A crescente presença da internet e das redes sociais na vida cotidiana levanta questionamentos sobre os impactos dessa conexão constante na saúde mental, principalmente entre os jovens universitários.
De um lado, a estudante de jornalismo Milena Dias, de Brasília, escolhe viver sem redes sociais, enquanto Maria Eduarda Nestali, aluna de nutrição, acredita que elas são essenciais, desde que usadas de forma consciente.
Essa diferença de posturas reflete um debate mais amplo sobre os efeitos do uso excessivo da internet e a relação com transtornos mentais como ansiedade e depressão.
Pesquisas recentes vêm abordando a relação entre o uso exagerado da internet e a ideação suicida.
A professora Irena Penha Duprat, da Universidade de São Paulo (USP), conduziu um estudo na Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), observando o impacto da dependência digital na saúde mental de estudantes.
Em sua pesquisa, ela entrevistou mais de 500 universitários e identificou que 51% apresentavam algum grau de dependência da internet, sendo que 12,5% mostraram sinais de ideação suicida.
“O uso excessivo da internet pode ser um refúgio para estudantes que enfrentam problemas como depressão e ansiedade”, destaca Duprat.
Para muitas jovens, como aponta Duprat, as redes sociais podem contribuir para sentimentos de inferioridade e baixa autoestima, especialmente devido aos padrões de beleza e felicidade exibidos por influenciadoras digitais.
Esse ambiente de comparação constante pode ter efeitos prejudiciais, principalmente entre as mulheres.
“Ver essas influencers e seus corpos perfeitos gera um ideal de beleza inalcançável, o que afeta profundamente a autoestima de quem acompanha esses perfis”, ressalta a professora.
Por outro lado, a psicóloga Karen Scavacini, do Instituto Vita Alere, acredita que a internet pode ser tanto prejudicial quanto benéfica, dependendo de como é utilizada.
A psicóloga cita exemplos de plataformas que ajudam pessoas em sofrimento, oferecendo recursos como terapias virtuais e comunidades de apoio.
“Hoje, temos aplicativos e tecnologias que funcionam como aliados para o tratamento de transtornos mentais, como o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)”, afirma Karen.
Embora a tecnologia seja uma das maiores revoluções das últimas décadas, especialistas alertam para o uso consciente das plataformas digitais.
A professora Irena Duprat ressalta que é necessário equilibrar os benefícios da internet com seus riscos. “É inevitável que a internet faça parte da vida de todos. Ela traz muitos benefícios, mas, como tudo em excesso, pode ser prejudicial”, pondera Duprat.
Iniciativas como o projeto Cuca Legal, da Universidade Federal Fluminense (UFF), surgem justamente para promover essa conscientização.
Voltado para a saúde mental dos estudantes, o projeto oferece suporte psicológico e oficinas semanais, abordando temas como sono, ansiedade e o equilíbrio entre a vida acadêmica e pessoal.
Em momentos de crise, é importante que os estudantes e a população em geral saibam onde procurar ajuda.
Instituições como o Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende pelo telefone 188, oferecem suporte emocional para pessoas que estão passando por dificuldades.
Além disso, iniciativas como o Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio, reforçam a importância de falar abertamente sobre saúde mental.
A psicóloga Karen Scavacini lembra que o debate sobre o uso da tecnologia e a saúde mental deve se estender para além do mês de setembro.
“Quando falamos abertamente sobre o suicídio, temos a oportunidade de mudar as coisas em relação a ele. Devemos aproveitar este momento para refletir sobre nosso papel e expandir esse cuidado ao longo do ano”, conclui.
O desafio de equilibrar os benefícios da internet com a saúde mental é contínuo, mas a conscientização e a busca por um uso moderado das redes sociais podem ajudar a minimizar os impactos negativos dessa poderosa ferramenta.
Fonte: Agência Brasil
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