Nos últimos anos, a saúde mental passou a ocupar um espaço central nas discussões públicas e nas políticas de saúde no Brasil.
Esse movimento foi impulsionado pela pandemia de Covid-19, que trouxe à tona o impacto dos transtornos mentais sobre a qualidade de vida e a necessidade urgente de abordagens mais eficazes.
A pandemia de covid-19, marcada pelo isolamento social e pelo medo, intensificou a busca por atendimento psicológico e psiquiátrico no Brasil.
De acordo com um estudo do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS), as despesas com psicoterapia para beneficiários de planos de saúde saltaram de R$ 180 milhões em 2019 para R$ 269 milhões em 2022.
No Sistema Único de Saúde (SUS), os atendimentos em psicologia e psiquiatria aumentaram de 55 milhões em 2020 para 62 milhões em 2022.
José Cechin, superintendente-executivo do IESS, afirma que o crescimento da demanda está relacionado tanto ao aumento da incidência de transtornos mentais quanto à maior conscientização da população sobre o tema.
“A pandemia trouxe muita ansiedade, que em muitos casos se transformou em depressão, fazendo com que as pessoas procurassem mais ajuda”, explica.
Entre os grupos mais afetados pela crise de saúde mental estão os jovens, que enfrentaram desafios únicos durante a pandemia.
Um estudo do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) revelou um aumento anual de 6% nas taxas de suicídio e de 29% nas autolesões entre jovens brasileiros entre 2011 e 2022.
O isolamento social, em um momento da vida onde a socialização é fundamental, contribuiu para essa tendência preocupante.
No ambiente corporativo, a saúde mental tornou-se uma preocupação central. Os transtornos emocionais são agora a principal causa de absenteísmo e de “presenteísmo” — quando os funcionários estão fisicamente presentes, mas incapazes de desempenhar suas funções de forma eficaz.
Wagner Farid Gattaz, diretor-geral da Gattaz Health, aponta que as desordens emocionais são a segunda maior causa de afastamento do trabalho, mas representam dois terços do custo total dos transtornos mentais devido à queda de produtividade.
Em resposta à crescente preocupação com a saúde mental, o Congresso Nacional aprovou em março de 2024 a Lei nº 14.831, que institui o certificado Empresa Promotora da Saúde Mental.
A lei, que ainda aguarda regulamentação, visa incentivar as empresas a adotarem medidas de promoção da saúde mental em seus ambientes de trabalho.
No entanto, especialistas como Alberto José Ogata, pesquisador da FGV Saúde, destacam que os investimentos na área ainda são insuficientes.
No Brasil, a oferta de psiquiatras é de 6,5 por 100 mil habitantes, abaixo da recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 10 por 100 mil.
Além disso, Ogata ressalta a fragmentação dos cuidados em saúde mental no setor privado, onde falta integração entre médicos da família e psiquiatras.
A pandemia também acelerou a adoção de novas metodologias no tratamento de saúde mental, como o teleatendimento.
Operadoras de planos de saúde, como Amil, Bradesco, Unimed e SulAmérica, expandiram o uso de consultas virtuais em seus programas de atenção à saúde mental.
Esse modelo, que dispensa a necessidade de exame físico, é visto como uma solução prática e eficaz para atender à crescente demanda por serviços psicológicos e psiquiátricos.
A saúde mental no Brasil enfrenta desafios significativos, mas também há um reconhecimento crescente da importância de abordagens integradas e de maior investimento na área.
A criação de políticas públicas voltadas para a promoção da saúde mental, aliadas a iniciativas no setor privado, pode ajudar a mitigar os impactos dos transtornos mentais e melhorar a qualidade de vida da população.
A saúde mental é um direito humano fundamental e deve ser tratada com a mesma seriedade que outras áreas da saúde, como o câncer e as doenças cardiovasculares.
A integração de cuidados, o aumento de recursos e a conscientização são passos cruciais para enfrentar a crise de saúde mental no Brasil.
Fonte: Valor Econômico
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