Um levantamento realizado por técnicos do Ministério da Saúde e pesquisadores da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde revelou que a maioria dos órgãos oferecidos para transplante no Brasil entre 2014 e 2021 não foi aproveitada. Dos 22.824 órgãos oferecidos nesse período, 63% foram recusados pelas equipes médicas responsáveis pelos transplantes. A principal razão para as recusas foi a condição clínica dos doadores, como idade avançada, comorbidades ou infecções. Em alguns casos, os órgãos tinham lesões ou alterações que impediam seu uso.
Contrariando a crença comum de que problemas logísticos são os principais entraves para os transplantes, apenas 6% das recusas estavam relacionadas a essas questões. Uma parte significativa das recusas (21%) não foi especificada, mas dados preliminares sugerem que podem estar relacionadas a desigualdades na distribuição de serviços especializados em transplantes pelo país.
Algumas regiões do Brasil não possuem centros de transplantes, o que leva os pacientes a serem inscritos em listas de espera de outros estados. Além disso, há restrições de transporte para órgãos como coração e pulmão devido ao tempo limitado de isquemia, o que dificulta o transporte para regiões distantes. Esses fatores contribuem para o baixo aproveitamento dos órgãos ofertados.
Mesmo quando os órgãos são inicialmente aceitos, alguns podem acabar não sendo utilizados devido a anormalidades identificadas durante a cirurgia ou más condições de conservação. Os órgãos descartados passam por exame anatomopatológico para garantir sua não utilização fora da fila de espera e evitar desvios e comercialização.
Apesar do aumento na oferta de órgãos sólidos nos últimos anos, ainda há uma grande desproporção entre a demanda e a oferta. A lista de espera nacional por órgãos sólidos tinha cerca de 34.830 pessoas inscritas no final de 2022, enquanto apenas 7.473 transplantes foram realizados no mesmo ano.
A pandemia de COVID-19 também afetou o número de transplantes, pois profissionais de saúde foram deslocados para o cuidado de pacientes com a doença. Além disso, o número de famílias que não autorizam a doação de órgãos também aumentou.
Embora o Brasil seja referência em doação e transplante de órgãos, garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ainda há muitos desafios a enfrentar. O acesso aos transplantes com equidade é um problema, especialmente para a população em regiões distantes dos centros transplantadores. Além disso, é necessário aumentar a conscientização da classe médica sobre o diagnóstico de morte encefálica e melhorar as estratégias de capacitação. O sistema de doação de órgãos no Brasil é conservador, o que restringe as possibilidades de transplante, e a falta de recursos adequados contribui para essas restrições.
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