Novo medicamento é esperança no combate ao fumo e na prevenção do câncer de pulmão - FRONT SAÚDE

Novo medicamento é esperança no combate ao fumo e na prevenção do câncer de pulmão

A revista científica JAMA acaba de publicar os resultados da terceira e última etapa dos testes clínicos de um novo medicamento – a citisiniclina, também conhecida como cistina. O medicamento pode se tornar a primeira escolha para o tratamento do tabagismo, caso seja aprovado pelas agências reguladoras. Nos Estados Unidos, a previsão é de que o medicamento já esteja disponível no mercado na metade de 2024. No Brasil, ainda não há previsão.

O otimismo se justifica. A pesquisa reuniu 810 participantes, que fumavam todos os dias. Com a citisiniclina, 32,6% (um terço) pararam de fumar durante o tratamento. A substância também demonstrou ser segura, eficaz e bem tolerada entre os fumantes que querem largar o vício, reduzindo a gravidade dos sintomas associados à abstinência.

No longo prazo, também foram observados efeitos benéficos com o uso da citisiniclina. No grupo de fumantes que participou da pesquisa, 21,1% continuaram em abstinência três meses após o fim do tratamento.
A citisiniclina é um fármaco à base de plantas que se liga aos receptores de nicotina no cérebro e alivia o desejo pela substância e, consequentemente, a vontade de fumar.

Esse resultado é comemorado porque o tabagismo está relacionado a cerca de 50 doenças crônicas, dentre elas, vários tipos de câncer, enfermidades no aparelho respiratório, problemas digestivos e cardiovasculares. Estudos realizados pelo Observatório da Política Nacional de Controle do Tabaco, órgão ligado ao INCA, constataram que o cigarro é responsável por 12,6% do total de mortes anuais, 43% dos problemas cardiovasculares, 34% dos casos de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e 5% das ocorrências de AVC.

O hábito de fumar é uma porta aberta para o câncer. As pesquisas já comprovaram que o fumo está relacionado a 17 tipos diferentes de tumores, principalmente o de pulmão. Nesse caso, o fumante tem 20 vezes mais risco de desenvolver a doença e 90% das ocorrências estão relacionadas ao fumo. E os fumantes passivos também são diretamente afetados.

Mesmo conhecendo os malefícios do fumo, os fumantes encontram muita dificuldade de abandonar esse hábito que faz tão mal à saúde. A nicotina presente no cigarro é um componente altamente viciante, além de outros elementos químicos que também causam dependência.

Os bons resultados da pesquisa com a citisiniclina foram anunciados às vésperas do Agosto Branco – campanha que incentiva a prevenção do câncer de pulmão, o tipo que mais mata no Brasil. 1º de agosto é o Dia Mundial do Câncer de Pulmão e o Dia Nacional de Combate ao Fumo é 29 de agosto. O Agosto Branco foi criado para conscientizar e mobilizar a população sobre os riscos decorrentes do uso do cigarro e para disseminar outras informações importantes sobre prevenção do câncer de pulmão.

Incidência – As estatísticas oficiais do câncer de pulmão no Brasil são alarmantes. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), são esperados para o triênio 2023 a 2025 um total de 32.560 casos novos por ano (18.020 em homens e 14.540 em mulheres) e o número anual de mortes pela doença é quase o mesmo: são cerca de 30 mil mortes por câncer de pulmão, por ano, no Brasil. É o 4º tipo mais comum entre a população brasileira (excetuando o câncer de pele não melanoma).

Em nível mundial, é o 1º tipo de câncer mais frequente entre homens e o 3º mais comum entre as mulheres. Cerca de 11% de todos os casos novos de câncer no mundo são de pulmão. Desde 1985, ele é o primeiro câncer em mortalidade no mundo.
 
Assintomática em fases iniciais, a doença pode ser diagnosticada em qualquer pessoa e em qualquer idade, entretanto, segundo a American Cancer Society, a doença atinge principalmente pessoas mais velhas. O INCA aponta que no Brasil, 90% dos casos de pulmão são diagnosticados após os 50 anos.

Evitável – Até os 75 anos de idade, 1 em cada 5 brasileiros deve desenvolver algum tipo de câncer. Mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que mais de 30% dos cânceres podem ser evitados com a adoção de um estilo de vida saudável. “São recomendações que servem não apenas para evitar o câncer de pulmão, mas para muitas outras doenças. Não fumar, ter uma alimentação saudável, praticar atividade física regularmente, não ser sedentário ou obeso, dormir bem e cortar ou pelo menos reduzir o consumo de álcool são medidas que mudam a vida para muito melhor, que todos precisam perseguir. Pelo menos 1/3 dos cânceres podem ser evitados com essas medidas”, afirma a oncologista Paula Sampaio, do Hospital Barros Barreto.
 
Sintomas – Os sintomas do câncer de pulmão geralmente não aparecem nos estágios iniciais. Mas as pessoas devem ficar atentas. “Sintomas como tosse e rouquidão persistentes, sangramento pelas vias respiratórias, dor no peito e dificuldade de respirar devem ser investigados”, alerta a médica. Paula Sampaio explica: “ainda que estes sintomas não signifiquem câncer de pulmão, necessariamente, é imprescindível ter uma orientação médica, para, se for o caso, investigar melhor”.
 
Fatores de risco

  • De 85% a 90% dos casos estão associados ao consumo de derivados de tabaco.
  • De 10% a 15% dos casos ligados a exposição à poluição do ar e a agentes químicos, outras doenças que atingem o pulmão, fatores genéticos, entre outros.
     
    Prevenção
  • Evitar o tabaco e estar próximo de fumantes (exposição passiva)
  • Manter uma alimentação balanceada
  • Praticar exercícios físicos regularmente
  • Evitar ambientes com poluição intensa
  • Evitar a exposição a agentes químicos como urânio, arsênico, cromo, cloreto de vinil
     
    Diagnóstico tardio – Pesquisa divulgada pela organização não governamental Instituto Oncoguia, baseada nos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) do Instituto Nacional de Câncer (Inca), mostra que 86,2% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados em estágio avançado, no Brasil. Nos estados do Pará, Ceará e Bahia os registros tardios chegam a 95% e, em Sergipe, 100%.
     
    “Esses números são extremamente preocupantes, considerando que o câncer de pulmão é o que tem maiores índices de mortalidade no mundo e as chances de cura estão diretamente relacionadas ao estágio em que a doença é descoberta”, alerta a médica.

*Com informações da Assessoria de Imprensa do Centro de Tratamento Oncológico (CTO)