Populações de países em desenvolvimento são as mais afetadas
A poluição atmosférica proveniente de incêndios florestais e em campos em todo o mundo se tornou uma ameaça crescente à saúde global, com uma pesquisa publicada nesta quarta-feira revelando dados alarmantes. Esta pesquisa, liderada pela Universidade de Monash, na Austrália, lançou luz sobre a disseminação massiva de partículas finas (conhecidas como PM2,5) e concentrações de ozônio que afetam desproporcionalmente as populações dos países mais pobres.
Entre 2000 e 2019, o aumento na poluição atmosférica causada por incêndios não urbanos foi de 6,8%, afetando quase 2,2 bilhões de pessoas anualmente. Esta exposição prolongada está associada a um aumento na mortalidade e ao agravamento de condições cardiorrespiratórias, além de impactar a saúde mental.
Os incêndios florestais, independentemente de serem planejados ou descontrolados, geram uma fumaça que pode viajar milhares de quilômetros, causando danos substanciais à saúde pública. Em 2019, a poluição do ar foi responsável por cerca de 4,5 milhões de mortes, de acordo com um estudo publicado na Lancet Planetary Health.
Os números revelados pelo novo estudo, publicado na revista Nature, são particularmente alarmantes. A poluição atmosférica anual causada por incêndios em áreas rurais de países de baixa renda é aproximadamente quatro vezes maior do que em nações mais desenvolvidas. Regiões como a África Central, Sudeste Asiático, América do Sul e Sibéria registraram os níveis mais críticos de poluição.
Shandy Li, coautora do estudo e professora associada da Universidade de Monash, destaca que a mudança climática pode agravar ainda mais essa situação no futuro. Como resultado, aproximadamente 2,18 bilhões de pessoas, em média, enfrentaram pelo menos um dia de poluição atmosférica substancial devido a incêndios em florestas e campos entre 2010 e 2019, representando um aumento de quase 7% em comparação com a década anterior.
Essa exposição supera os limites estabelecidos pelas diretrizes de 2021 da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomendam níveis médios diários de PM2,5 abaixo de 15 microgramas por metro cúbico de ar. A África lidera a lista de exposição, com uma média de 32,5 dias de poluição atmosférica substancial por pessoa a cada ano, seguida pela América do Sul, com 23,1 dias. Em contraste, os europeus enfrentaram apenas cerca de 1 dia por ano de exposição significativa.
Chama a atenção que os cinco países com a maior média anual de exposição à poluição atmosférica causada por incêndios florestais são todos africanos: Angola, República Democrática do Congo, Zâmbia, Congo-Brazzaville e Gabão.
O estudo também evidenciou disparidades socioeconômicas significativas. Os países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo e menor desenvolvimento econômico experimentaram índices de exposição à poluição atmosférica quatro vezes mais elevados do que os países com IDH mais alto e maior renda.
Essas descobertas enfatizam a necessidade urgente de monitorar e gerenciar os impactos na saúde pública decorrentes da exposição à poluição do ar proveniente de incêndios em paisagens. Além disso, destacam a importância de medidas de prevenção, intervenções direcionadas e ações para mitigar as mudanças climáticas, uma vez que os incêndios florestais estão intrinsecamente ligados a essas mudanças.
Os especialistas alertam que as consequências vão além da saúde humana, afetando a biodiversidade, o ciclo da água e contribuindo para a emergência climática. É um ciclo de destruição que precisa ser interrompido para garantir um futuro mais saudável para nosso planeta e suas populações.
Fontes: Correio Braziliense e Folha de São Paulo
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