Uma pesquisa, conduzida por cientistas da Fiocruz e da Universidade de Harvard, lançou luz sobre a triste realidade do suicídio entre indígenas e não indígenas no Brasil. Este estudo pioneiro analisou as taxas de suicídio no período de 2000 a 2020, revelando um risco significativamente mais elevado entre os indígenas, em particular, aqueles com idades entre 10 e 24 anos. As regiões Norte e Centro-Oeste destacaram-se como as áreas mais afetadas, com estados como Amazonas e Mato Grosso do Sul registrando as maiores taxas de suicídio.
Os resultados deste estudo foram publicados na prestigiada revista The Lancet Regional Health – Americas. É importante notar que este estudo vem à tona durante o mês de setembro, conhecido no Brasil como o “Setembro Amarelo,” dedicado à conscientização e prevenção do suicídio. Jesem Orellana, um dos coautores do estudo e epidemiologista chefe do Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (Legepi) do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), destacou a relevância do estudo neste contexto.
A pesquisa baseou-se nos dados de mortalidade oficial do Ministério da Saúde do Brasil e teve como objetivo principal estimar as taxas de suicídio e suas tendências tanto entre os indígenas quanto entre os não indígenas no país. O artigo, intitulado “Suicídio entre povos indígenas no Brasil de 2000 a 2020: um estudo descritivo,” apresenta uma análise detalhada e abrangente das taxas de suicídio entre os indígenas no Brasil.
De modo geral, os resultados revelaram que as taxas de suicídio entre os indígenas eram mais elevadas entre os homens e nas faixas etárias de 10 a 24 anos. Nas regiões Centro-Oeste e Norte, essas taxas atingiram 73,75 e 52,05 por 100 mil habitantes em 2018 e 2017, respectivamente, em homens. Entre os indivíduos de 10 a 24 anos da região Norte, o grupo de maior risco para o suicídio indígena, as taxas aumentaram substancialmente a partir de 2013, contrariando a tendência de queda observada na região Centro-Oeste. Isso é notável, pois difere do padrão observado na população geral do Brasil, onde historicamente o grupo de maior risco para o suicídio são os indivíduos com 60 anos ou mais.
O estudo também apontou que, em nível nacional, tanto as taxas de suicídio da população indígena brasileira quanto as da população não indígena apresentaram uma tendência de aumento de 2000 a 2020. No entanto, essa tendência não pode ser generalizada, especialmente entre os indígenas, já que estados como Amazonas, na região Norte, e Mato Grosso do Sul, na região Centro-Oeste, parecem ser os principais responsáveis pelas notáveis diferenças observadas ao se comparar os dados nacionais entre indígenas e não indígenas.
O pesquisador enfatiza que os resultados do estudo destacam a extrema vulnerabilidade dos indígenas ao suicídio no Brasil, principalmente os homens com idades entre 10 e 24 anos e aqueles que residem nos estados do Amazonas e Mato Grosso do Sul. Isso ressalta a urgência de priorizar a alocação de recursos financeiros e o desenvolvimento de estratégias para reduzir os fatores de risco associados ao suicídio, especialmente a desigualdade social e o acesso limitado aos cuidados de saúde mental.
Portanto, é crucial encarar o suicídio entre os indígenas como um sério problema de saúde pública, muitas vezes negligenciado e invisibilizado, que pode ser influenciado por uma variedade de fatores contextuais e culturais, incluindo conflitos territoriais, crises de saúde, racismo estrutural, além de questões econômicas, políticas e psicológicas.
Fonte: Fiocruz
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