Manaus será palco da 1ª Jornada Multiprofissional de Cirurgias de Modificações Corporais em Pessoas Trans e Intersexo, um marco significativo para a saúde na Região Norte do Brasil.
Organizado pelo Ministério da Saúde em parceria com o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebseh) e à Universidade Federal do Amazonas (HUGV-Ufam), o evento ocorrerá de 27 a 31 de agosto de 2024.
Durante a jornada, vinte e três pessoas intersexo e trans passarão pelo processo de redesignação sexual, pela primeira vez realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na Região Norte.
Entre elas, três são indígenas intersexo. As cirurgias serão realizadas em três salas simultâneas por uma equipe de oito cirurgiões urológicos, selecionados pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
Este atendimento representa um avanço significativo no acesso a procedimentos de conformidade e redesignação sexual, que até então eram limitados e enfrentavam longas filas de espera.
A presença de três indígenas intersexo destaca a importância da inclusão e do reconhecimento das diversidades dentro das comunidades indígenas.
Ubirajara Barroso Jr., urologista responsável pelo atendimento aos pacientes indígenas, ressaltou os desafios enfrentados por essas pessoas, que muitas vezes são invisibilizadas e enfrentam exclusão social.
“Numa cultura completamente diferente, que tiveram problemas com relação a isso, que andam nus e são expostos a genitália desde cedo”, comentou Barroso Jr.
Além das cirurgias, a jornada também visa coletar informações para um estudo científico pioneiro sobre a vivência de indígenas intersexo, contribuindo para o conhecimento e a inclusão social.
Com a participação de 150 profissionais e acadêmicos, a jornada também incluirá palestras e minicursos para capacitar cerca de 150 profissionais das áreas de direito, serviço social e saúde, incluindo médicos, psicólogos, enfermeiros e fisioterapeutas.
Conceição Maria Guedes Crozara, presidente da comissão organizadora da Jornada, destacou que o evento promove o desenvolvimento regional, habilitando o HUGV para continuar atendendo a crescente demanda por cirurgias transexualizadoras na Amazônia Ocidental.
“Estamos descentralizando e replicando o conhecimento, nesse que é um procedimento que não é simples de fazer”, afirmou.
Apesar dos avanços, o acesso a cirurgias de redesignação sexual ainda é restrito no Brasil, com filas longas e baixa visibilidade para pessoas intersexo. Luiz Otávio Torres, presidente da SBU, afirmou a urgência de preparar o país para atender essa parcela da população com qualidade e acolhimento.
“É urgente que nosso país esteja preparado e possa atender com qualidade e acolhimento as pessoas intersexo e trans. E é nossa missão enquanto sociedade de especialidade promover e participar ativamente dessas ações que promovem o conhecimento e a inclusão social”, declarou Torres.
Ubirajara Barroso Jr. enfatizou a necessidade de capacitar cirurgiões locais para garantir a continuidade dos procedimentos.
“Não se acham médicos em qualquer região que sejam qualificados para isso, que é uma cirurgia muito específica. São poucos cirurgiões no Brasil que realizam este tipo de procedimento”, destacou.
A jornada representa um passo importante rumo à inclusão e ao atendimento adequado para pessoas trans e intersexo, especialmente na Região Norte, onde tais serviços ainda são escassos.
Além da participação presencial, equipes de saúde do interior, interessadas no encontro, poderão acompanhar as atividades por meio de transmissões ao vivo pelo canal do HUGV no YouTube.
Isso ampliará o alcance do evento, permitindo que mais profissionais se beneficiem do conhecimento compartilhado e contribuam para a melhoria contínua do atendimento no SUS.
Fonte: Agência Brasil
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