Em um encontro em Gramado, Rio Grande do Sul, dois pesquisadores brasileiros uniram forças para enfrentar um cenário desafiador: a abundância de pele de tilápia, frequentemente descartada, e a escassez de recursos na medicina.
Para isso, os cirurgiões plásticos Marcelo Borges e Edmar Maciel viram a possibilidade de utilizar a pele desse peixe como curativo para queimaduras, diante da carência de tecidos para enxertos no Brasil.
Viram a pele de tilápia como promissora, revelando propriedades benéficas para a cicatrização. O material, inicialmente destinado a queimaduras, expandiu sua aplicação para diversas áreas, incluindo ginecologia, cirurgias de redesignação sexual, tratamentos pediátricos e até procedimentos veterinários.
Então os pesquisadores desenvolveram versões da pele de tilápia, como a liofilizada, dispensando refrigeração e com validade estendida. Exploraram a aplicação em cirurgias ginecológicas, tratando deformidades pediátricas e ferimentos em animais, como os causados por incêndios.
Projetos atuais incluem a utilização da pele de tilápia em cirurgias de hérnia abdominal, procedimentos oftalmológicos e até mesmo em suplementos alimentares.
Apesar de ainda em fase experimental, os pesquisadores buscam licenciar os produtos para uso clínico, visando ampliar o acesso, principalmente na saúde pública, onde a escassez de recursos é um desafio.
Este trabalho já recebeu reconhecimento internacional e diversos prêmios, superando as expectativas iniciais. O time de pesquisadores cresceu para 337 pessoas, engajadas em diversos projetos de pesquisa. O objetivo é disponibilizar esses produtos, uma vez aprovados pelas agências regulatórias, especialmente para atender a população carente.
As perspectivas para a pele de tilápia como solução terapêutica são otimistas. Os produtos derivados desse material têm potencial não apenas para complementar tratamentos existentes, mas também para preencher lacunas onde recursos são escassos.
A pele de tilápia em glicerol, inicialmente concebida como curativo para queimaduras, evoluiu para formas mais práticas, como a versão liofilizada. Esta não necessita refrigeração, tem validade estendida e reduz significativamente os custos de transporte, tornando-a mais acessível em diferentes locais e contextos médicos.
Além disso, as possibilidades exploradas nos campos da ginecologia, pediatria, oftalmologia e até mesmo na medicina veterinária mostram a versatilidade e promessa desse recurso antes subestimado.
A busca por licenciamento e aprovação para uso clínico é um passo essencial para garantir que esses avanços na pesquisa possam chegar aos pacientes que mais necessitam.
A expectativa é que, uma vez aprovados, esses produtos possam ser adquiridos pelo Ministério da Saúde e distribuídos em centros de queimados e hospitais, tornando-se uma adição valiosa aos tratamentos existentes.
O impacto desse trabalho vai além do desenvolvimento de novos produtos; representa uma resposta inovadora a desafios reais na área da saúde. A transformação da pele de tilápia de resíduo descartado para recurso terapêutico mostra o potencial transformador da pesquisa e da colaboração entre profissionais dedicados.
Este projeto não apenas promete atender a demandas não supridas na medicina, mas também inspira novas abordagens e possibilidades na utilização de recursos até então subutilizados.
Ao olhar para o futuro, é evidente que o trabalho em torno da pele de tilápia é mais do que uma descoberta científica; é uma história de inovação, impacto social e potencial para melhorar significativamente a vida de inúmeros pacientes.
Fonte: BBC
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