Outubro Rosa é uma das campanhas de saúde de maior visibilidade no mundo. As informações sobre câncer de mama, como prevenir a doença e a importância do diagnóstico precoce são fortemente difundidas pelos meios de comunicação, mostram como a conscientização é fundamental para reduzir os impactos da doença, mas, na prática, grande parte da população não segue as recomendações dos especialistas, não coloca em prática as medidas de prevenção.
Valdenita Martins, de 71 anos, é um exemplo. Ela não tem histórico de casos de câncer na família, mas colecionou, ao longo da vida, fatores de risco. A idade é o principal fator de risco para câncer, mas, bem antes dos 60, Valdenita já carregava os riscos da obesidade, consumia regularmente bebida alcoólica, era fumante e não praticava atividades físicas com regularidade.
Durante a pandemia, Valdenita cumpriu um isolamento rigoroso durante dois anos. Não saiu de casa nesse período e acabou deixando de lado as consultas médicas e exames preventivos, até perceber um nódulo na mama durante o banho. “Como tive cistos benignos quando era mais jovem, achei que podia ficar tranquila e esperar a pandemia passar”.
Quando finalmente procurou um médico, confirmou dois nódulos: um maior, benigno, e outro menor, que ficava escondido por trás do primeiro. Esse foi confirmado como câncer. “O arrependimento é enorme”, lamenta Valdenita. “Não posso culpar ninguém além de mim mesma por não me cuidar como é necessário e por ter demorado a procurar atendimento”.
Ela passou por cirurgia para a retirada do tumor, fez quimioterapia e radioterapia e, hoje, continua o tratamento com imunoterapia. “Tomo a medicação diariamente e vai ser assim pelos próximos anos”, conta. Depois do diagnóstico, Valdenita adotou uma alimentação mais saudável e caminhadas, perdeu 23 quilos e garante que não descuida mais dos cuidados com a saúde.
O mastologista Fábio Botelho, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – regional Pará, reforça a necessidade das medidas de prevenção para frear a tendência de crescimento no número de novos casos. “Temos boas razões para supor que o atual estilo de vida das brasileiras é decisivo para esse crescimento do número de casos de câncer de mama. Hoje, elas têm um menor número de filhos; optam, geralmente, por uma gestação depois dos 30, 35 anos; possuem, muitas vezes, uma rotina estressante, com dificuldades para ter uma boa alimentação e prática regular de atividade física; além do consumo de álcool, hábito crescente entre as mulheres. Tudo isso tem relação direta com o câncer de mama”, explica o mastologista.
A chamada prevenção primária é sinônimo de estilo de vida saudável. As mulheres precisam saber que alimentação saudável, exercícios físicos regulares e o corte do consumo de bebida alcoólica são medidas que previnem câncer de mama. Muitas pesquisas já comprovaram que obesidade, sedentarismo e álcool aumentam as chances de a mulher ter câncer de mama. Mulheres com estilo de vida saudável diminuem as chances de ter câncer de mama em quase 30%.
Já com a prevenção secundária, a meta é conseguir o diagnóstico precoce, quando nódulos ou outros tipos de lesões estão bem pequenos, nem são identificados em um autoexame ou mesmo exame clínico, feito pelo médico. Por isso, a Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que mulheres a partir dos 40 anos façam a mamografia anualmente, além da consulta com o especialista. A mamografia é o melhor exame de rastreamento para identificar a doença nas fases iniciais.
“O fato é que as mulheres precisam entender a importância de estarem atentas ao diagnóstico precoce, terem acesso aos exames de imagem e realizá-los, buscarem atendimento em caso de quaisquer anormalidades e terem este atendimento disponível. Somente com estas estratégias é que conseguiremos diminuir o número de casos avançados que exigem tratamentos mais agressivos e resultam em menos possibilidades de cura”, explica o mastologista Fábio Botelho.
Para o médico, o cuidado das mulheres com a própria saúde deve ser redobrado. “É do conhecimento de todos que a grande arma para redução da mortalidade reside no diagnóstico precoce, daí a necessidade de as mulheres se submeterem a exames de mamografia anualmente a partir dos quarenta anos”.
Mas o Brasil está longe de alcançar a cobertura de 70%, recomendada pela OMS. Nos últimos 10 anos, o Brasil não conseguiu atingir mais do que 30% da meta de cobertura para mamografias em mulheres entre 50 e 69 anos (faixa etária recomendada pelo Ministério da Saúde). Entre 2015 e 2019, a cobertura de mamografias em mulheres nessa faixa etária foi de apenas 23%. A região Norte foi a que apresentou o pior cenário: 94% dos municípios da região apresentam cobertura de mamografias abaixo de 13%.
Não é difícil compreender porque tantas mulheres só descobrem a doença tardiamente. 54% das mulheres subestimam a importância da mamografia – principal exame de rastreamento, segundo uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Mastologia.
Diagnóstico – Segundo o Inca, estima-se que em 2023, mais de 73 mil novos casos de câncer de mama serão registrados no Brasil – o segundo tipo com maior incidência, com 10,5% do total de diagnósticos (o 1º em incidência é o câncer de pele não melanoma).
O diagnóstico tardio, ainda predominante no Brasil, aumenta muito a gravidade da doença e os índices de mortalidade. Em contrapartida, se o câncer de mama for diagnosticado e tratado oportunamente, o prognóstico é muito bom. As chances de cura são superiores a 90%.
A falta de rastreamento eficaz do câncer de mama tem consequências. Os estados com piores indicadores são o Acre, com 56% de diagnósticos tardios, seguido pelo Pará e Ceará, ambos com 55% de diagnósticos tardios. “Ou seja, mais da metade das mulheres nesses estados só descobrem o câncer de mama em estágios avançados, que requerem tratamentos mais difíceis e chances de cura reduzidas”, lamenta o presidente da SBM no Pará.
*Com informações de Assessoria de Imprensa
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