Em Phoenix, no Arizona, os termômetros ultrapassaram os 43°C por cerca de 20 dias, algo inédito desde 1974. As condições extremas fazem da cidade um laboratório de pesquisas climáticas – e é lá que cientistas desenvolveram um robô humanoide sensível às altas temperaturas, para estudar o impacto das ondas de calor no corpo humano.
O que acontece quando enfrentamos picos de calor? E como se proteger contra eles, em um planeta que está em aquecimento? É para responder a essas questões que os pesquisadores desenvolveram Andi, um robô capaz de respirar, tremer e suar. O manequim térmico tem 1,78 metro de altura e foi desenvolvido por cientistas da Arizona State University.
Andi parece um simples boneco de teste de colisão de veículos, mas na realidade esconde tesouros da tecnologia. Sob sua epiderme de fibra de carbono, possui 35 zonas térmicas independentes equipadas com sensores conectados, que avaliam como o calor se difunde pelo corpo. O seu sistema de refrigeração, composto por poros, lhe permite transpirar e, assim, regular a sua temperatura como um ser humano. Como uma pessoa, Andi transpira mais nas costas do que nas panturrilhas ou antebraços, por exemplo.
Entendendo a hipertermia para se adaptar ao aquecimento global
Uma dezena de manequins térmicos semelhantes já são usados por fabricantes de roupas de esportes radicais para testar seus produtos, mas Andi é o único que pode ser usado ao ar livre e, acima de tudo, visa o avanço das pesquisas.
Como os experimentos do gênero não podem ser realizados em seres humanos, as reações do nosso corpo quando exposto a temperaturas extremas ainda são pouco compreendidas. Para ampliar os estudos, os cientistas da Universidade do Arizona agora podem deixar Andi à mercê do calor escaldante em Phoenix por horas e analisar como a hipertermia se manifesta em humanos.
O robô ajudará a entender melhor a hipertermia, doença do século 21 que ameaça uma parte crescente da população mundial por causa do aquecimento global. Por razões éticas óbvias, “ninguém estuda o aumento da temperatura corporal enquanto alguém sofre de insolação”, explica o professor de engenharia mecânica Konrad Rykaczewski, envolvido no projeto.
Com o Andi, isso se torna possível, em condições reais. Acompanhado por Marty, uma estação meteorológica móvel que mede o calor refletido pelos edifícios ao seu redor, o robô dá seus primeiros passos em meio a uma onda de calor histórica em Phoenix.
“Se o futuro de Paris se parece com Phoenix hoje, podemos aprender muito sobre a forma como projetamos edifícios”, continua Rykaczewski. “Como mudá-los? E como mudarmos o que vestimos? Como podemos modificar nosso comportamento e adaptá-lo a temperaturas desta ordem de grandeza?”, complementa.
Os efeitos do calor em cada tipo de pessoa
Andi também é infinitamente reprogramável. A equipe de pesquisa pode “criar gêmeos digitais do manequim para estudar diferentes segmentos da população”, diz Jennifer Vanos, climatologista também envolvida no projeto. Jovens, atletas, obesos ou com saúde frágil: os cientistas podem simular os mecanismos de termorregulação específicos de cada pessoa, incluindo o fato de que quanto mais envelhece, menos transpira.
Ao contrário dos mortais comuns, Andi também pode sobreviver sob a luz direta do sol sem derramar uma gota, em experimentos nos quais a transpiração não é um fator importante. Como enfrentar um vento quente, um calor úmido, e com que tipo de roupa? Os cientistas vão testá-lo em várias situações. As pesquisas serão úteis para projetar roupas contra o calor, repensar o planejamento urbano das cidades ou proteger os mais vulneráveis.
Texto da Rádio França Internacional, com informação da AFP
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