Ministério da Saúde avalia crise climática em Altamira e Marabá
Reunião dos agentes do Ministério da Saúde com servidores do município de Altamira
Reunião dos agentes do Ministério da Saúde com servidores do município de Altamira

Ministério da Saúde avalia crise climática em Altamira e Marabá

Em meio a uma das piores crises climáticas já vividas na Amazônia, o Ministério da Saúde deslocou uma equipe técnica para Altamira, no sudoeste do Pará, como parte da Sala de Situação Nacional de Emergências Climáticas em Saúde.

O objetivo é produzir um diagnóstico detalhado da situação de seca e queimadas que vem afetando a região, prejudicando tanto as populações urbanas quanto as comunidades indígenas e ribeirinhas.

A missão, que percorre vários municípios paraenses, visa analisar os efeitos das mudanças climáticas na saúde pública e definir ações urgentes de suporte.

SECA, QUEIMADAS E POLUIÇÃO: OS MAIORES DESAFIOS EM ALTAMIRA

Altamira, município localizado a 763 km de Belém, enfrenta uma realidade alarmante: em 2023, foi o segundo município com o maior número de focos de incêndio no país, com 5.777 registros, atrás apenas de São Félix do Xingu, também no Pará.

A seca somada à intensificação das queimadas, levou a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) a declarar, em setembro, situação crítica de escassez hídrica nos principais rios da região, o Xingu e o Iriri, situação que se estenderá até o final de novembro.

O impacto ambiental não apenas devasta a fauna e flora locais, mas também coloca em risco a saúde da população.

Segundo o Monitoramento de Queimadas para Vigilância em Saúde, Altamira apresentou, por pelo menos dois dias consecutivos na semana epidemiológica 40, níveis de concentração de material particulado fino muito acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), afetando mais de 110 mil pessoas.

A poluição gerada pelas queimadas agrava problemas respiratórios e outras condições de saúde, especialmente em grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos.

POPULAÇÕES INDÍGENAS E RIBEIRINHAS: OS MAIS VULNERÁVEIS À CRISE

Além dos danos ao meio ambiente, as comunidades indígenas e ribeirinhas de Altamira estão entre as mais afetadas pela crise hídrica.

O Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) de Altamira reporta que 19 das 71 aldeias indígenas da região foram diretamente atingidas pela seca e queimadas, prejudicando cerca de 530 indígenas.

A falta de água potável e a diminuição da pesca, uma atividade essencial para a alimentação e subsistência dessas populações, têm gerado grande preocupação.

Fernando Juruna, cacique da aldeia Boa Vista, destaca que as comunidades estão enfrentando um cenário sem precedentes.

“No ano passado, já tivemos uma seca muito severa, mas este ano a situação é ainda mais grave. A falta de água nos afeta profundamente, tanto na nossa alimentação quanto nas atividades de caça e pesca, que são a base do nosso sustento”, desabafa.

A redução no nível dos rios dificulta o transporte fluvial, principal meio de locomoção na região, prejudicando o acesso a serviços de saúde, como atendimento médico e odontológico, além da distribuição de insumos e medicamentos.

Nas comunidades ribeirinhas, a situação não é diferente. Cerca de 1.300 pessoas, que vivem nas três Reservas Extrativistas de Altamira – Resex Rio Iriri, Resex Riozinho do Anfrísio e Resex Rio Xingu – enfrentam escassez de água potável e alimentos, com a oferta de serviços básicos de saúde gravemente comprometida.

A crise afeta diretamente a qualidade de vida dessas famílias, que dependem dos recursos naturais para seu sustento.

A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE E AS SOLUÇÕES EMERGENCIAIS

Diante desse cenário, a missão do Ministério da Saúde busca compreender as necessidades específicas dessas populações e oferecer suporte técnico e logístico para enfrentar a crise.

Lucas Fonseca, líder da equipe e representante do Programa Nacional de Vigilância em Saúde dos Riscos Associados aos Desastres (Vigidesastres), explica que a prioridade é entender as vulnerabilidades locais e estabelecer ações de emergência que possam mitigar os efeitos da seca e das queimadas na saúde pública.

“Nossa missão é apoiar os municípios mais afetados, como Altamira, identificando as principais necessidades para podermos atuar de forma efetiva”, afirma.

As ações incluem o monitoramento de doenças respiratórias agravadas pela fumaça, o fortalecimento da vigilância epidemiológica e a assistência nutricional às comunidades que enfrentam a perda de alimentos devido à degradação ambiental.

O técnico da Força Nacional do SUS, Tatiana Souza, enfatiza que o maior desafio nas aldeias indígenas tem sido a falta de água potável.

“Sem água limpa, os indígenas enfrentam graves riscos de saúde, como diarreia e outras doenças hídricas. Além disso, a escassez de água compromete a pesca, uma atividade vital para a alimentação e cultura dessas populações”, destaca.

A MISSÃO CONTINUA: NOVAS FRENTES DE ATUAÇÃO NO PARÁ

Além de Altamira, a equipe técnica do Ministério da Saúde segue para outros municípios do Pará, como Marabá, Itupiranga e Santarém, todos entre os dez municípios com mais focos de queimadas ativos no estado.

O levantamento de informações em campo permitirá a criação de um plano de ação mais abrangente, que atenda às demandas tanto das áreas urbanas quanto das comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, todas severamente afetadas pelas mudanças climáticas.

Marabá, por exemplo, apresenta níveis de material particulado fino três vezes superiores ao limite recomendado pela OMS, tornando a poluição atmosférica uma grande preocupação para a saúde pública.

Segundo o Dsei Guamá-Tocantins, 85% das 61 aldeias indígenas na região foram impactadas, afetando diretamente 3.878 indígenas.

O cenário de seca e queimadas intensificou as dificuldades de acesso à água e alimentos, além de agravar as condições de saúde, principalmente entre os grupos mais vulneráveis.

Com a continuidade das expedições da Sala de Situação Nacional de Emergências Climáticas em Saúde, o Ministério da Saúde reforça seu compromisso em enfrentar a crise climática no Pará e em outras regiões da Amazônia, buscando soluções que minimizem os impactos sobre a saúde das populações mais afetadas.

Fontes: Ministério da Saúde 01 02 03