Apostas online: uma nova crise de saúde pública?
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Apostas online: uma nova crise de saúde pública?

Enquanto o Brasil corre para regulamentar as casas de apostas online, sob a justificativa de gerar empregos, impostos e publicidade, a dimensão do problema de saúde pública que essa nova epidemia de vício está trazendo é praticamente ignorada.

A disseminação desse vício é silenciosa e rápida, afetando a sociedade de forma tão devastadora quanto outras drogas, mas com a diferença de ser acessível a qualquer momento, diretamente pelo celular.

O CRESCIMENTO DO VÍCIO E SEUS IMPACTOS

As apostas online, ou “bets”, estão se popularizando em uma velocidade assustadora. O problema se agrava pelo fato de essas empresas operarem no limbo jurídico enquanto aguardam a regulamentação.

Mesmo sem regulamentação, centros de tratamento já relatam um aumento significativo na demanda por ajuda de pessoas viciadas em apostas e endividadas ao ponto de considerar o suicídio.

A promessa de dinheiro fácil, em um país onde milhões de pessoas têm poucos recursos, está levando ao aumento de casos de adoecimento psíquico e destruição financeira.

A DESIGUALDADE NAS AUDIÊNCIAS E AS CONSEQUÊNCIAS

De acordo com uma reportagem da Folha de S.Paulo, durante a elaboração da regulamentação do mercado de apostas, representantes das casas de apostas foram ouvidos pelo governo 251 vezes, enquanto profissionais de saúde foram consultados apenas cinco vezes.

Essa disparidade evidencia o desequilíbrio nas discussões sobre o impacto das apostas na saúde pública. A maioria dos apostadores são jovens adultos das classes C, D e E, o que torna a situação ainda mais alarmante.

Um terço dos apostadores está endividado e com o nome sujo, criando uma bola de neve de problemas financeiros e emocionais.

O LADO SOMBRIO DAS APOSTAS: CASOS REAIS

Casos reais mostram a gravidade da situação. Em junho, uma reportagem do UOL revelou que trabalhadores estão se endividando com seus empregadores e perdendo todo o dinheiro da própria sobrevivência por causa das apostas online.

Em outro caso, uma mulher de 22 anos foi presa no Paraná por desviar mais de R$ 179 mil do avô para gastar em apostas. Esses exemplos ilustram o impacto devastador das bets, que podem destruir vidas e famílias inteiras.

A HIPOCRISIA NA LEGISLAÇÃO E A REALIDADE DAS APOSTAS

Há uma clara contradição na forma como o Congresso trata as apostas em comparação com outras questões de saúde pública, como o uso de drogas.

Enquanto as apostas são vistas como uma oportunidade de lucro, o uso de drogas é criminalizado, ignorando que ambos os problemas deveriam ser abordados sob a ótica da saúde pública.

Com a regulamentação das bets, o Estado brasileiro legitimou uma prática que, apesar de prometer controle e fiscalização, na verdade, serve para enriquecer empresas, muitas delas estrangeiras, às custas dos cidadãos brasileiros.

A NECESSIDADE DE INVESTIMENTO NO SUS PARA TRATAR DEPENDENTES

Dado o impacto das apostas na saúde pública, é fundamental que a regulamentação preveja que uma parte significativa dos impostos arrecadados seja destinada ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Esse montante deveria ser utilizado exclusivamente para tratar pessoas que adoecerem devido ao vício em apostas, criando uma rede de suporte e tratamento para aqueles que mais sofrem com essa nova epidemia.

UM FUTURO PREOCUPANTE

A regulamentação das apostas online é um caminho sem volta, mas é necessário que o Estado esteja preparado para lidar com as consequências desse fenômeno.

Se nada for feito para equilibrar o lucro das casas de apostas com o investimento em saúde pública, o Brasil pode se ver diante de uma crise ainda maior, em que os mais pobres são sugados até o limite por um sistema que prioriza o lucro em detrimento da vida.

OBS.: O TEXTO FOI PRODUZIDO COM BASE NA OPINIÃO DE LEONARDO SAKAMOTO PARA O UOL

Fonte: UOL