Em 13 de julho o Ministério da Saúde anunciou uma parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), ligada ao Ministério da Educação, para levar o Aplicativo de Gestão para Hospitais Universitários (AGHU) a toda média e alta complexidade do SUS – a ideia é que alcance mais de 3 mil hospitais distribuídos pelo país e a expectativa é que haja uma economia de 2 a 3 bilhões de reais nos próximos 5 anos.
O AGHU é mais que um prontuário eletrônico. Ele engloba todo o sistema de gestão hospitalar, com controle de estoque e prescrição médica. Atualmente os 41 hospitais universitários administrados pela Ebserh utilizam o sistema, mas a meta é que seja levado para todo o sistema de saúde desse segmento de forma gratuita.
De acordo com o Ministério da Saúde, o objetivo é facilitar a integração de todos os hospitais com a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), para que, através do ConecteSUS, as informações de saúde do paciente sejam disponibilizadas aos cidadãos, assim como já ocorre com as vacinas hoje. Esse trabalho é desenvolvido pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, o Datasus.
“Antes de lançar à comunidade, 77 hospitais já haviam formalizado o pedido para utilizar o AGHU, através de cerca de 20 secretarias de saúde e universidades que os representavam. A cidade de São Paulo também demonstrou interesse em instalar o sistema em 400 unidades. Então, temos hoje essa perspectiva de utilização entre 450 a 500 unidades nessa primeira fase”, explica Giliate Cardoso Coelho Neto, diretor de tecnologia da informação da Ebserh.
Contudo, o processo de implementação pode levar de 1 ano e meio a 2 anos, já que existem sistemas que serão substituídos e é uma mudança complexa do ponto de vista de tecnologia. Da mesma forma, requer tempo para os profissionais de saúde se adaptarem ao novo aplicativo de gestão, principalmente sobre o uso do prontuário eletrônico.
Ainda, é necessário que cada vez mais municípios e estados solicitem a adesão ao sistema, assim como o Ministério da Saúde priorize a integração dos dados à RNDS, para que haja de fato uma comunicação entre os sistemas e o SUS. Dessa forma, ganha-se em eficiência para não realizar a repetição de exames e procedimentos, assim como os usuários poderiam acessar suas informações.
“Um sistema padronizado facilita a integração. Mas não podemos esperar a integração dos dados baseado na adoção de um sistema. Mesmo no SUS a gente não consegue fazer isso, temos muitos sistemas. Como a saúde é tripartite, os estados e municípios têm autonomia para a escolha do sistema”, explica Luis Gustavo Kiatake, diretor de relações institucionais da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS).
O AGHU é voltado para hospitais, de média e alta complexidade, mas os dados do Ministério da Saúde apontam que na atenção primária também não há um único sistema. De acordo com a pasta, 77% dos municípios usam o Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), 19,2% utilizam sistemas próprios e 3,8% não usam prontuário eletrônico.
“O AGHU está há mais de 10 anos nos hospitais da Ebserh. Ele é um prontuário eletrônico, mas é mais que isso. Faz a parte de gestão do hospital: almoxarifado, farmácia, controle de entrada e saída de profissionais e pacientes, escala dos médicos, gestão das internações”, explica o diretor da estatal.
O AGHU possui cerca de 3 milhões de acessos mensais e registro de 25 milhões de pacientes dos 41 hospitais universitários. A experiência na utilização do sistema chega ao SUS através de uma parceria interministerial para resolver o déficit de informatização na saúde pública, assim como facilitar a integração e trazer economia ao sistema.
Giliate aponta que o custo médio de implantação de um software privado é de 1,5 milhão de reais, o que acaba por dificultar a digitalização do SUS, principalmente na média e alta complexidade. Esse também é um dos motivos que leva a Ebserh estimar que os cerca de 3 mil hospitais façam a adesão ao sistema.
Além dos ganhos com recursos financeiros, o diretor explica que o ganho de eficiência também vem através da digitalização dos dados, com pedidos de exames, atestados e receitas médicas legíveis, evitando a popular “letra de médico”, que em alguns casos pode gerar confusões e dificuldade de entendimento.
“Os usuários vão poder entrar da sua casa e emitir uma segunda via de uma receita ou atestado. O AGHU permite isso. Sabemos que muitas vezes os pacientes perdem a receita ou expira a validade, e precisam ficar na fila só para renovar”, explica Giliate ao exemplificar o novo passo que o SUS dá em direção à digitalização do sistema de saúde. A informatização do sistema também é vista como uma possibilidade de reduzir erros no tratamento do paciente, já que há o histórico médico.
A melhoria do controle de estoque de medicamentos e dispositivos médicos é outra função do sistema que contribuiu para dar mais transparência e auxiliar os gestores a acompanharem o que há disponível ou em excesso no hospital. Dessa forma, é possível gerir de maneira a não haver desperdícios.
O diretor também aponta que a concentração dos dados de pacientes em um único sistema contribui para reduzir a fragmentação da saúde. Giliate avalia que por ser um programa de instalação local é considerado mais seguro, reduzindo os riscos de ataques hackers via internet.
“De uma forma geral, os secretário de saúde têm interesse em informatizar porque melhora a gestão de uma forma geral. Ele precisa de dados e sistema, seja para resolver um problema de um paciente ou seja para melhorar a transparência na sua gestão. É um processo agora que a gente vai iniciar uma disseminação segura”, explica o diretor.
O Ministério da Saúde e o Ministério da Educação anunciaram que o acordo prevê a criação de um Comitê Estratégico do AGHU para dar o suporte necessário aos hospitais para a implementação, manutenção e continuidade da utilização do sistema. Também está previsto a elaboração de um documento com diretrizes sobre a estratégia de capacitação e elaboração dos parceiros.
“Para instalar um sistema de gestão é necessário uma equipe técnica bastante capacitada, dirigente, que consiga dar o suporte adequado, consiga resolver os principais problemas apresentados pelos profissionais de saúde e realizem a instalação correta do sistema. O outro desafio é lidar com os sistema já existentes. Tem que tomar a decisão se vai continuar, descontinuar ou integrar com o AGHU”, afirma o diretor. A adesão dos profissionais e conhecimento para a utilização do sistema também é um ponto considerado desafio, que requer um período de adaptação.
De forma geral, o Ministério da Saúde afirma que a partir de outubro de 2023 os primeiros hospitais já devem utilizar o sistema. Giliate aponta que é possível que em 1 ano e meio já seja possível ver o impacto real na vida do usuário, principalmente conforme estados e municípios sigam firmando os acordos de adesão.
Hoje os hospitais não estão ligados à RNDS, mas possuem uma forma própria de integração. As informações dos pacientes estão disponíveis aos 41 hospitais universitários que fazem parte da Ebserh, o que facilita que pacientes que sejam atendidos em mais de uma unidade tenham seu histórico de saúde compartilhado, assim como torna mais eficiente a gestão dos profissionais. Não há previsão que esse sistema seja integrado aos hospitais do SUS de forma geral.
Ainda, há a necessidade de integração de outros sistemas ao AGHU para que os profissionais consigam reduzir o tempo gasto com preenchimento de formulários em diferentes plataformas. Giliate explica que cabe ao Ministério da Saúde criar os mecanismos necessários para essa integração.
A RNDS ganhou mais visibilidade com a pandemia de Covid-19, integrando os dados de vacinação da população, através das Unidades Básicas de Saúde (UBS), ao ConecteSUS, aplicativo do Ministério da Saúde onde é possível ver informações sobre os imunizantes aplicativos.
Ocorre que a inclusão de informações é um processo gradual e que vem sendo feito em etapas. Com 203 milhões de pessoas no país, sendo que a grande maioria utiliza exclusivamente o sistema público, integrar os dados da população é um desafio – mas que precisa ser encarado.
“É claro que é muito mais fácil que um software de governo se integra a RNDS porque é uma decisão de governo. Hoje nada obriga que softwares privados integrem, a não ser a demanda dos clientes. Se o AGHU se integrar a RNDS e ser utilizado em muitas unidades de saúde, naturalmente teremos mais integração. São passos”, afirma Luis Gustavo Kiatake.
O diretor da SBIS explica que antes de falar de integração é preciso digitalizar de forma adequada todas as unidades de saúde. Por isso, o passo dado pelo Ministério vai na direção correta, mas é preciso avançar gradualmente neste processo, com segurança das informações e elencando prioridades.
Kiatake ainda aponta que duas grandes informações para o atendimento à saúde estão sendo implementadas na RNDS: a mensagem de resumo de atendimento clínico e sumário de alta hospitalar. Previstas para 2020, foram adiadas por decorrência da emergência em saúde pública, mas começaram a tomar forma.
“Ainda está sendo bem definida computacionalmente, mas o padrão dela já foi publicado. Agora precisa ser testada e implementada nos sistemas. A partir do momento que o AGHU implemente essa funcionalidade, já temos o primeiro passo de integração com a RNDS”, afirma Kiatake. Em sua perspectiva, é provável que vejamos um piloto dessa integração nos próximos 6 meses.
Fonte: Futuro da Saúde
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