Na medicina, uma síndrome é caracterizada como um conjunto de sinais e sintomas que estão ligados a mais de uma causa. Dentre os mais diferentes tipos de síndromes, existe a chamada Síndrome de Noé. “É a forma extrema de acumulação de animais, associada a situação precária de higiene e ausência ou incapacidade de cuidados básicos aos animais. É considerada uma variante do transtorno de acumulação”, explica o psiquiatra Rodrigo Jorge D’Oliveira.
Sintomas
Segundo o médico, os principais sintomas são:
Rodrigo pontua que nem sempre pessoas conseguem perceber que tem a síndrome de Noé. “Existe um baixo insight, isso quer dizer, baixa capacidade de consciência sobre a extensão do problema. Muitos não veem seu comportamento como um problema, e sim como uma parte razoável da sua identidade”.
Causas
O especialista esclarece que diversas causas podem estar associadas e que existem aspectos familiares com 80% dos acumuladores terem algum parente de primeiro grau com comportamento de acumulação. “Algumas pesquisas mostram menor atividade cerebral em regiões específicas na tomada de decisões e outras já mostram associação genética no aparecimento da síndrome”, destaca.
Quem pode ser acometido?
Ele lembra que existe um público que pode ter mais chances de desenvolver a síndrome, e que pode ser desenvolvida por situações e experiências vivenciadas pela pessoa. “Tende a afetar mulheres de meia idade ou idosas, socialmente isoladas, que vivem sozinhas e em condições insalubres. Essas pessoas apresentam tipicamente sinais de autonegligência, que podem vir com o preconceito de idade. As perdas que acompanham o envelhecimento, como: mudança dos filhos, morte de cônjuges e amigos podem fornecer um reforço negativo de sentimentos de inutilidade, gerando início de acúmulo a fim de compensar tais estressores de vida”.
Diagnóstico
De acordo com o médico, o diagnóstico é feito através de avaliação com profissional médico especialista, com entrevista e coleta de história adequada, com o paciente e/ou familiares e pessoas próximas. Para auxiliar no diagnóstico, usam-se os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5).
“Deve-se procurar identificar outros transtornos que também possam estar presentes e gerem agravamento dos sintomas, como demências, esquizofrenia, transtornos de personalidade e transtorno obsessivo-compulsivo. Os veterinários podem desempenhar um papel extremamente importante na detecção de casos de acumulação, notificando autoridades competentes”, complementa.
Prejuízos à saúde
Ele lembra que pessoas com essa síndrome podem desencadear vários problemas à saúde, incluindo o surgimento de demais doenças. “Em geral, a negligência com a higiene e cuidado consigo e com os animais pode gerar a falta de abastecimento de água e eletricidade, infestações de insetos, acúmulo carcaças de animais, fezes, urina, comida podre e má qualidade do ar, além do risco de incêndio. Tais condições geram implicações na saúde pública, incluindo o aparecimento de doenças infecciosas”, comenta.
Tratamento
Rodrigo menciona que há tratamento para a síndrome de Noé, além de detalhar de que forma ele pode ser feito. “É baseado em diversos pilares, sendo a intervenção com psicólogo e psiquiatra essenciais. Existem modalidades de terapias voltadas para desenvolver a melhor capacidade de escolhas, autopercepcão, autocuidado, exposição e habituar-se ao descarte. Algumas medicações como os antidepressivos podem ajudar, porém ainda há de se fazer muitos estudos específicos”.
O médico finaliza relatando que a rede de atenção psicossocial do município deve ser acionada e que “o desenvolvimento de uma abordagem interdisciplinar em toda a comunidade, envolvendo serviços psiquiátricos, veterinários, sociais e de saúde pública que possam abordar casos suspeitos pode beneficiar o tratamento do caso. Devemos considerar que o envelhecimento da população e mudança de padrões sociais podem fazer a incidência da síndrome de Noé se elevar nos próximos anos”, conclui.
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