H. pylori: transmissão da bactéria é considerada comum na infância, apesar de ser mais descoberta na fase adulta - FRONT SAÚDE

H. pylori: transmissão da bactéria é considerada comum na infância, apesar de ser mais descoberta na fase adulta

Câncer, úlcera e refluxo gastroesofágico, são algumas das doenças que podem atingir o estômago. A Helicobater Pylori, popularmente chamada de H. pylori, é uma bactéria que causa uma infecção no órgão. Além de ser considerada comum, está associada a outras complicações como, por exemplo, a gastrite.

O que é e suas causas

A gastroenterologista Fabrícia Maciel explica que a H. pylori é uma bactéria que fica alojada no estômago. “Não existe uma causa, mas sim uma transmissão, quando a pessoa é infectada. No último Guideline de 2021 da Organização Mundial de Gastroenterologia (OMG), foi apresentado que a transmissão pode ocorrer na primeira infância, mas mais comum ao se tornar adulto”.

Segundo a especialista, existe a transmissão oral-oral, gastro-oral ou fecal-oral, que seria a menos provável, pelo menos, nos países desenvolvidos. “A gente pode perceber uma transmissão fecal-oral no Brasil porque a gente tem uma condição sanitária muito ruim”, afirma.

Como ela pode ser identificada?

Fabrícia esclarece que a identificação da bactéria pode ser feita através de testes diretos ou indiretos. “O mais comum é a endoscopia, onde se faz uma biópsia, em que é colocado um pedacinho do tecido dentro do Teste da Urease, e se tornar uma cor vermelha, indica positivo”.

Além desses, a médica destaca alguns outros meios para o diagnóstico. “A gente leva a mesma biópsia para o Eixo Histopatológico, e aí se faz uma lâmina e uma coloração específica para o H. pylori. Também há o Teste da Ureia Marcada onde a gente pode fazer com o teste respiratório”.

Ela pontua que há alguns outros exames, mas que são raramente usados em grandes centros com diagnóstico mais relacionado a pesquisa como cultura, PCR, exames de antígeno fecal e PCR nas fezes.

Ela infecta outros órgãos?

A gastro menciona que a H. Pylori não atinge outros órgãos, e que uma das suas características é infectar e se alojar no estômago. “O estômago humano tem um PH menor que 4, bem ácido. Isso é, na verdade, uma grande defesa do organismo para essas infecções porque elas não vão sobreviver nesse meio ácido”.

A especialista esclarece que mesmo com tanta acidez, a bactéria consegue sobreviver no estômago. “A H. pylori é capaz de neutralizar o suco gástrico porque ele secreta uma substância chamada urease, enzima que transforma o ácido gástrico em amônia, produto menos ácido, capaz de penetrar na mucosa, pele que reveste o estômago. Por isso ela é capaz de habitar ali num ambiente tão hostil”.

Quem pode ter?

A especialista cita que a H. pylori pode acometer qualquer humano, “é muito importante que a gente diga que a transmissão pode ocorrer na primeira infância e que isso vai depender diretamente das condições socioeconômicas”.

Ela ressalta que o Brasil tem circunstâncias que favorecem o acometimento de pessoas por H. pylori. “É um país em desenvolvimento que tem condições sanitárias muito ruins. E se não tratada com antibiótico, ela tende a ser uma gastrite crônica no estômago”.

Sintomas

A médica pontua que a infecção pela H. pylori é frequentemente assintomática, mas os sintomas podem vir de doenças que podem coexistir com a bactéria como:

Dispepsia – saciedade precoce;

Dor epigástrica;

Queimação;

Associações com deficiência de ferro;

Púrpura Trombocitopênica Imune (PTI), doença hematológica com deficiência de vitamina B12.

“Há estudos colocando também a infecção da H. pylori pelo mau hálito e pode ter outras associações. Sempre teremos uma sobreposição devido a infecção crônica com outras condições, e isso é muito frequente, como no caso da dispepsia, da úlcera gastroduodenal, que é uma manifestação mais exuberante, uma dor epigástrica que vai e volta, e piora ou melhora com o alimento”, detalha Fabrícia.

Ela continua explicando que a infecção por h. pylori está relacionada a essa linha de doença, como a úlcera péptica, principalmente dos pacientes que fazem uso de aspirina e com o próprio câncer gástrico. “Não é todo paciente que tem H. pylori que vai desenvolver câncer, e a H. pylori não é a bactéria do câncer. O H. pylori entra em um contexto multifatorial porque toda neoplasia e todo câncer são multifatoriais, e nesses fatores, existe o fator infeccioso que é do H. pylori”.

A médica enfatiza que há uma correlação com o câncer chamado Linfoma tipo Malt que pode ter até regressão com o tratamento da H. pylori. E que o câncer gástrico tem uma alta incidência no Brasil, sendo considerado um dos cinco câncers que causa mortalidade no país. “A gente tem diferenças regionais, mas Belém e o Pará estão no cinturão do câncer gástrico. O H. pylori está associado à taxa de diminuição do câncer, mas sempre lembrando do contexto multifatorial para o desenvolvimento da doença”.

Tratamento

O tratamento é feito com antibióticos por um determinado período. “Geralmente, a gente faz uso de dois ou três antibióticos junto com algum prazol, um Inibidor da Bomba de Próton ou IBP, de 14 a 21 dias”, afirma. Fabrícia finaliza que a bactéria causa impacto na flora gástrica, assim como na flora intestinal. “Temos evidências para usar durante esse tratamento um probiótico para reduzir o efeito danoso que vai ser feito dentro da microbiota intestinal”.