Tirzepadida, a nova droga para controle da glicemia na diabetes

O estudo SURPASS-1 foi um ensaio clínico randomizado (RCT), multicêntrico, duplo cego, placebo controlado, de fase 3 (o estudo fase 2 foi publicado previamente em 2018, no Lancet¹) que investigou os efeitos da tirzepatida (Lilly), um agonista dual de receptores GLP-1 (glucagon-like peptide) e GIP (glucose-dependent insulinotropic polypeptide), no controle glicêmico – redução de hemoglobina glicada (HbA1c) em 40 semanas de seguimento.

Os objetivos secundários incluíram média de perda de peso, proporção de pacientes que atingiram glicada < 7,0%, alteração média na glicemia de jejum e proporção de pacientes que atingiram glicada < 5,7%.

Para isso, foram randomizados 478 pacientes para receber tirzepatida 5 mg, 10 mg, 15 mg ou placebo na proporção 1:1:1:1. A média inicial de hemoglobina glicada (HbA1c) dos pacientes de todos os grupos era de aproximadamente 8% (inclusão: HbA1c 7,0 a 9,5%) e todas as características de base como IMC, idade, sexo, tempo de Diabetes e uso prévio de outros tratamentos eram balanceadas entre os grupos. O IMC médio era de 32 kg/m².

Como critérios de inclusão, os pacientes não podiam ter recebido qualquer tratamento parenteral previamente (ex: agonistas de GLP-1 ou insulina – no caso desta última, exceto se DM gestacional prévio, uso intra-Thospitalar ou uso por menos de 14 dias) e não podiam estar em uso de qualquer antidiabético oral há pelo menos três meses. Ou seja: um cenário simulado ideal para avaliar a tirzepatida como monoterapia.

Houve uma baixa taxa de descontinuação do tratamento devido a eventos adversos, de 3,3% no grupo 5 mg a 6,6% no grupo 15 mg vs. 1,7% no grupo placebo.

O resultado foi para lá de animador: aproximadamente nove a cada dez pacientes que usaram tirzepatida apresentaram uma hemoglobina glicada <7%! Você não leu errado. No grupo que utilizou a menor dose de 5 mg, 87% dos pacientes atingiram esse resultado. No grupo 10 mg, 92%; no grupo 15 mg, 88%; no grupo placebo (dieta e atividade física), 20%.

Houve uma redução média de HbA1c (por análise de eficácia) de -1,87% no grupo 5 mg, -1,89% no grupo 10 mg, -2,07% no grupo 15 mg, comparado a +0,04% no grupo placebo. Também devemos destacar a perda de peso, que foi estatisticamente significativa em todos os grupos em análise por eficácia (-7,0 kg no grupo 5 mg, – 7,8 kg no grupo 10 mg e -9,5 kg no grupo 15 mg, comparado a -0,7 kg no grupo placebo), sendo que 13 a 27% dos participantes atingiram perda de peso superior a 15%.

Quanto aos efeitos colaterais, como esperado, houve incidência elevada de náuseas e vômitos (11,6% no grupo 5 mg a 18,2% no grupo 15 mg vs. 6,1% no grupo placebo). Foram observados sete episódios de glicemias < 70 mg/dL no grupo 5 mg vs. 10 nos grupos 10 e 15 mg, porém nenhuma hipoglicemia < 54 mg/dL ou hipoglicemias graves. Ainda, nenhum caso registrado de pancreatite e apenas um caso de câncer de pâncreas no grupo 5 mg e nenhum nos demais grupos, o que provavelmente se deu ao acaso.

Importante ressaltar que esse impacto em controle glicêmico ocorreu em pacientes com glicada média inicial próxima de 8% e não glicadas superiores a 10%, onde se espera um impacto maior quando iniciamos novas terapias.

O apresentador conclui com um dado inédito em trials para antidiabéticos: aproximadamente um terço dos pacientes tratados com 5 mg de tierzepatida apresentaram glicada menor que 5,7% e pasmem: 52% dos pacientes tratados com 15 mg atingiram esses níveis, sem aumento de risco de hipoglicemias graves ou níveis menores que 54 mg/dL. Os dados do SURPASS-1 ainda não foram publicados em revista. Aguardamos ansiosamente.

A fase 3 do programa SURPASS (que investiga a tirzepatida no diabetes) é composta atualmente por nove estudos. Os resultados de outros estudos do programa serão apresentados e discutidos em uma sessão especial da ADA 2021 na terça-feira (29). Destaque para o SURPASS-2, que avaliou a tirzepatida versus semaglutida no DM2 – o artigo original acabou de ser publicado no New England Journal of Medicine (NEJM).

A tirzepatida, como observado, também exibe um potencial gigantesco para o tratamento da obesidade e um programa de estudos para avaliar seu efeito em pacientes obesos sem DM também já está em andamento (SOURMOUNT-1), com resultados previstos inicialmente para 2024.

Fonte: PEBMED

Michelly Murchio

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