Desde o início de 2020, a pandemia de coronavírus tem pressionado intensamente os sistemas de saúde, revelando suas fragilidades.
Em paralelo, as mudanças climáticas exacerbam essa pressão, impactando diretamente a saúde humana e sobrecarregando serviços ao redor do mundo.
Desastres naturais, como enchentes, secas, deslizamentos e tempestades, não apenas causam danos imediatos à infraestrutura, mas também aumentam a demanda por cuidados médicos, sobrecarregando frequentemente os recursos disponíveis.
RISCOS RELACIONADOS ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Os riscos para a saúde devido às mudanças climáticas são variados, incluindo a disseminação de doenças transmitidas por vetores e a diminuição do acesso a serviços básicos devido a desastres naturais.
A poluição do ar, um fator agravante das mudanças climáticas, mata 4,2 milhões de pessoas por ano, com o ozônio troposférico se tornando ainda mais prejudicial à saúde humana em temperaturas mais altas.
Furacões e inundações podem limitar ou eliminar o acesso a infraestruturas e serviços de saúde, expondo ainda mais as lacunas nos sistemas de saúde.
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR VETORES E PELA ÁGUA
As mudanças climáticas estão redistribuindo e ampliando os habitats de mosquitos e outros patógenos, resultando na disseminação de doenças contagiosas em novas áreas.
Por exemplo, a malária, antes restrita a certas regiões, está agora alcançando novos vilarejos devido às temperaturas mais altas.
A OMS estima que um sexto das doenças e deficiências globais são causadas por doenças transmitidas por vetores, e essas doenças devem se espalhar ainda mais com as mudanças climáticas.
RISCOS DE VIDA E SUBSISTÊNCIA
Temperaturas mais altas e eventos climáticos extremos, como chuvas intensas e ciclones, podem causar ferimentos físicos, contaminação da água e transtornos mentais.
Ondas de calor intensas reduzem a capacidade de trabalho e podem levar a hipertermia e morte.
A salinização devido à elevação do nível do mar pode afetar negativamente a produção agrícola, levando à insegurança alimentar e à subnutrição.
INIQUIDADES SOCIAIS
Os impactos das mudanças climáticas afetam principalmente os grupos mais vulneráveis, como pessoas pobres, mulheres, crianças, idosos e aqueles com doenças pré-existentes.
Esses grupos enfrentam maior risco de ferimentos ou doenças devido a desastres naturais, e a falta de suporte financeiro adequado só agrava essa situação.
EXEMPLOS DE IMPLEMENTAÇÃO
Fiji é um exemplo de sucesso na implementação de um Plano de Ação Estratégico para a Saúde e as Mudanças Climáticas, integrando-o em diversos planos e políticas.
O país criou uma Unidade de Saúde e Mudanças Climáticas dentro do Ministério da Saúde, alocando recursos internos para atividades relacionadas ao clima e à saúde.
A GESTÃO DA SAÚDE DIANTE DOS DESASTRES
Para minimizar os impactos dos desastres, é fundamental que a gestão de saúde pública adote uma abordagem proativa, integrando ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação.
Isso envolve a criação de políticas e diretrizes claras que orientem os profissionais de saúde em todas as fases de um desastre.
A gestão eficaz do risco é essencial, incluindo a avaliação contínua das vulnerabilidades e a adaptação dos planos de contingência para atender às necessidades emergentes.
O PAPEL DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL
A Vigilância em Saúde Ambiental, por meio de programas como o Vigidesastres, desempenha um papel crucial na redução dos riscos associados a desastres.
Este programa é responsável por desenvolver e implementar ações contínuas que protejam tanto a população quanto os profissionais de saúde.
Além disso, ele promove a criação de mapas de riscos, identificando as áreas e populações mais vulneráveis, e facilita a comunicação do risco ambiental para a sociedade.
O GUIA DA FIOCRUZ: UM PASSO ESSENCIAL PARA A PREPARAÇÃO
O guia “Orientações para a Gestão de Riscos de Desastres e Emergências em Saúde”, lançado pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), é uma ferramenta essencial para ajudar gestores do SUS a enfrentarem os desafios impostos por desastres naturais e emergências, fornecendo estratégias que evitam a sobrecarga dos serviços de saúde.
INTEGRAÇÃO E CAPACITAÇÃO: CHAVES PARA A EFICIÊNCIA
O guia destaca a importância da integração entre a atenção primária e a vigilância em saúde, uma lição aprendida com a pandemia de COVID-19.
Essa integração é crucial para enfrentar emergências e desastres futuros, garantindo uma resposta rápida e coordenada.
Além disso, a capacitação contínua dos profissionais de saúde é essencial para estarem preparados para agir em crises, evitando, improvisos e falhas no atendimento.
O QUE PODE ACONTECER SE NÃO HOUVER PREPARAÇÃO?
A falta de preparação para desastres naturais e climáticos pode levar a um colapso dos serviços de saúde.
Hospitais podem ficar sobrecarregados, e a falta de infraestrutura adequada pode resultar em atrasos no atendimento e aumento na mortalidade.
A resposta descoordenada pode agravar ainda mais a situação, com impactos devastadores para a população.
O guia da Fiocruz é uma ferramenta valiosa para orientar a gestão de riscos de desastres e emergências, mas sua efetividade depende da adoção dessas medidas em todas as esferas de governo e da sociedade.
Somente com preparação e organização poderemos enfrentar os desafios que as mudanças climáticas e os desastres naturais impõem ao sistema de saúde.
MEDIDAS NECESSÁRIAS PARA EVITAR A SOBRECARGA E FORTALECER OS SISTEMAS DE SAÚDE
Para garantir que o sistema de saúde esteja preparado para enfrentar desastres naturais e emergências, algumas medidas essenciais devem ser implementadas:
- CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO: profissionais de saúde precisam ser treinados para lidar com situações de emergência, incluindo o atendimento a múltiplas vítimas, a gestão de recursos escassos e a resposta eficaz a emergências climáticas.
- FORTALECIMENTO DAS INFRAESTRUTURAS DE SAÚDE: é fundamental garantir que as unidades de saúde sejam resilientes a desastres, com infraestrutura reforçada, modernização de tecnologias e equipamentos, e planos de continuidade operacional para minimizar interrupções dos serviços.
- PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO ADEQUADOS: investir em planejamento e alocação de recursos financeiros para fortalecer a infraestrutura de saúde, garantindo a construção de cadeias robustas de fornecimento de alimentos e medicamentos durante crises climáticas.
- COORDENAÇÃO INTERSETORIAL: a colaboração entre diferentes setores e instituições é crucial para uma resposta eficiente. Estabelecer comitês de saúde em desastres, tanto em níveis estaduais quanto federais, é uma estratégia importante para coordenar as ações.
- MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO CONTÍNUOS: monitorar constantemente as ameaças e avaliar as respostas são passos necessários para ajustar as estratégias em tempo real, aprimorando a resiliência do sistema de saúde.
- POLÍTICAS E LEIS CLARAS: desenvolver e implementar políticas e regulamentações que garantam a resposta eficiente a desastres, incluindo a criação de proteções contra a interrupção de serviços de saúde.
- COMUNICAÇÃO EFICAZ: estabelecer canais de comunicação claros e eficientes com a população, garantindo que as informações cheguem a todos os cantos do país.
Fontes: Ministério da Saúde, Fiocruz e Wri Brasil
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