Um dos maiores desafios para os pesquisadores durante a pandemia da Covid-19 é entender a imunidade da população perante vírus, seja pelo surgimento de novas variantes, ou a eficácia da vacinação. Nesse contexto, pesquisadores do Instituto Evandro Chagas, desenvolvem desde agosto de 2020, um projeto de pesquisa que padroniza e valida técnicas sorológicas in house (próprias) para a detecção de anticorpos para a doença.
Como produto da pesquisa, além da obtenção de testes sorológicos de confiabilidade, a utilização dessas ferramentas poderá contribuir para o monitoramento da circulação desse vírus, assim como, no conhecimento acerca da resposta de anticorpos após uma infecção natural ou imunização por vacina.
De acordo com a pesquisadora Dra. Daniele Henriques, coordenadora do projeto, “um dos dificultadores para entender a epidemiologia do SARS-COV-2 (nome científico) está na variabilidade de desempenhos entre os ensaios comerciais ofertados que podem fornecer estimativas não precisas de prevalência e incidência, bem como, prejudicar o entendimento da cinética de anticorpos pós-exposição ao vírus ou vacinal”, explica.
Para chegar aos resultados esperados, os pesquisadores decidiram padronizar o Ensaio Imunoenzimático (ELISA) para detecção de anticorpos neutralizantes Totais, IgG e IgM anti-SARS-CoV-2. Além disso, é realizado um Teste de neutralização por Redução de Placas, o PRNT, que é o teste laboratorial que determina com maior especificidade a capacidade dos anticorpos produzidos em neutralizar a ação viral em cultivo de células de vertebrados, simulando com maior precisão o que acontece in vivo.
Nesse processo, os pesquisadores usaram duas estratégias de protocolos: A primeira delas utilizou o antígeno do vírus produzido a partir da partícula viral inteira e a segunda, foi realizada em parceria com a Universidade Queensland na Australia, onde foi selecionado uma proteína específica do vírus, o domínio de ligação ao receptor (RBD) da proteína spike (S1), a fim de detectar anticorpos que bloqueiam a entrada do vírus nas células. Essa seleção está alinhada com as vacinas atualmente em desenvolvimento que visam à proteína Spike.
Para o desenvolvimento do projeto foram necessárias coletas de amostras de sangue de voluntários, conforme Dra. Daniele Henriques explica acerca do escopo do trabalho: “Será utilizado um painel de amostras bem caracterizado, oriundas de 128 participantes pós-infecção natural, bem como, 156 participantes vacinados (sendo 96 com a Coronavac e 60 entre Astrazeneca e Pfizer). Além disso, serão realizadas coletas seriadas de sangue desses participantes por um ano, com intuito de avaliarmos o momento oportuno da coleta da amostra frente ao diagnóstico padronizado, assim como, realizar acompanhamento da taxa de anticorpos desses indivíduos, dessa forma, trabalharemos em nosso painel com mais de 1.500 amostras de soros”, detalha a especialista.
A coordenadora do projeto comenta que, com a finalização dessas etapas, “os pesquisadores poderão contribuir no conhecimento sobre o tempo necessário pós-vacina para o desenvolvimento de anticorpos neutralizantes, avaliando também se a imunidade adquirida com as doses estipuladas da vacina induzirá imunidade permanente contra a doença.
Tais ferramentas também poderão ser utilizadas na expansão do diagnóstico sorológico validado para Covid-19 na rede de saúde pública e contribuir para redução da variabilidade entre ensaios utilizados pelos Laboratórios de Referência para diagnósticos da doença.
Novas Variantes: Com o desenvolvimento do estudo, uma das técnicas validadas, foi o teste de neutralização por redução de placas. Nesse ensaio é possível medir a capacidade do soro de pessoas que já foram infectadas ou vacinadas, de impedir que o vírus consiga invadir células em cultura.
A pesquisa irá contribuir com os estudos relacionados à infecção por novas variantes, além da eficácia das vacinas utilizadas atualmente. De acordo com a pesquisadora Livia Caricio “Uma nova variante surge a partir de mutações na espécie viral. Nesse sentido, existem alguns critérios que classificam essas novas variantes como de ‘preocupação’ ou não, entre eles está o aumento do potencial de transmissão do vírus, bem como, a redução do potencial neutralizante dos anticorpos. Em relação ao projeto e novas variantes iremos verificar se anticorpos produzidos através de infecção natural e pós-vacina serão capazes de neutralizar a nova variante indiana e P1, bem como, comparar os títulos de anticorpos para poder observar possível redução” finaliza a pesquisadora.
*Fonte Instituto Evandro Chagas
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