Doenças

Entenda o mês de conscientização da leucemia

Em 2024, 11.540 novos casos de leucemia devem ser registrados no Brasil. É o que apontam as estatísticas do Instituto Nacional de Câncer, para cada ano do triênio de 2023 a 2025.

Sem considerar os tumores de pele não melanoma, a leucemia é o sexto câncer mais frequente nas Regiões Norte, tanto em homens quanto em mulheres, segundo o INCA. No Pará, a estimativa prevê 320 casos novos e, em Belém, a previsão é de 80 casos.

Outro dado do INCA que chama atenção são os índices de mortes provocadas pela leucemia. O Atlas da Mortalidade por Câncer registrou mais de sete mil mortes em 2020.

Ou seja, cerca de 70% dos pacientes vieram a óbito no ano de 2020. É um dos percentuais mais altos entre os diversos tipos de câncer. Uma das causas principais é o diagnóstico tardio.

FEVEREIRO LARANJA

O mês de fevereiro foi escolhido para ser o mês de conscientização sobre a leucemia, para que as pessoas saibam mais sobre a doença e assim seja possível aumentar o diagnóstico precoce.

Todas as pessoas têm uma ‘fábrica’ de células sanguíneas no corpo. É a medula óssea – popularmente conhecida como tutano – porque ocupa a cavidade dos ossos.

É aí que são formados os glóbulos vermelhos (hemácias), os glóbulos brancos (leucócitos) e as plaquetas. Quando uma dessas células do sangue em formação sofre uma mutação, começa o câncer.

A leucemia atinge os glóbulos brancos do sangue, comprometendo o sistema de defesa do organismo. Essa célula anormal não funciona de forma adequada, multiplica-se mais rápido e morre menos do que as células normais.

Dessa forma, as células sanguíneas saudáveis da medula óssea vão sendo substituídas pelas células cancerosas. Essa produção inadequada deixa o organismo predisposto a infecções, anemia, hemorragias e outros problemas.

Para a leucemia ser desenvolvida são necessários dois eventos. O primeiro é a predisposição genética e o segundo, e mais complicado de ser determinado, são os fatores ambientais. Por exemplo, contato com substâncias químicas, radiação e presença de algumas infecções.

SINAIS E SINTOMAS MAIS COMUNS

  • Anemia
  • Fraqueza
  • Cansaço
  • Sangramentos nasais e nas gengivas
  • Manchas roxas e vermelhas na pele
  • Gânglios inchados, principalmente na região do pescoço e das axilas
  • Febre ou suores noturnos
  • Baixa da imunidade e infecções
  • Perda de peso sem motivo aparente
  • Desconforto abdominal (provocado pelo inchaço do baço ou fígado)
  • Dores nos ossos e nas articulações

Caso a doença afete o Sistema Nervoso Central (SNC), podem surgir dores de cabeça, náuseas, vômitos, visão dupla e desorientação.

Os sintomas podem parecer muito similares aos de doenças mais comuns, como a gripe. Por isso, todo paciente com sintomas como febre, palidez, fadiga e manchas roxas deve ser avaliado.

LEUCEMIA E SEUS SUBTIPOS

Conforme os glóbulos brancos afetados, a leucemia pode ser linfoide ou mieloide. Nos dois casos, pode se manifestar na forma aguda ou crônica.

  • Leucemia aguda: Quando as células malignas se encontram numa fase muito imatura e se multiplicam rapidamente, causando uma enfermidade agressiva.
  • Leucemia crônica: Quando a transformação maligna ocorre em células-tronco mais maduras. Nesse caso, a doença costuma evoluir mais lentamente, com complicações que podem levar meses ou anos para ocorrer.

Leucemias agudas são as mais comuns em crianças. Leucemias crônicas são mais comuns em idosos, acima de 60 anos.

DIAGNÓSTICO PRECOCE

O paciente deve fazer exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos.

“Como não há fatores de risco bem definidos, a melhor estratégia é a detecção precoce da doença, por meio dos sinais e sintomas suspeitos”. Diz a hematologista Iê Bentes Fernandes, do Centro de Tratamento Oncológico.

O principal exame de sangue para confirmação da suspeita de leucemia é o hemograma, para verificar se há aumento do número de leucócitos (glóbulos vermelhos). Outras análises laboratoriais devem ser realizadas, e a confirmação diagnóstica é feita com o exame da medula óssea (mielograma).

Doença de crianças e idosos – A leucemia não escolhe idade, mas quanto maior a idade, maior o risco de desenvolver leucemia. Todas as formas são mais comuns em idosos, exceto a leucemia linfoide aguda, que é mais comum em crianças.

A leucemia é o câncer mais comum em crianças e adolescentes, representando cerca de 1 em cada 3 tipos de câncer (28%).

A hematologista Iê Bentes Fernandes lembra que é importante fazer o acompanhamento da saúde das crianças, mas os pais não devem ficar alarmados.

“A leucemia em crianças e adolescentes é considerada rara, pelo número de casos registrados”, explica a médica. “Segundo a Organização Mundial de Saúde, uma doença é classificada como rara quando afeta até 65 pessoas em cada 100 mil indivíduos. No Brasil, o número de crianças e adolescentes com câncer é de apenas 16 para cada 100 mil habitantes”, calcula.

A estimativa do Inca, em números absolutos, é de 8.460 novos casos de câncer pediátrico (incluindo a leucemia) por ano, no triênio 2020-2022. Outro dado otimista é em relação às chances de cura.

“O resultado positivo no tratamento é alto. A leucemia tem chances de cura de cerca de 90% na maioria dos casos”, diz a hematologista.

Transplante de Medula Óssea – A campanha Fevereiro Laranja também é para incentivar as pessoas a se tornarem doadoras de medula óssea. O transplante de medula é uma das formas de tratamento nos casos de leucemias mais graves.

Para que esse procedimento possa ser feito, é preciso que a medula do paciente e do doador sejam compatíveis.

Procura-se essa compatibilidade primeiro entre os parentes mais próximos. Caso não seja encontrado ninguém, procura-se nos bancos de medula, como o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). No Pará, o Hemopa é responsável pelo registro.

“Achar alguém compatível é difícil. As chances de encontrar um doador compatível é de 1 em cada 100 mil e no Pará existem apenas 120 mil doadores cadastrados”, calcula a hematologista.

Para se tornar doador é necessário apenas realizar um cadastro no órgão que busca doadores no Brasil e nos registros estrangeiros, o chamado Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME).

Também é preciso ter entre 18 e 55 anos de idade, estar com a saúde em bom estado geral, não ter doença infecciosa ou incapacitante, não possuir diagnóstico oncológico, doenças hematológicas ou do sistema imunológico.

Romeu Lima

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