O medicamento trastuzumabe entansina, ou TDMI-1, foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) no último mês, após uma portaria publicada no Diário Oficial da União. O remédio já é usado desde 2014 para o tratamento do câncer de mama, época em que foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A substância não causa efeitos colaterais associados ao tratamento de câncer, como a queda de cabelo, porém, requer cuidados.
Ainda não se sabe quando o remédio irá chegar à pública de saúde. O TDMI-1 é indicado para casos avançados de um tipo de câncer chamado HER2-positivo, em que as células cancerígenas apresentam níveis elevados da proteína HER2 e tendem de forma mais rápida. Segundo o Ministério da Saúde, a medicação passou por avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que assessora a pasta no que tange à incorporação, exclusão ou alteração de tecnologias em saúde pelo SUS.
Os casos em que há a amplificação da proteína correspondem a entre 20% e 30% dos tumores de mama invasivos, e as diferenças do medicamento trastuzumabe entansina é sobre a ação direta na proteína HER2. De acordo com a médica oncologista Laura Testa, que integra o comitê de Tumores Mamários da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), trata-se de um composto chamado de conjugado droga-anticorpo. “É um anticorpo anti-HER2, que vai se ligar especificamente a essa proteína e tem conjugado um quimioterápico. Essa substância aplicada diretamente na veia é muito tóxica, mas junto com o anticorpo ela é entregue diretamente na célula que está expressando a HER2″, explica. Uma vez na célula cancerígena, ela inibe a produção de uma proteína necessária para que essa célula continue se replicando.
Uma das indicações de uso do TDMI-1 ocorre quando outros tipos de medicação não foram capazes de conter o avanço da doença. Uma das indicações de uso do TDMI-1 ocorre quando outros tipos de medicação não foram capazes de conter o avanço da doença.
Quando o medicamento é utilizado?
Há dois momentos em que as pacientes podem se beneficiar do uso do TDMI-1. O primeiro é quando outros tipos de medicação não foram capazes de conter o avanço da doença, que se espalhou no processo chamado de metástase. O outro em casos em que, após quimioterapia e cirurgia, ainda existe doença residual e riscos de uma eventual metástase.
De acordo com a oncologista, o tratamento costuma ter bons níveis de tolerância. “As pacientes habitualmente têm um bom controle da doença e acabam tendo menos efeitos colaterais do que numa quimioterapia, por exemplo. E para as pacientes com doença residual pós-neoadjuvância, ele realmente diminui o risco de metástase no futuro”, esclarece. Para Michelle Samora, médica oncologista do HCor, “é muito importante que a gente tenha no SUS um medicamento que, quando é comprovado que o que foi feito de quimioterapia no cenário inicial não conseguiu eliminar o tumor, tenha uma droga mais potente para que a gente aumente a chance de melhora dessa paciente”, afirmou.
De acordo com estudos, as chances de recorrência da doença em pessoas que não foram medicadas com TDMI-1 são até 50% maiores do que em pessoas que foram tratadas com outros inibidores de HER2.
Medicamento é usado para proteger os óvulos, que podem ser congelados
O trastuzumabe entansina foi o primeiro com seu mecanismo de funcionamento aprovado no Brasil. Desde que foi registrado, outros conjugados droga-anticorpo lançados no mercado apresentaram níveis de resposta até maiores, porém, todos permaneciam restritos à saúde suplementar. “A incorporação tardia ao SUS equipara o tratamento das pacientes do SUS com o que as pacientes da saúde suplementar têm acesso hoje. Era algo que faltava”, afirma Laura. A tecnologia não causa alguns efeitos colaterais associados ao tratamento de câncer, como queda de cabelo, mas requer cuidados de monitoramento pela equipe médica. Entre os riscos, estão a diminuição das plaquetas, anemia e distúrbios no funcionamento do fígado. “Em alguns casos, também é preciso controlar a pressão, além de ter a neuropatia (danos aos nervos) que a gente sabe que está associada com o uso da medicação”, lista Michelle.
Hoje, pessoas com câncer de mama HER2-positivo que recebem tratamento pelo SUS são medicadas com agentes quimioterápicos e trastuzumabe, um anti-HER2 composto por parte da molécula do trastuzumabe entansina e indicado para quadros iniciais da doença.
Câncer de mama em números
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o câncer de mama um problema mundial de saúde pública e estima que, em 2018, 627 mil mulheres em todo o mundo morreram pela doença, cuja incidência tende a aumentar com o envelhecimento da população. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o número total de novos diagnósticos ao ano chega a 60 mil – uma taxa de incidência de 60 casos a cada 100 mil habitantes. Em 2018, o País foi o quarto em número de casos e o quinto em mortalidade.
Fonte: Estadão
Foto: Freepik
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