“Por cuidados mais justos”. Esse é o tema da campanha 2023/2024 do Dia Mundial do Câncer (4 de fevereiro), que é uma iniciativa global da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). A campanha tem o objetivo de promover ações de combate à doença e de conscientização.
O câncer pode atingir qualquer pessoa, mas está longe de ser uma doença democrática. Primeiro, porque é considerado uma doença da terceira idade, já que as pessoas mais velhas possuem maior risco de desenvolver. Em segundo lugar, pelas razões que justificam o tema da campanha desse ano.
Quando falamos em fatores de risco para câncer, pensamos logo em má alimentação, sedentarismo, obesidade, tabagismo, consumo excessivo de álcool e outros fatores relacionados ao estilo de vida. Mas questões como renda, educação, localização geográfica e discriminação com base na etnia, raça, gênero, orientação sexual, idade, deficiência são determinantes na equação que gera desigualdade no acesso aos serviços de saúde.
“Infelizmente, há um número enorme de pessoas que não podem contar com os cuidados adequados, que não recebem informações confiáveis sobre quais hábitos e comportamentos podem aumentar as chances de contrair a doença, não têm acesso aos serviços de saúde quando surgem os primeiros sintomas e nem recebem o tratamento e o apoio necessários”, explica a médica oncologista Paula Sampaio, do Hospital Barros Barreto e do Centro de Tratamento Oncológico.
Alguém que tem um estilo de vida saudável diminui em pelo menos 1/3 as chances de ter câncer. Quem se alimenta e dorme bem, pratica exercícios físicos regularmente, não fuma, não abusa do álcool tem chances menores de ter a doença. “Nós não podemos deixar de bater nessa tecla. Ter um estilo de vida saudável é fundamental e depende de cada um. Não depende do médico, de remédios, de nada que não seja de iniciativa própria. Mas é claro que nem todo mundo tem condições de ter uma vida assim e é por isso que o tema da campanha desse ano é muito importante. Temos que enxergar o panorama do câncer sob essa perspectiva socioeconômica também”, destaca a médica.
“É delicado falar sobre uma pessoa tão querida pelos brasileiros e que acabou de nos deixar, mas, pensando em prevenção, pensando nos milhões de brasileiros que sofrem e perdem a vida por causa do câncer, acho importante destacar que a Glória Maria, uma das mais importantes jornalistas da TV brasileira, teve câncer de pulmão e, pelo que sabemos, infelizmente ela fumava”, lamenta Paula Sampaio.
“O câncer de pulmão é o 3º de maior incidência do Brasil. São 30 mil novos casos por ano. E 90% dos casos tem relação direta com o tabaco. Isso prova a necessidade enorme que temos de falar sempre em prevenção primária, que são medidas que podem evitar o câncer. Não fumar é uma das mais importantes”, conclui.
“Datas como o Dia Mundial do Câncer são um convite para que as pessoas e organizações se esforcem para reduzir o impacto do câncer, especialmente nas regiões mais carentes, em desenvolvimento, onde há uma grande desigualdade de oportunidades. Cada um pode fazer a sua parte. As pessoas precisam fazer de tudo para adotar hábitos saudáveis. Temos que estimular a vacinação contra o HPV para crianças e adolescentes, homens e mulheres precisam fazer exames preventivos recomendados pelos médicos. Nesse caso, quando falamos de exames preventivos, estamos pensando em diagnóstico precoce, que também é algo importantíssimo. Quando não se pode evitar a doença, o que temos a fazer é descobrir cedo. Assim, as chances de cura são muito grandes”, lembra a médica.
Realidade brasileira – De acordo com as estimativas do INCA, o Brasil terá 704 mil novos casos de câncer diagnosticados por ano, no triênio 2023 a 2025. Isso representa um crescimento de 12,64% dos casos de câncer no Brasil, comparando com estimativa anterior (2020-2022). A nova Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil, apresentada pelo INCA, é alarmante porque reafirma o câncer como a 2ª causa de mortes por doença no mundo. A Organização Mundial da Saúde prevê que até 2030 o câncer vai ocupar o 1º lugar, ultrapassando as doenças cardiovasculares.
O tipo de câncer mais incidente no Brasil continua sendo o de pele não melanoma, com 220 mil novos diagnósticos (31,3% do total de casos). Mas apesar da quantidade, ele apresenta altos percentuais de cura e menor mortalidade, se tratado adequadamente. Por isso, não é considerado tão preocupante quanto os outros tipos de câncer.
O câncer de mama continua sendo o segundo tipo com maior incidência no Brasil, com 10,5% do total de diagnósticos. De 2023 a 2025, são estimados 73.610 novos casos a cada ano, contra 66 mil na estimativa anterior.
Entre os homens, o câncer de próstata é o 2º mais comum (depois do câncer de pele não melanoma), com 71.730 casos, representando 10,2% do total. Em seguida, o destaque é para os tumores de intestino e pulmão.
O INCA fez o levantamento das ocorrências para 21 tipos de câncer mais comuns entre os brasileiros, que pela incidência alta são considerados problema de saúde pública, pela gravidade e mortalidade. A estimativa aponta não só números dos tipos mais comuns de câncer que atingem os brasileiros. É também um mapeamento de como as condições socioeconômicas e culturais no país influenciam na incidência da doença. O ranking da Estimativa do Câncer no Brasil, do INCA, reflete as desigualdades no Brasil. Os números e os tipos de câncer retratam as grandes diferenças que existem entre as regiões do País. Os tumores mais comuns estão associados às condições de cada região.
texto da assessoria do CTO
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