73.610 novos casos de câncer de mama são diagnosticados por ano, no Brasil.
Conforme a estimativa do INCA para o período de 2023 a 2025, o câncer de mama continua sendo o segundo tipo com maior incidência, com 10,5% do total de diagnósticos em mulheres (sem considerar o câncer de pele não melanoma).
No Pará, assim como acontece na estimativa nacional, é o segundo tipo de maior incidência entre as mulheres, atrás do câncer de colo de útero (excetuando o câncer de pele não melanoma).
Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), uma em cada 8 mulheres receberão o diagnóstico de um tumor nas mamas em alguma fase da vida.
Quando a doença é descoberta cedo, os tratamentos podem ser menos agressivos, além de terem uma maior chance de sucesso.
A enfermeira Vaneza Leite é um exemplo de como o diagnóstico precoce é importante. Ela recebeu o diagnóstico de câncer de mama aos 39 anos.
Vaneza conta que não sentia nada e que desde os 17 anos faz o check-up ginecológico anual. Foi durante essa consulta de rotina na ginecologista que descobriu o câncer de mama.
“A médica sempre fazia exames de ultrassom durante as consultas e identificou um nódulo bem pequeno na mama esquerda. Pediu uma mamografia e encaminhou para um mastologista para investigar com biopsia”, lembra Vaneza.
Como Vaneza tem um estilo de vida saudável, não acreditava que teria uma doença grave. “Sempre fiz exercícios físicos e procuro me alimentar bem, na medida do possível, além de não fumar e não consumir álcool”, diz ela. Mas o resultado confirmou o câncer de mama em estágio inicial, no dia 7 de fevereiro de 2024.
Depois de mais exames para confirmar o tipo de câncer (subtipo luminal – que se alimenta de hormônios) e o estadiamento, Vaneza fez a cirurgia para retirada do tumor em 19 de março.
“Como o tumor era bem pequeno, estava no início, fiz uma mastectomia parcial, só retirou um quadrante da mama e nem precisou fazer cirurgia plástica depois”, explica Vaneza.
Ela começou o tratamento em 17 de abril, com 4 sessões de quimioterapia e 15 sessões de radioterapia. Vaneza agora faz hormonioterapia e acompanhamento para controle.
“O diagnóstico precoce é o melhor que podemos ter, ajuda muito no tratamento da doença, ser rápido e menos agressivo. Estou bem e tranquila de que a doença foi tratada a tempo”, avalia.
Em 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como objetivo diminuir a mortalidade global de câncer de mama em 2,5%, anualmente, entre 2020 e 2040.
No entanto, o que se percebe é o aumento percentual, ao contrário da meta estabelecida pela OMS.
Estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e publicado no International Journal Public Health (IJPH), a partir de dados do DataSUS, após a pandemia de Covid-19, mostrou um aumento de 26% nos casos de câncer de mama nos estágios mais graves da doença.
A FEMAMA (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama) aponta que 1 em cada 6 mortes pela doença no Brasil é de mulheres com menos de 50 anos.
A alta taxa de mortalidade é uma tendência crescente em todas as regiões do Brasil, porém é mais acentuada nas regiões Norte e Nordeste, onde as mulheres têm maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde e, consequentemente, diagnósticos tardios, além da falta de recursos e encaminhamento oportuno para os tratamentos.
Diversos estudos apontam a relevância da realização anual da mamografia, em mulheres a partir dos 40 anos, assintomáticas, pelo potencial que esse exame tem de identificar lesões ainda não palpáveis.
Quando o câncer de mama é descoberto num estágio muito inicial isso pode ter um impacto de 25% a 40% na redução da mortalidade por câncer de mama.
Para o mastologista Fábio Botelho, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Pará, o cuidado das mulheres com a própria saúde deve ser redobrado.
“É do conhecimento de todos que a grande arma para redução da mortalidade reside no diagnóstico precoce, daí a necessidade de as mulheres se submeterem a exames de mamografia anualmente a partir dos quarenta anos”.
O rastreamento da doença com a realização de mamografias anuais a partir dos 40 anos é uma estratégia importante para reduzir a mortalidade da doença, pois permite identificar tumores em estágios iniciais, ainda assintomáticos; facilita o tratamento e aumenta as taxas de sobrevivência.
As pesquisas comprovam que esse rastreamento é capaz de salvar vidas, pois assegura o diagnóstico precoce, quando as chances de cura são superiores a 90%.
O câncer de mama atinge, principalmente, mulheres acima dos 50 anos, mas o aumento da incidência entre mulheres jovens, abaixo de 40 anos, vem chamando a atenção.
Desde 2020, chegou a cerca de 5% dos casos. Historicamente, era de apenas 2%, segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
O aumento da incidência em mulheres jovens é preocupante por algumas razões. Só existe protocolo de rastreamento (medidas que devem ser tomadas mesmo sem sintomas) para mulheres a partir dos 40 anos. A SBM recomenda a mamografia e a consulta com o especialista anualmente.
A SBM defende a ampliação do acesso a diagnósticos e aprimoramento nos tratamentos no alcance do SUS, e considera imperativo que o Ministério da Saúde reveja o início do rastreamento da doença, com a idade mínima a partir de 40 (atualmente, o rastreamento no serviço público de saúde é feito a partir de 50 anos).
No período de 2015 a 2022, avaliado pelo Panorama do Câncer de Mama, 30,5% dos casos de câncer de mama foram na faixa etária de 30 a 49 anos (117.984 novos casos da doença). A estatística reforça que o ‘rejuvenescimento’ do câncer de mama já é uma realidade no Brasil.
“Apesar de as mulheres jovens serem minoria, não podemos esquecer de que elas têm chances muito maiores de o tumor ser mais agressivo, quando têm câncer na faixa dos 30 anos. Isso significa que elas terão necessidade de fazer um tratamento com mais quimioterápicos, cirurgias maiores e também possuem maiores chances de ter um tumor na outra mama”, destaca o mastologista Fábio Botelho, do Centro de Tratamento Oncológico e presidente da SBM – Regional Pará.
“As políticas públicas em saúde precisam ser fortemente direcionadas para a prevenção. Precisamos de campanhas sobre medidas preventivas que devem ser tomadas por mulheres com mais de 40 anos, sendo a chamada prevenção secundária – que assegura o diagnóstico precoce; e de campanhas que falem de medidas de prevenção primária. Ou seja, de estilo de vida saudável”, assegura o médico Fábio Botelho.
Além da realização frequente dos exames preventivos, uma rotina saudável ajuda a diminuir os riscos de câncer de mama.
Controlar o excesso de peso, não fumar, manter uma alimentação saudável e atividades físicas são essenciais para a redução dos riscos de incidência da doença são relevantes tanto para reduzir as chances de desenvolver câncer de mama quanto para diminuir os riscos de recidiva da doença. Uma rotina saudável pode prevenir em até 40% dos casos.
“Temos boas razões para supor que o atual estilo de vida das brasileiras é decisivo para esse crescimento do câncer de mama entre mulheres. Hoje, elas têm menos filhos; optam, geralmente, por uma gestação depois dos 30, 35 anos; possuem, muitas vezes, uma rotina estressante, com dificuldades para ter uma boa alimentação e prática regular de atividade física; além do consumo de álcool, hábito crescente entre as mulheres. Tudo isso tem relação direta com o câncer de mama”, finaliza o mastologista Fábio Botelho.
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