Não é novidade que comer vegetais é importante para ter uma dieta equilibrada e prevenir contra doenças. Mas será que para diminuir o risco de doenças cardiovasculares isso é suficiente? Segundo pesquisadores do Departamento de Saúde da População da Universidade de Oxford, da Universidade de Bristol, ambas britânicas, e da Universidade Chinesa de Hong Kong não há evidências que comprovem essa relação.
Resultados do estudo em larga escala, publicado no último dia 26 de fevereiro no periódico Frontiers in Nutrition mostram que é improvável que um consumo maior de vegetais cozidos ou crus afete o risco dessas doenças. O estudo ainda aponta como alguns fatores de confusão podem ter influenciado outras pesquisas nesse sentido.
Em um primeiro momento, parece até uma justificativa aceitável que o consumo de vegetais diminui o risco de doenças cardiovasculares, já que esses ingredientes apresentam compostos como carotenóides e alfa-tocoferol, que podem proteger contra essas doenças, em sua composição.
Porém, as evidências de estudos anteriores para verificar um efeito geral do consumo de vegetais nessas doenças são consideradas inconsistentes.
Para o estudo, foram usados dados do Uk Biokank, um estudo prospectivo em larga escala que faz associação entre genética e meio ambiente com o desenvolvimento de doenças comuns e com risco de vida. “Usamos a grande amostra do UK Biokank, o acompanhamento de longo prazo e as informações detalhadas sobre fatores sociais e de estilo de vida a fim de avaliar de forma confiável a associação da ingestão de vegetais com o risco de doenças cardiovasculares”, explicou Naomi Allen, cientista-chefe do Uk Biokank e uma das autoras do estudo, em comunicado.
Os estudiosos usaram as informações de 399.586 participantes em relação ao consumo médio diário de vegetais crus ou cozidos. Desses, 4,5% desenvolveram doenças cardiovasculares. Os cientistas fizeram uma análise do risco de hospitalização ou morte por infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral ou outras doenças do coração.
Para esse estudo, foram considerados uma gama de fatores que podem alterar os padrões como status socioeconômico, atividade física e outros fatores dietéticos. Foi avaliado também se fatores adicionais desconhecidos ou medição imprecisa podem levar a uma associação estatística errada entre os riscos dessas doenças e o consumo de vegetais.
A ingestão diária média de vegetais foi de 5 colheres de sopa cheias por pessoa (2,3 de vegetais crus e 2,8 de vegetais cozidos). O risco de morrer de uma doença cardiovascular foi cerca de 15% menor para aqueles com maior ingestão quando comparado com a menor ingestão de vegetais.
Mas esse efeito aparente foi substancialmente enfraquecido quando os fatores que podem alterar esses padrões foram levados em conta, por exemplo, problemas socioeconômicos, nutricionais e relacionados ao uso de medicamentos.
O controle desses indicadores diminuiu as estatísticas em mais de 80%, entendendo que medidas mais precisas desses fatores de confusão teriam explicado qualquer efeito residual da ingestão de vegetais.
Não ficou evidenciado que há um efeito protetor da ingestão de vegetais na ocorrência de doenças cardiovasculares, disse Qi Feng, pesquisador da Universidade de Oxford e autor principal do estudo. “Em vez disso, nossas análises mostram que o efeito aparentemente protetor da ingestão de vegetais contra o risco dessas doenças provavelmente é explicado pelo viés de fatores de confusão residuais, relacionados a diferenças na situação socioeconômica e no estilo de vida”.
Para os pesquisadores, os estudos futuros irão avaliar se determinados tipos de vegetais ou seu método de preparação podem afetar o risco de doenças. Apesar disso, para Ben Lacey, também professor de Oxford, o estudo é importante na medida em que tem implicações para compreensão das causas alimentares nas doenças cardiovasculares.
Para ele, ter uma dieta equilibrada e manter um peso saudável continua sendo uma parte importante da manutenção da boa saúde e da redução do risco de doenças importantes, incluindo alguns tipos de câncer. Lacey recomenda que pelo menos cinco porções de uma variedade de frutas e vegetais sejam consumidas todos os dias.
Fonte: Revista Galileu
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