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Em estudo de universidades do Rio de Janeiro e Nova York, cobaias de laboratório com quadro da doença degenerativa apresentaram recuperação notável dos danos neurológicos.
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de Nova York descobriram que uma molécula sintética é capaz de reavivar funções cognitivas em camundongos apresentando quadro clínico semelhante à doença de Alzheimer.
Após receber ISRIB (integrated stress response inhibitor), que estimula a produção de proteínas, as cobaias foram submetidas a uma série de testes de memória, como orientar-se dentro de um labirinto. A síntese proteica no cérebro é essencial para o funcionamento correto dos neurônios e a consolidação da memória.
A substância restaurou tanto as funções cognitivas dos animais, quanto a produção de proteínas no hipocampo, a região cerebral com papel importante na memória episódica, que inclui a recordação de eventos, situações e experiências específicos. Os resultados em camundongos com quadros avançados comparáveis ao mal de Alzheimer foram semelhantes.
“De um modo geral, vimos uma restauração completa”, afirmou à DW Maurício Martins Oliveira, principal autor do estudo. “Um parâmetro ou outro pode não ter se restaurado, mas, no todo, podemos dizer que houve um resgate muito significativo da formação de memória nesses camundongos, em ambos os modelos que testamos.”
50 milhões sofrem de demência no mundo
Apesar de a doença de Alzheimer ter sido descoberta há mais de 100 anos, ainda não há uma cura para ela. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 50 milhões sofrem de demência no mundo, sendo o mal degenerativo crônico responsável por até 70% dos casos.
A OMS estima que até 2030 o total dos pacientes de demência chegará a 82 milhões, e a 152 milhões até 2050. Segundo o relatório Global Health Estimates, de 2019, a demência está entre as dez principais causas de morte.
Depois de estabelecer que nos cérebros dos pacientes de Alzheimer elementos-chave do mecanismo responsável pela produção de proteínas estavam esgotados, os cientistas do Rio de Janeiro e Nova York deduziram que a síntese proteica também pudesse estar comprometida.
“A formação de novas memórias exige a produção de novas proteínas, e sabe-se que a síntese proteica é interrompida nos modelos animais da doença de Alzheimer”, explicou o coautor do estudo Eric Klann.
A pesquisa mostrou que o ISRIB podia recuperar a capacidade de formar novas memórias, mas agora os cientistas se perguntam o que ocorreria se a droga sintética fosse ministrada antes que os sintomas neurológicos se apresentem.
“Uma questão natural que emerge desse estudo é: aplicando-se esse tipo de droga antes que comece a deficiência cognitiva, é possível impedir que ela sequer se manifeste?”, especula Martins Oliveira.
Ainda não aplicável em pacientes humanos
No cérebro dos pacientes de Alzheimer, níveis anormais da proteína precursora de amiloide (PPA) se aglutinam, formando placas de amiloide que se instalam entre os neurônios e prejudicam seu funcionamento. Dentro das células nervosas, encontram-se também acúmulos anormais da proteína tau, denominados novelos neurofibrilares.
Os tratamentos atuais de Alzheimer se concentram principalmente na redução dessas placas, novelos e da neuroinflamação, mas nas cobaias do atual estudo os danos à memória ocorreram antes da formação das placas de amiloide. “Não está claro se as próprias placas contribuem ou não para a doença, mas são um indicador dela”, diz Klann.
Os cientistas também constataram algumas modificações ainda não explicadas nas placas, mas não se detectaram mudanças mais significativas na formação ou no número de placas após a recuperação da memória.
Um dos problemas no tratamento de doenças cerebrais é o fato de o órgão se localizar dentro do crânio, com diversas barreiras impedindo o acesso a ele. Uma delas é a do sangue cerebral, intransponível para diversas moléculas, explica Martins Oliveira. “A vantagem do ISRIB é que ele consegue atravessar essa barreira e chegar ao cérebro, se injetado na periferia”, complementa.
Isso significa que pode ser ministrado no sangue ou no peritônio, a membrana revestidora da cavidade abdominal. Porém, apesar dessa capacidade, o ISRIB não pode ser empregado atualmente em humanos, por ter um certo grau tóxico para o fígado e o pâncreas.
No entanto já há empresas desenvolvendo moléculas semelhantes, anuncia Klann: “Sei que diversas companhias farmacêuticas e startups biotecnológicas estão se concentrando em produzir compostos como esse, capazes de atravessar a barreira do sangue cerebral, mas sem a mesma toxicidade.”
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