Saúde Pública

Fígado: o que pode causar a necessidade de um transplante?

Uma novidade para as pessoas que possuem plano de saúde e também que necessitam de transplante de fígado. Foi publicado no Diário Oficial da União que o transplante de fígado vai passar a ter cobertura obrigatória pelos planos de saúde, para os pacientes que estejam fazendo tratamento de doença hepática e estiveram na fila única do SUS e foram contemplados com a disponibilidade do órgão. A decisão foi tomada pela Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Mas por que essa notícia é tão importante? Por que o fígado é um dos órgãos cruciais para o ser humano? Para tirar essas dúvidas, convidamos Rafael Garcia, cirurgião do Aparelho Digestivo, que é o responsável técnico da Equipe de Transplante de Fígado da Santa Casa para tirar algumas dúvidas.

O cirurgião explica que o fígado é considerado um dos órgãos vitais do corpo humano, do qual não podemos viver sem: “É a ‘usina’ do corpo, responsável por sintetizar todas as proteínas, outras substâncias, como os fatores de coagulação, e ao mesmo tempo metaboliza componentes tóxicos para poderem ser excretados pelo corpo com segurança”.

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) publicou no final do mês de novembro o relatório Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil e trouxe alguns dados preocupantes. O documento apresentou a estimativa de 10.700 casos por ano de câncer de fígado, ficando em 14º lugar com maior incidência no Brasil. Já aqui no Estado do Pará, o câncer de fígado fica em 15º, sendo 340 casos para cada 100 mil habitantes, sendo 190 diagnósticos em homens e 150 nas mulheres.

Mas o que podemos fazer para que isso possa ser evitado? Rafael conta que o fígado é extraordinário, já que ele mesmo se cuida, mas que um estilo de vida saudável contribui e muito para a preservação do órgão e sua funcionalidade. “Para ajudarmos nisso não é necessário muito esforço: uma alimentação balanceada, sem alimentos ultraprocessados, não ganhar peso, não consumir álcool, manter uma prática de atividade física”. Algo importante que Rafael pontua é que não existe “detox”. Quem faz isso é o próprio fígado. “Além disso, evitar as hepatites virais. A hepatite B prevenimos com vacina, e a hepatite C prevenimos com o não compartilhamento de objetos de uso pessoal cortantes e não nos expondo a situações de risco, como contato com sangue de outras pessoas”.

Mas o que pode ser feito além da uma rotina saudável? O médico explica que para as pessoas saudáveis não existe uma recomendação, mas: “para quem tem outras doenças como hipertensão, ou diabetes por exemplo, uma consulta anual com hepatologista é suficiente para a prevenção. Para quem já sabe que tem doença no fígado é necessário um acompanhamento pelo menos semestral com o especialista”.

O que tem mais preocupado os médicos e tem sido mais diagnosticado atualmente é esteatose hepática não alcoólica, que é a inflamação do fígado pelo acúmulo de gordura, causados por uma vida sedentária e uma dieta rica em gordura, cita o profissional: “a pandemia vimos um aumento expressivo de ingestão de álcool, causando um aumento dos casos nessa condição. Tudo isso pode levar à cirrose, que é a forma terminal de doença hepática”.

E é a cirrose e o câncer de fígado causado por cirrose que faz com que a pessoa necessite de um transplante de fígado. O cirurgião explica que tem casos e casos. “Nem toda pessoa com cirrose precisa de transplante. Existem outras indicações, mas são bem menos frequentes. O único tipo de câncer que pode indicar transplante de fígado é o câncer que inicia no fígado, no paciente com cirrose. Outros tipos de câncer são contraindicação para o transplante.” Finaliza.

Especialista em cirurgia do aparelho digestivo, Rafael conta que o procedimento pode durar em média de 6 a 8 horas, podendo ser mais, dependendo do caso. “É a maior cirurgia do abdome, procedimento de altíssima complexidade, que necessita do envolvimento de uma equipe multidisciplinar em todas as etapas, desde antes da indicação”. E ressalta “o objetivo do transplante é devolver a pessoa para a família e a sociedade para viver uma vida plena. A maioria dos pacientes atinge esse objetivo. Hoje, de cada 10 pessoas submetidas ao transplante de fígado, 9 estarão vivas ao final do primeiro ano após a cirurgia. Pra evitar rejeição precisa tomar medicamentos específicos a vida toda, e manter acompanhamento periódico. Fora isso, terá uma vida plenamente normal”.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), atualmente a Santa Casa é o único hospital no Estado do Pará que está habilitado e autorizado a realizar transplante de fígado, e que há 06 pacientes listados na fila do transplante hepático, o que significa que a qualquer momento podem realizar a cirurgia.

Romeu Lima

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