Ciência

Preta Gil mostra a importância da pesquisa clínica em oncologia, que já começa a se desenvolver na Amazônia

Cientista, mulher e escrevendo notas em laboratório com pesquisa médica, planejamento e solução na farmácia Por YuriArcursPeopleimages

Preta Gil anunciou que vai para Nova York participar de uma pesquisa clínica, que, segundo a cantora, é a esperança que ela tem de cura, pois no Brasil já estariam esgotadas as possibilidades de tratamento.

Diagnosticada com câncer de intestino em janeiro de 2023, Preta já passou por cirurgias, quimioterapia e outros tipos de tratamento.

Agora, com viagem programada para os Estados Unidos, Preta pode se beneficiar de uma das possibilidades da pesquisa clínica, que é oferecer um novo tratamento, na fase final de testes, a um paciente que já foi submetido a todos os protocolos em uso e indicados para o seu caso. 

MAS O QUE É PESQUISA CLÍNICA?

É um tipo de pesquisa que inclui, necessariamente, a participação de pessoas. Nas fases finais da pesquisa, um novo medicamento, um novo protocolo de tratamento ou uma nova tecnologia, por exemplo, precisam ser testados em um grupo de pessoas.

A pesquisa clínica é indispensável para o avanço da ciência e da medicina. No caso da oncologia, a área da medicina que recebe os maiores investimentos em pesquisa clínica, a consequência, no final das contas, é o aumento das chances de cura dos pacientes.

PARTICIPAR DE PESQUISA CLÍNICA É SEGURO?

Sim, pesquisas clínicas seguem protocolos rigorosos. O Ministério da Saúde regulamenta e supervisiona as práticas de pesquisa clínica no Brasil por meio da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), juntamente com a CONEP (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa).

As normativas estão focadas nas Boas Práticas Clínicas (BPC), que consistem em um padrão para o desenho, condução, execução, monitoria, auditoria, registro, análise e relato de ensaios clínicos.

O objetivo é assegurar a credibilidade e a precisão dos dados e resultados relatados, assim como proteger os direitos, integridade e confidencialidade dos participantes da pesquisa.

Mesmo em uma fase preliminar, quando o paciente ainda está fazendo testes diagnósticos para determinar a elegibilidade para participar de uma pesquisa, já é necessário obter o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

“Nós consideramos que participar de uma pesquisa clínica é um privilégio para o paciente, especialmente para aqueles que dependem do serviço público, que, como sabemos, tem carências e dificuldades”, explica a médica oncologista Paula Sampaio.

“As pesquisas são patrocinadas por grandes empresas, que fazem investimentos vultosos para descobrir novos medicamentos e possibilidades terapêuticas. São multinacionais que possuem áreas de compliance, que exigem que os envolvidos na pesquisa clínica sigam todas as regras com rigor. A assistência para os pacientes da pesquisa é realmente completa”, destaca a médica.

EM QUE ESTÁGIO ESTÁ A PESQUISA CLÍNICA NA AMAZÔNIA?

Comparando com países desenvolvidos, o Brasil ainda engatinha na pesquisa clínica. A mesma lógica funciona quando a comparação é feita entre a região Norte e o Sudeste ou Sul do País.

“As pesquisas estão concentradas onde existe mais investimento, mas o potencial da nossa região é enorme e já começou a se desenvolver. A diversidade étnica é muito importante para a pesquisa clínica. A formação do povo da Amazônia teve grande participação da população indígena e de portugueses. Não é a mesma origem da população da Bahia ou do Rio Grande do Sul, por exemplo. A pesquisa clínica é mais valorizada com diversidade genética. Por isso, os laboratórios que patrocinam as pesquisas já demonstram grande interesse na nossa região”, explica a oncologista, que é diretora do CPAM – Centro de Pesquisas da Amazônia.

PESQUISA CLÍNICA COM 8 MIL PARTICIPANTES TEM 23 MULHERES DO PARÁ

O estudo clínico Ember-4, de um laboratório norte-americano, tem a participação de 8 mil mulheres do mundo todo e 23 são do Pará, que é o único estado da região Norte com pacientes na pesquisa.

A pesquisa, que começou em maio de 2023, está testando um novo medicamento utilizado na imunoterapia, que é uma das modalidades de tratamento contra o câncer que mais cresceu nos últimos anos.

Está em fase final de testes um imunoterápico que tem o objetivo de diminuir os riscos de recidiva de pacientes com câncer de mama.

As participantes são mulheres que estão utilizando essa medicação para controlar os níveis hormonais, o que é importante para evitar a volta da doença.

A HISTÓRIA DE MERIAN OLIVEIRA

A manicure Merian Oliveira, de 38 anos, é uma das 23 paraenses que estão participando da pesquisa Ember-4. Merian foi diagnosticada com câncer de mama em 2020, quando tinha 34 anos. O tratamento, no Hospital Barros Barreto, incluiu duas cirurgias, quimioterapia e radioterapia. 

“Fazia tudo o que os médicos mandavam. Depois de 3 anos de tratamento, soube da pesquisa clínica através da equipe médica que me atendia e já me coloquei disponível, quis saber o que eu tinha que fazer para participar”, lembra.

As características do câncer de Merian, estavam de acordo com os critérios da pesquisa e ela foi considerada elegível: câncer de mama inicial ER+ (com receptores de hormônio positivo), HER2- (proteína que promove o crescimento das células cancerosas) e com risco aumentado de recidiva (volta do câncer durante ou após o tratamento).

A cada quatro meses, Merian faz exames de sangue, mamografia e eletrocardiograma. Além disso, recebe a medicação oral, que toma diariamente.

A manicure entrou na pesquisa em maio de 2024 e a previsão é de que ela seja acompanhada por cinco anos.

“Para mim, entrar nessa pesquisa foi ótimo. Eu sei que aumentei as chances de a doença não voltar. Continuo tomando a medicação e agora faço exames com frequência, com mais facilidade. O acompanhamento é mais rigoroso, com todos os procedimentos agendados pelos pesquisadores, sem me preocupar se vou conseguir fazer no tempo certo ou se não vai ter vaga, como acontecia quando eu fazia tratamento no serviço público. Até o transporte para me levar na clínica e no laboratório é garantido, sem custo nenhum. Isso me deixa tranquila, não tenho mais a ansiedade de antes por não saber como seria o tratamento”, conclui.

Romeu Lima

Recent Posts

Humanização na saúde do Pará inspira e transforma vidas

Você já imaginou um hospital onde pacientes são tratados com carinho, onde aniversários são comemorados…

16 horas ago

OMS faz alerta sobre gravidez precoce e casamento infantil

A gravidez na adolescência reflete "desigualdades fundamentais" persistentes na sociedade, com sérias repercussões físicas e…

3 dias ago

Papa Francisco: entenda as causas da morte por AVC e insuficiência cardíaca

Papa Francisco Foto: divulgação Vaticano Media Divisione O mundo se despede do Papa Francisco, que…

4 dias ago

Parceria Brasil-China mira saúde digital e vacinas

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha e representantes chineses Foto de Rafael Nascimento para o…

1 semana ago

Anvisa aprova controle mais rígido para remédios de emagrecer

Canetas de insulina em fundo laranja, de perto Por towfiqu98 Nesta quarta-feira (16/4), a Anvisa…

1 semana ago

Enfermeiras da Ilha de Marajó agora são capacitadas para inserção de DIU no SUS

Profissional de saúde mostrando o DIU Foto: divulgação do Ministério da Saúde Em uma iniciativa,…

1 semana ago

This website uses cookies.