Hoje vamos conhecer um pouco da história da belenense Jamile Santos, pedagoga aposentada que em sua rotina atualmente, pratica alguns exercícios físicos e cuida da casa, ambos quando tem força para fazer, vai à igreja, assiste um filme ou ler um livro. Parece uma rotina normal, mas é a questão da força que faz toda a diferença nos que vamos falar agora.
Tudo começou em 2016 quando aos 42 anos, Jamile ao voltar de seu trabalho, percebeu que se sentia inchada e ao ouvir o conselho da sua irmã, foi ao médico nefrologista, especialista em diagnosticar e tratar doenças renais, pois não sabia se o inchaço poderia estar relacionado com os seus rins, ao sistema circulatório ou até mesmo com o anticoncepcional que estava tomando.
Após fazer dezenas de exames repetidas vezes e uma biopsia nos rins, Jamile foi diagnosticada com lúpus, doença autoimune. Infelizmente a doença tinha atingido seus rins, que estavam funcionando com 40% de força. E assim começou a saga do tratamento. Logo foi internada e tratada a base de fortes corticoides, que não deram resultado. Depois passou para a pulsoterapia, administração de altas doses de medicamentos por curtos períodos, para o tratamento de doenças autoimunes como, o próprio lúpus, artrite reumatoide e a esclerose múltipla.
Não vendo resultado e não aguentando os efeitos colaterais, já que ela sempre se sentia fraca, muito enjoada e com tonteira. Jamile só tinha duas opções, hemodiálise, procedimento através do qual uma máquina filtra e limpa o sangue, fazendo parte do trabalho que o rim doente não pode fazer, ou um transplante do órgão.
Para a escolha do transplante, alguns critérios são verificados. Ricardo Tuma, chefe do serviço de urologia do Hospital Ophir Loyola, explica que o critério primordial é a presença de insuficiência renal crônica terminal, caracterizada pela falta de recuperação funcional dos rins. Embora haja casos em que a função renal pode ser temporariamente recuperada, a maioria dos pacientes se enquadra nessa categoria.
Oseas, marido de Jamile perguntou ao médico que cuidou de sua esposa se ele mesmo não poderia doar o rim para ela. Para saber se poderia, mais uma bateria de exames foi feita pelos dois. Ricardo fala que critérios clínicos, incluindo compatibilidade sanguínea e condições anatômicas, são meticulosamente avaliados antes da cirurgia, pois o transplante é uma intervenção complexa que exige uma saúde ótima do receptor. Já que condições como tumores ativos ou outras doenças graves não controladas inviabilizam o procedimento, principalmente devido à necessidade de medicamentos imunossupressores pós-transplante, que podem interferir em outras condições de saúde do paciente.
Jamile e sua família são muito devotas a Deus, e acreditavam que o impossível aconteceria se Ele quisesse e que um milagre viria. Ela conta que o transplante de mulheres para homens é mais fácil que o contrário. Mas no caso do seu marido foi diferente. O rim de Oseas não só era compatível como era mais compatível que um rim que viesse de um irmão, por exemplo. Mas nem todos têm a mesma sorte que a Jamile.
Ricardo Tuma conta que um dos maiores desafios nos transplantes é a doação múltipla, onde é essencial manter uma equipe dedicada e vocacionada, disponível 24/7, pois a maioria dos transplantes não tem hora marcada. A disponibilidade é crucial devido ao tempo de isquemia fria, quando o órgão fica no gelo, o que afeta os resultados. Além disso, outro desafio é a busca por órgãos, envolvendo abordagens sensíveis às famílias dos potenciais doadores em momentos de dor. Campanhas educativas são importantes para conscientizar as pessoas sobre a importância da doação de órgãos.
Mesmo com uma alta compatibilidade, o transplante não foi tão simples assim para Jamile, ela tinha que estar com o lúpus remissivo e seu marido teve que emagrecer 12 kg para que pudesse doar o órgão. Além de todos os exames que ambos foram submetidos, como a prova cruzada que ver o nível de compatibilidade. E assim, dia 24 de abril de 2019, Jamile foi submetida ao transplante de rim, e com orgulho diz que irá comemorar 05 anos de transplantada mês que vem.
O Médico Ricardo diz que após o transplante, a pessoa pode retomar uma vida quase normal, deixando para trás a necessidade de hemodiálise peritoneal. No entanto, a disciplina do paciente é fundamental para seguir corretamente a medicação prescrita para não haver rejeição do órgão pelo corpo e comparecer às consultas regularmente. Com Jamile foi mais complicado.
“O período após o transplante não foi fácil para mim, especialmente porque sofro de lúpus, uma doença autoimune na qual o organismo reage rapidamente à presença de substâncias estranhas no corpo, então experimentei duas rejeições. A primeira foi tratada com doses elevadas de corticoides, conhecidas como imunoglobulina; e a segunda, mais severa, foi tratada com um procedimento chamado plasmaférese, que é semelhante à hemodiálise e visa filtrar as impurezas do sangue”.
Ainda internada e com sua imunidade baixa após o transplante, ela pegou uma infecção, mas conseguiu vencer esse obstáculo e nunca mais teve sinais de rejeição. “No meu caso, sendo portadora de lúpus e insuficiência renal crônica, que demanda imunossupressores contínuos, o cuidado pós-transplante é essencial. Minha imunidade permanece baixa, o que me torna mais suscetível a infecções virais e bacterianas”.
Em outros casos, Ricardo lembra que alguns pacientes podem inicialmente ter sucesso com o transplante, mas, devido à falta de cuidados adequados, podem eventualmente perder o órgão transplantado e precisar retornar à hemodiálise. Portanto, é essencial que o paciente adote cuidados adicionais, não apenas em relação à medicação e à dieta, mas também em relação à atividade física.
Aqui no Pará, segundo a Secretaria de Saúde Pública (SESPA), há 549 pacientes aguardando por um rim acima dos 18 anos, sendo 226 do sexo feminino e 323 do sexo masculino. E 38 pacientes com até 17 anos aguardando por um rim, sendo 17 do sexo feminino e 21 do sexo masculino.
A SESPA também informou que os transplantes de rins são realizados desde 1999 no estado do Pará, e que do primeiro ano até 2023 foram realizados 1.023 transplantes renais. Sendo que os transplantes renais no estado são realizados em três localidades, na capital, Belém, os transplantes renais são realizados no Hospital Ophir Loyola (HOL) e Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará e no Hospital Saúde da Mulher, sendo esse último não SUS. Também realizam transplante renal o Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA) em Santarém, e o Hospital Regional Público do Araguaia (HRPA), em Redenção.
Ricardo finaliza dizendo que a conscientização sobre a doação de órgãos é crucial, e os meios de comunicação desempenham um papel fundamental nisso. As campanhas educativas são essenciais para garantir que mais pacientes possam receber transplantes. Além disso, a doação não se limita apenas ao doador falecido, pois um doador pode beneficiar várias pessoas. É fundamental pensar nos benefícios que a doação pode trazer para outras pessoas e estar ciente de que todos nós podemos precisar de um transplante em algum momento.
Jamile fala que ser um doador de órgãos é um ato de amor, conforme mencionado em Mateus 22:39, onde é destacada a importância de amar o próximo como a si mesmo. É essencial comunicar claramente à família o desejo de doar órgãos após a morte, se possível. A empatia e a compreensão da dificuldade enfrentada por aqueles que aguardam um órgão são cruciais. Muitas pessoas dependem de transplantes para sobreviver, e a conscientização sobre a importância da doação é fundamental para salvar vidas.
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