Saúde Tech

Plataformas no estilo Netflix focam em conteúdos de saúde e bem-estar; conheça

Em meio à oferta de diversas plataformas de streaming, com séries e filmes de todos os tipos, algumas empresas resolvem mirar em um nicho de público e, assim, não disputar com os grandes nomes do mercado. De quebra, tornam-se uma opção atraente para aqueles que se interessam por determinados temas.

Foi esse raciocínio que levou Bruno Wainer, diretor da distribuidora Downtown Filmes, a criar a plataforma Aquarius, a primeira brasileira dedicada a filmes sobre o bem-estar e a saúde do corpo e da mente. “A gente não classifica Aquarius como um streaming de entretenimento. Na verdade, é um portal de conhecimento através de filmes, palestras e entrevistas. A ideia é que seja um hub de conteúdos que estão relacionados a ioga, meditação, budismo, espiritualidade, meio ambiente, sustentabilidade e ativismo”, exemplifica ele.

O nome, Wainer explica, é inspirado na era de Aquarius, na qual estamos entrando, segundo crenças da astrologia, e que seria marcada por maior compreensão entre os seres humanos. “Eu quis compartilhar os benefícios que tive com a meditação e com os filmes que assisti e me ajudaram a passar por crises de pânico e angústia no início da pandemia”, conta.

Dentro da plataforma são oferecidos 100 títulos de séries e filmes nacionais e internacionais divididos em seis categorias: Espiritualidade, Saúde & Bem-Estar, Meio Ambiente, Ciência & Tecnologia, Artes e Saber & Sociedade. O trabalho de curadoria, assinado pelo jornalista e dramaturgo Luiz Felipe Reis, preza por produções de qualidade – muitas delas premiadas e com participações em festivais de cinema – e que falem sobre problemas atuais do mundo. “A ideia é que todos os conteúdos tenham uma mensagem positiva no final e sejam um instrumento para que as pessoas adotem posturas mais saudáveis em sua vida.”

Na tentativa de ir contra a aceleração de produção de conteúdos de outras plataformas, Wainer quer que seus assinantes tenham tempo para explorar os títulos escolhidos para Aquarius. Assim, já há centenas de títulos aprovados por sua equipe. Mas, a partir de 14 de julho, serão disponibilizados de um a dois filmes novos por semana, além de produções exclusivas, como o documentário autobiográfico “Eu”, de Ludmila Dayer, que estreia dia 29 de junho e conta a jornada da atriz para superar a síndrome do pânico.

Filmes como aliados da saúde mental

A cinematerapia, tema tratado extensamente pelo psicólogo americano Ryan Niemiec, defende que os filmes podem ser usados como complementos do tratamento psicoterápico. A ideia é assistir a um filme indicado pelo profissional de saúde, e que tenha relação com o tema abordado na sessão. Esse assunto, então, pode ser discutido entre os dois a partir de uma reflexão sobre a obra. Entende-se que essa estratégia pode abrir novas visões diante de um problema, aumentar a empatia e servir de inspiração para a própria vida.

Wainer conta que recebia indicações de filmes de sua terapeuta, mas tinha dificuldade em encontrá-los. “Parecia que vinham de uma maneira um pouco clandestina”, comenta. “Eu, como produtor, comecei a pesquisar para descobrir onde esses títulos estavam”, acrescenta. “Criei, então, um espaço para reunir todo esse conteúdo e facilitar o acesso das pessoas. Acredito que vai ajudar muita gente a sair do modo automático e ficar mais consciente.”

“O que a gente mais quer é criar uma comunidade e ser um lugar onde todo mundo possa ser ouvido”, diz o criador. De olho nisso, já existe um Instagram da plataforma e também um blog. Ainda existe a previsão de um programa de podcast e realização de eventos (presenciais ou online) para debates. Por enquanto, o streaming está disponível por assinatura (o plano mensal sai por R$39,90) e pode ser visto via celular, SmartTV ou web.

É importante frisar, no entanto, que nem todo conteúdo que está disponível na Aquarius, ou em qualquer outra plataforma similar, pode ser levado à risca. Algumas terapias divulgadas ali não têm embasamento científico. Além disso, não há substituição para o tratamento psicológico. Esse tipo de serviço deve ser encarado como um canal de reflexão.

“Toda obra de arte, toda nossa interação intelectual e emocional é capaz de trazer mudanças. Mas, isso, claro, não substitui uma terapia e um trabalho clínico. Você pode ter insights, ideias e até reflexões profundas a partir de certos conteúdos, mas, para uma transformação maior, é preciso fazer um trabalho terapêutico”, pondera o psiquiatra e professor colaborador do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, Daniel Martins de Barros.

O médico explica que nenhuma abordagem sozinha é revolucionária. “Se a gente encarar assim, entramos numa visão reducionista do que é o ser humano e o processo complexo que é a transformação, a melhora e até mesmo a cura”, informa. “O trabalho, quando é formal, é baseado em um profissional que conversa com você, que entende as suas questões e que pensa nas obras que tratam esses dilemas. Não dá para ter a ilusão de que é possível ir ao cinema e sair completamente transformado”, declara.

Mais streamings nichados

O esquema de nichos nesse universo não é exatamente uma novidade. No Brasil, já existem plataformas que disponibilizam filmes de terror (Darkflix), conteúdos para o público LGBTQIA+ (LGBTFLIX) e obras escritas ou protagonizadas por pessoas negras (AfroFlix).

Seguindo no universo da saúde, temos o Queima Diária, que surgiu em 2015, e se considera o ‘Netflix do exercício físico’. Ali dentro, são mais de 500 videoaulas elaboradas por profissionais de educação física, com conteúdos focados em exercícios diversos ou até setorizados por idade e objetivo. O acesso pode acontecer pelo computador, aplicativo (disponível para iOS ou Android) e pela SmartTV (o plano individual custa R$59,90 por mês).

Nos Estados Unidos, o Gaia é um streaming com opções de séries e vídeos sobre natureza, universo, sabedoria antiga e curas alternativas. Ao todo, são mais de 8 mil títulos. A plataforma também oferece aulas de ioga e meditação, além de lives com especialistas. O serviço oferece conteúdos em inglês, espanhol, alemão e francês e é possível fazer um teste gratuito de 7 dias (o plano mais barato é de US$ 9,99/mês).

Romeu Lima

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