentos ao longo do último ano. Para 2022, a startup projeta um salto anual de 20 vezes na receita.
Para ambas empreendedoras, a conquista do novo investimento e as metas ambiciosas significam que os investidores finalmente enxergam a oportunidade de atender o mercado de saúde para a mulher.
“Investidores daqui e de fora não enxergam mais esse mercado como um nicho. Pelo contrário: é um setor enorme, com dores latentes e nas quais a tecnologia pode fazer a diferença. Nossa rodada valida essa percepção dos investidores sobre o momento do mercado, e estamos apenas no começo”, finalizou Flavia.
Fonte: Infomoney
Foto: Dra. Laura Penteado, que coordena a clínica da Theia, com as fundadoras Paula Crespi e Flaiva Deutsch (Theia/Divulgação)
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