Anvisa proíbe manipulação e venda de “chips da beleza” no Brasil
Modelo de implante hormonal, conhecido como "chip da beleza"
Modelo de implante hormonal, conhecido como "chip da beleza"

Anvisa proíbe manipulação e venda de “chips da beleza” no Brasil

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nova resolução na sexta-feira (18), onde suspende a manipulação, comercialização, propaganda e uso dos implantes hormonais manipulados, popularmente chamados de “chips da beleza”.

A decisão tem caráter preventivo e foi tomada após denúncias de entidades médicas, como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), que apontam riscos crescentes à saúde de pacientes que utilizam esse tipo de implante para fins estéticos.

Os “chips da beleza” são largamente utilizados para tratamentos que prometem emagrecimento, controle de sintomas da menopausa, melhora da libido, aumento da massa muscular, entre outros.

No entanto, esses produtos não possuem registro na Anvisa e não foram submetidos a avaliações que garantam sua segurança e eficácia.

DENÚNCIAS E COMPLICAÇÕES REPORTADAS

As denúncias que levaram à proibição partiram de diversos setores médicos, principalmente após o aumento no número de pacientes com problemas graves de saúde decorrentes do uso desses implantes.

Conforme a Anvisa, os produtos manipulados combinam diversos hormônios, incluindo substâncias que não foram aprovadas para uso na forma implantável.

As denúncias relatam desde efeitos colaterais leves até casos de internações graves e até óbitos associados ao uso dos chips.

A Febrasgo, uma das entidades que mais alertaram sobre os riscos, enfatiza que as farmácias de manipulação não têm condições de garantir a qualidade uniforme desses implantes, o que expõe as mulheres a riscos desconhecidos.

Entre as complicações mais comuns relatadas estão o aumento dos níveis de colesterol e triglicerídeos no sangue, hipertensão arterial, arritmias cardíacas, além de efeitos como queda de cabelo, acne severa, e mudanças irreversíveis na voz (disfonia).

IMPACTO NAS FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO

A decisão da Anvisa afetará diretamente as farmácias de manipulação, que produzem esses implantes hormonais.

Até então, os “chips da beleza” eram fabricados nesses estabelecimentos sem a exigência de registro formal ou testes clínicos que atestassem sua segurança.

A resolução da Anvisa, baseada na Lei 6.360/1976 e na RDC 67/2007, estabelece que apenas produtos com comprovação de segurança e eficácia podem ser manipulados.

As farmácias magistrais, responsáveis pela fabricação desses implantes, contestam a decisão, afirmando que a proibição foi feita de forma arbitrária e sem debates técnicos.

De acordo com esses estabelecimentos, os implantes hormonais são uma ferramenta terapêutica eficaz, utilizada em diversos países sob regulamentação rigorosa.

RISCOS À SAÚDE

O uso dos chips da beleza para finalidades estéticas tem sido amplamente criticado pela comunidade médica.

Segundo especialistas, os principais hormônios utilizados nesses implantes são a testosterona e a gestrinona, substâncias que têm efeitos colaterais significativos no corpo humano, especialmente quando usados sem acompanhamento rigoroso.

Além disso, outras substâncias, como a oxandrolona e o estradiol, também são frequentemente incluídas nas fórmulas manipuladas.

Os riscos documentados incluem condições sérias, como dislipidemia (níveis elevados de colesterol e triglicerídeos), hipertensão arterial, acidente vascular cerebral, infarto agudo do miocárdio, e outras complicações cardiovasculares.

Outros efeitos colaterais observados são o crescimento excessivo de pelos (hirsutismo), alopecia (queda de cabelo), acne e insônia.

Além disso, há casos de infecções e complicações dermatológicas e psiquiátricas relacionadas ao uso prolongado desses implantes.

MONITORAMENTO DA ANVISA E INVESTIGAÇÕES EM ANDAMENTO

A Anvisa tem conduzido investigações sobre o uso inadequado de implantes hormonais desde 2021.

Nesse período, a agência emitiu diversas notas técnicas alertando para os perigos envolvidos no uso desses produtos para fins estéticos.

Em dezembro de 2021, a Anvisa já havia proibido a propaganda da gestrinona, um dos principais hormônios presentes nos chips da beleza, em farmácias de manipulação.

Além das notas técnicas, a Anvisa criou um programa de monitoramento de farmácias de manipulação de produtos estéreis.

Em 2022, 18 farmácias foram inspecionadas, das quais 11 apresentaram irregularidades, resultando em interdições parciais em seis estabelecimentos.

Esse programa continua em andamento, visando garantir que produtos manipulados respeitem os mais altos padrões de segurança.

ALERTA ÀS PACIENTES

A Anvisa orienta que todas as pacientes que fazem uso dos implantes hormonais suspensos consultem seus médicos para discutir a continuidade do tratamento ou alternativas seguras.

A agência também recomenda que qualquer reação adversa seja notificada imediatamente pelo sistema de monitoramento disponível em seu site oficial.

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Além disso, a Febrasgo emitiu um alerta sobre a diferença entre os chips da beleza e os implantes contraceptivos subcutâneos, como o Implanon, que continuam a ser permitidos pela Anvisa, já que possuem avaliação de segurança e eficácia.

CONTESTAÇÃO DAS FARMÁCIAS MAGISTRAIS

Em resposta à proibição, as farmácias magistrais argumentam que a medida da Anvisa ignora as evidências científicas que sustentam o uso de implantes hormonais.

Essas farmácias defendem que os implantes oferecem uma solução terapêutica eficaz e ajustada às necessidades individuais dos pacientes, e afirmam que não há comprovação de nexo causal entre os efeitos adversos relatados e o uso dos hormônios.

Farmácias como a Elmeco, pioneira na manipulação de implantes hormonais no Brasil, manifestaram indignação com a decisão da Anvisa, destacando que a medida foi adotada sem a participação de médicos, pacientes e farmácias.

Segundo essas farmácias, os implantes são amplamente utilizados em países como os Estados Unidos e na Europa, onde regulamentações garantem sua segurança e eficácia.

Fontes: Anvisa, Agência Brasil, Exame, Folha de São Paulo 01 e 02