Bem-estar

Brasil perde R$ 800 bilhões devido à enxaqueca, entenda

A enxaqueca, uma condição crônica caracterizada por fortes dores de cabeça e uma série de outros sintomas neurológicos, vai muito além de ser um problema de saúde.

Estima-se que, entre 2018 e 2022, a doença tenha causado um prejuízo de cerca de R$ 800 bilhões ao Brasil, colocando o país no topo da lista de perdas econômicas na América Latina.

Esses dados alarmantes foram revelados por um estudo conduzido pelo instituto WifOR, que avaliou o impacto socioeconômico da doença em oito países latinos.

PERDAS ECONÔMICAS SIGNIFICATIVAS

O estudo, solicitado pela Federação Latino-Americana da Indústria Farmacêutica (Fifarma), apontou que o Brasil foi responsável por mais da metade do prejuízo total registrado nos oito países analisados, que juntos somaram US$ 304,9 bilhões (R$ 1,7 trilhão).

Apenas em 2022, o impacto econômico da enxaqueca no Brasil chegou a R$ 168 bilhões, representando 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Essa doença crônica não apenas afeta o bem-estar de quem sofre com ela, mas também a economia, já que a produtividade dos trabalhadores é severamente comprometida.

Em média, uma pessoa com enxaqueca perde 19,5 dias de trabalho por ano devido a crises incapacitantes.

Além disso, a prática do presenteísmo – quando o funcionário vai ao trabalho, mas não consegue exercer suas atividades de forma eficaz devido à dor – agrava ainda mais as perdas.

Segundo os pesquisadores, o impacto do presenteísmo na produtividade chega a ser maior do que o absenteísmo, quando o trabalhador falta ao serviço.

ENXAQUECA E DESIGUALDADE DE GÊNERO

Outro dado importante revelado pelo estudo é que a enxaqueca afeta de forma desproporcional as mulheres.

Cerca de 63% dos 31,4 milhões de brasileiros que sofrem de enxaqueca são do sexo feminino.

Entre as razões para essa prevalência maior entre mulheres estão fatores hormonais, como as variações nos níveis de estrogênio durante o ciclo menstrual, que podem desencadear crises mais intensas e frequentes.

Além disso, as múltiplas responsabilidades atribuídas às mulheres, que acumulam muitas vezes as funções profissionais e domésticas, contribuem para o aumento dos níveis de estresse, um dos principais gatilhos da enxaqueca.

A sobrecarga emocional e física vivida por muitas mulheres agrava ainda mais os efeitos da doença, resultando em dias de trabalho perdidos e uma redução significativa na qualidade de vida.

A ENXAQUECA NAS CLASSES VULNERÁVEIS

Outro aspecto relevante apontado pelo estudo é o impacto da enxaqueca nas populações economicamente vulneráveis.

Pessoas de baixa renda estão mais expostas a fatores que desencadeiam crises, como dieta inadequada, sedentarismo e maior exposição ao estresse.

Além disso, os trabalhadores informais e de baixa renda têm mais dificuldade de acessar tratamentos adequados e, quando incapacitados, enfrentam grandes perdas financeiras por não contarem com proteções trabalhistas, como o auxílio-doença.

Os dados revelam que, para compensar as perdas econômicas causadas pela enxaqueca, cada brasileiro com mais de 15 anos teria que adicionar 4,3 dias extras de trabalho à sua vida produtiva.

DESAFIOS NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Apesar da alta prevalência da enxaqueca no Brasil, o diagnóstico e o tratamento eficazes ainda são um desafio para grande parte da população.

A pesquisa mostra que os pacientes levam, em média, de 7 a 10 anos para receber o diagnóstico correto.

Muitas pessoas convivem com a doença sem saber que sofrem de enxaqueca ou sem acesso a tratamentos adequados. Apenas 40% dos casos no Brasil são diagnosticados e tratados de forma correta.

Entre as principais barreiras para o tratamento estão o difícil acesso a especialistas e os altos custos dos medicamentos, que muitas vezes são abandonados pelos pacientes.

Cerca de 50% dos pacientes deixam o tratamento após seis meses, e mais de 80% abandonam após um ano.

TRATAMENTOS INOVADORES TRAZEM ESPERANÇA

Nos últimos anos, a ciência tem avançado na busca por tratamentos mais eficazes contra a enxaqueca.

Medicamentos preventivos e agudos, como triptanos, anticorpos monoclonais e a aplicação de toxina botulínica, estão entre as opções que têm se mostrado promissoras no alívio das crises.

No entanto, muitas dessas terapias têm um custo elevado, o que limita o acesso para uma parte significativa da população brasileira.

O uso de anticorpos monoclonais, por exemplo, tem sido uma das alternativas mais eficazes no combate à enxaqueca, com resultados notáveis para pacientes que experimentaram esse tipo de tratamento.

ENXAQUECA: UMA CONDIÇÃO DEBILITANTE

A enxaqueca é uma condição debilitante que vai além das dores de cabeça. Além dos sintomas físicos, como náuseas, vômitos e sensibilidade à luz, muitas pessoas sofrem com a aura, que consiste em alterações visuais e sensoriais antes das crises.

A sensação de impotência durante as crises é uma realidade compartilhada por muitos pacientes, que relatam dificuldades para manter suas rotinas de trabalho e vida pessoal.

A enxaqueca, muitas vezes, exige que os indivíduos interrompam todas as atividades e busquem um ambiente escuro e silencioso até que os sintomas diminuam.

Fontes: Folha de São Paulo, Veja e Olhar Digital

Romeu Lima

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