Até 40% das mulheres com endometriose têm dificuldades para engravidar

A endometriose é uma doença ginecológica que atinge cerca de 7 milhões de mulheres no Brasil, segundo a organização mundial da saúde, (OMS) Especialistas consideram a doença como a principal causa de infertilidade feminina.

Para falar sobre o assunto, convidamos a médica radiologista e diretora do primeiro centro de referência no diagnóstico por imagem da endometriose do estado do Pará, Izabela Pires Franco, que discutiu, em entrevista,  sobre o que é a endometriose, os principais sintomas e os desafios no diagnóstico da doença.

Front Saúde: Quais são as principais causas da endometriose?

Izabela Pires Franco: A endometriose é uma doença ginecológica benigna muito comum que afeta uma em cada dez mulheres em idade reprodutiva, ou seja, desde o período menstrual até a menopausa.  A endometriose se caracteriza por células semelhantes ao endométrio, que consiste no tecido que reveste o interior do nosso útero, que vão parar fora da cavidade uterina. Isso causa um processo inflamatório que gera aderência, que gera fibrose, causando dor e ao impacto na qualidade de vida da mulher. Essas células podem se implantar em vários locais na pelve e acometer vários órgãos, como a região atrás do colo do útero, os ovários, o intestino e a bexiga. É uma doença frequente e pode ter um impacto muito grande na saúde dessas mulheres.

F.S.: Quais são os principais sintomas da endometriose?

I. P. F.: O principal deles é a cólica menstrual, ou seja, aquela dor relacionada ao período menstrual. Tem uma característica muito importante, essa dor é progressiva, ou seja, ela piora com o tempo. Começa relacionada ao ciclo menstrual e com o passar do tempo, quando a gente não tem o diagnóstico precoce e um tratamento adequado, ela deixa de ser relacionada só ao ciclo menstrual e passa a ter uma característica mais acíclica, ou seja, ela passa a ser quase que diária.  A frequência e a intensidade da dor aumentam, diária e muitas vezes chega a ser incapacitante para a mulher. Outro fator que também é muito importante é dor na relação sexual. As pacientes chegam ao médico ginecologista, principalmente, com uma dor relacionada a profundidade, gerando um desconforto e tendo até que parar de ter a sexual. Como passar do tempo, quando não há um diagnóstico precoce e nem um tratamento, essa dor passa a ser mais frequente, com maior profundidade e a mulher passa a sentir dor no início da relação sexual. As dores ao evacuar, relacionadas ao período menstrual, também são sintomas. Como último sintoma e não menos importante é a dificuldade em engravidar. Mulheres que estão a pelo menos um ano tentando ter um bebê e não conseguem. Isso porque até 40% das mulheres que tem endometriose tem dificuldade para engravidar. E tem muitas mulheres que não tem uma queixa muito grande de dor, mas tem essa dificuldade. Até 60% das mulheres não chegam a apresentar os sintomas, mas tem a doença. Diante da suspeita clínica baseada nos indícios citados anteriormente e no exame físico do ginecologista, há a busca pela comprovação da doença e verifica qual o grau da doença.

F. S.: Como fazer esse diagnóstico precoce da doença?

I.P.F.:  São feitos dois exames: a ultrassom transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética da pelve com preparo intestinal. Um ponto importante esses exames precisam ser realizados por médicos que sejam especialistas em endometriose para que a gente possa ter um mapeamento mais específico. O ultrassom transvaginal com preparo intestinal é um método de primeira linha no diagnóstico e acompanhamento da endometriose. Ele é considerado o melhor método na investigação de casos mais iniciais, em casos acometendo o intestino, mais especificamente o reto e na pesquisa de aderência na pelve. Esse exame é diferente da transvaginal de rotina. É um exame específico que tem um preparo intestinal, que geralmente acontece na véspera do exame, que consiste em uma dieta leve e ingestão de laxante por via oral.  No dia do exame, a paciente fará uma limpeza do intestino para a retirada de gases e conteúdo fecal para avaliar muito melhor as estruturas da pelve. É um exame que dura cerca de 40 minutos no qual será feita uma avaliação minuciosa da pelve e da região superior  do intestino. Já a ressonância magnética é um exame de escolha para quem é virgem, para quem não pode fazer a transvaginal. Além disso, é considerado o melhor método para quem tem suspeita da endometriose acometendo o nervo e o diafragma, que é o músculo da respiração. Mas esses são casos raros. São métodos que se complementam e que seria o ideal para a mulher fazer, mas quando não é possível, a transvaginal, quando feito com um especialista, é considerado um método de primeira linha.

Você confere a entrevista completa pelo no nosso canal completa no canal Front Saúde no Youtube.

Alessandra Fonseca

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