A incidência e a mortalidade por câncer estão aumentando globalmente, inclusive no Brasil. A estimativa do câncer divulgada no início do ano passado pelo INCA confirma essa tendência: o Brasil terá 704 mil novos casos de câncer diagnosticados por ano, no triênio 2023 a 2025.
O crescimento representa um aumento de 12,64% dos casos de câncer no Brasil, comparando com estimativa anterior (2020-2022) – quando foram estimados 625 mil casos novos por ano. Desde que o Instituto Nacional de Câncer iniciou o monitoramento anual dos casos de câncer, no final da década de 1970, os números não pararam de aumentar.
No Brasil, o tipo mais comum é o câncer de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%).
Devido ao caráter epidêmico e pelos índices crescentes de mortalidade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o câncer como o principal problema de saúde pública do mundo. Os números reafirmam o câncer como a 2ª causa de mortes por doença. A OMS prevê que até 2030 o câncer vai ocupar o 1º lugar, ultrapassando as doenças cardiovasculares.
Uma das razões para esse crescimento é o aumento da expectativa de vida da população, já que o câncer é uma doença da terceira idade.
Mas, apesar de estar ligada ao envelhecimento, as pesquisas também apontam uma mudança no perfil dos pacientes – a expansão dos casos é consequência da maior exposição aos principais fatores de risco: tabagismo, má alimentação, sedentarismo, consumo de bebidas alcoólicas, obesidade, exposição ao sol sem proteção e exposição à poluição.
Todos esses fatores estão ligados ao estilo de vida, aos hábitos que podem ser modificados para garantir a prevenção ao câncer e outras doenças.
Abaixo de 50 anos – Um novo estudo internacional, publicado na revista BMJ Oncology, no final do ano passado, revela que os quadros oncológicos em pessoas com menos de 50 anos também cresceram de forma significativa. Os pesquisadores revisaram as estatísticas sobre o câncer em 204 países, através do banco de dados do programa Global Burden of Disease (GBD).
Entre 1990 e 2019, ocorreu um aumento de 79,1% nos casos de câncer precoce. Nesse mesmo intervalo, de aproximadamente 30 anos, as mortes por câncer de início em pessoas com menos de 50 anos também aumentaram 27,7%.
O Brasil segue essa tendência. Dados do Observatório de Oncologia apontam um aumento de 31% de casos de câncer em pacientes com menos de 50 anos até 2030.
Boas notícias – O INCA aponta uma possível redução da mortalidade por câncer no Brasil até o final desta década. Os pesquisadores compararam as mortes registradas no País entre 2011 e 2015 com as projeções de óbitos por câncer de 2026 a 2030.O resultado aponta para uma possível redução, de 12% em homens e de 4,6% em mulheres.
O estudo foi realizado em resposta aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas (ONU), com o desafio de reduzir em 1/3 a mortalidade na faixa etária de 30 a 69 anos por doenças crônicas não transmissíveis, como o câncer.
Outra boa notícia está relacionada à prevenção do câncer de pulmão, o tipo mais letal e de alta incidência no Brasil. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que o câncer de pulmão pode ter a sua letalidade reduzida em 28% até 2030, como reflexo da redução no número de fumantes no País. Em 15 anos, a porcentagem de adultos fumantes no Brasil caiu de 15.7% para 9.1%.
O Brasil ainda possui uma taxa alta de usuários – 12% dos brasileiros consomem cigarros diariamente, mas a redução do número de fumantes no Brasil é animadora. O País é apontado pela OMS como um dos destaques positivos no combate ao tabagismo. O tabaco está relacionado a 90% dos cânceres de pulmão.
Prevenção e estilo de vida – Para que as projeções de redução dos casos de câncer se tornem realidade é fundamental reforçar a relevância da prevenção, com medidas como o estímulo à vacinação contra o HPV e hepatite (que previnem cânceres de colo de útero e de fígado, respectivamente), o controle da obesidade, a promoção de uma dieta saudável, a prática de atividades físicas, o uso do protetor solar, a redução do consumo de álcool e o combate ao tabagismo, além da disponibilidade e acesso a recursos de diagnóstico e tratamento mais avançado.
“Quando falamos em prevenção, é sempre bom lembrar que existem 2 tipos. O primeiro tipo é o que chamamos de prevenção primária, que significa ter um estilo de vida saudável. Se alimentar bem, praticar exercícios físicos regularmente, não fumar, controlar o peso corporal e o consumo de bebida alcoólica, dormir bem e se proteger do sol resume bem o que é um estilo de vida saudável. Esse tipo de prevenção pode evitar cerca de 30% dos cânceres, que são aqueles diretamente relacionados com os nossos hábitos”, destaca a oncologista Paula Sampaio.
“O segundo tipo de prevenção é a secundária, que são medidas que devem ser tomadas para assegurar o diagnóstico precoce. Essas medidas não evitam o câncer, mas, atenção, salvam vidas. Exemplo de prevenção secundária: todas as mulheres, a partir dos 40 anos, devem ter anualmente uma consulta com um especialista e fazer o exame de mamografia visando detectar precocemente o câncer de mama. Quando o câncer é descoberto no início, as chances de cura são superiores a 90%”, conclui a médica.
Dia Mundial do Câncer – O Dia Mundial do Câncer foi criado pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) em apoio aos objetivos da Declaração Mundial do Câncer, lançada em 2008. A cada 4 de fevereiro, um esforço coletivo e mundial é realizado para conscientizar a população e as autoridades sobre a prevenção e o controle da doença, para diminuir o número de mortes causadas pela doença.
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