Pessoas que tiveram a infecção por covid-19 ficaram mais propensas a desenvolver diabete tipo 2 dentro de um ano do que aqueles que conseguiram driblar o coronavírus, segundo uma ampla revisão de registros de pacientes divulgada na última segunda-feira, 21.
Essa evidência se aplica em pessoas que tiveram formas leves ou foram assintomáticas, mesmo que as chances de desenvolver uma nova diabete tenham sido maiores conforme a doença se agrave, de acordo com pesquisadores que revisaram os registros de mais de 181.000 pacientes do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos diagnosticados com covid-19 entre 1º de março de 2020 e 30 de setembro de 2021.
Os dados dos pacientes foram comparados aos prontuários de mais de 4,1 milhões de pacientes que não tiveram a infecção durante o mesmo período e outros 4,28 milhões que receberam atendimento médico em 2018 e 2019. Estudos assim estudo não podem provar causa e efeito, mas mostram uma forte associação entre as duas doenças.
De maneira geral, os pesquisadores calcularam que pessoas diagnosticadas com a doença causada pelo coronavírus tinham 46% mais chances de desenvolver diabete tipo 2 pela primeira vez ou receber medicação prescrita para controlar o açúcar no sangue. A pesquisa foi divulgada segunda-feira na revista médica Lancet Diabetes & Endocrinology.
Em outras palavras, dois em cada cem pacientes infectadas por covid-19 estavam mais sujeitos a desenvolver diabete tipo 2, condição na qual o pâncreas produz quantidades insuficientes do hormônio insulina, deixando os níveis de açúcar no sangue mal controlados. A doença pode causar danos aos rins, nervos, vasos sanguíneos e ao coração, entre outros efeitos.
Os resultados implica em mais de 471 milhões de pessoas que se sabe terem sido infectadas durante a pandemia, em torno 80 milhões delas nos Estados Unidos, e especialmente para pessoas que sofrem com as sequelas de longo prazo após a covid.
“Para o público em geral, se você teve covid-19, precisa prestar atenção ao seu nível de açúcar no sangue”, disse Ziyad Al-Aly, chefe de pesquisa e desenvolvimento do Departamento de Assuntos de Veteranos do Sistema de Saúde de St. Louis, que liderou a revisão.
Anteriormente em estudos menores e médicos que trataram pacientes com covid percebem um aparente aumento nos novos diagnósticos de diabete associados à infecção por coronavírus. Mas Al-Aly disse que sua revisão foi a que teve uma maior consideração acerca do problema e analisou por um período maior de tempo após a fase aguda de uma infecção – de 31 dias após a infecção a uma média de quase um ano por paciente.
Os pacientes do Departamento de Assuntos de Veteranos se volta para o público mais velho, pessoas brancas e do sexo masculino. Mas Al-Aly disse que o grande número de pessoas envolvidas o deixou confiante de que suas descobertas eram aplicáveis ao público em geral. “O risco foi evidente em todos os subgrupos”, incluindo mulheres, minorias raciais, pessoas mais jovens e pessoas com diferentes índices de massa corporal, disse.
Mais de 99% dos pacientes infectados desenvolveram diabete tipo 2, ao contrário do tipo 1, uma condição na qual as células produtoras de insulina no pâncreas param de produzir o hormônio completamente. Al-Aly supôs que a eficiência reduzida das células pode ser causada por inflamação, produzida pelo próprio vírus ou pela resposta do corpo a ele.
“Em conjunto”, escreveram os pesquisadores, “as evidências atuais sugerem que a diabete tipo 2 é uma das possíveis consequências da síndrome multifacetada da covid e que as estratégias de cuidados após a doença devem incluir a identificação e o gerenciamento do diabete”.
Fonte: Estadão